24 Horas de Le Mans: mais números

RIO DE JANEIRO – Ser rápido numa 24 Horas de Le Mans é coisa para poucos. Aliar velocidade a outros fatores como uma boa estratégia, uma trinca que tenha o mesmo ritmo, competência e uma boa dose de sorte é meio caminho andado para a consagração.

O blog traz nesta sexta-feira, no rescaldo da mítica corrida francesa que vocês puderam acompanhar no Fox Sports, alguns números para ilustrar a vocês leitores como foi a performance de cada um dos pilotos que completou pelo menos uma volta durante a prova.

Começamos pela classe LMP1.

LMP1

O gráfico nos exibe a média das 20 melhores voltas por piloto na primeira coluna e o tempo mais rápido de cada um deles na segunda (não se espantem, os números aqui estão em segundos percorridos por volta, ok?). Para nenhuma surpresa, seis dos nove pilotos da Toyota encabeçam a relação, com Sébastien Buemi tendo sido o melhor piloto em termos de velocidade – até porque depois do problema do motor híbrido dianteiro de seu carro, ele pôde sentar a borduna e fazer a volta mais rápida em 3’18″604, com Anthony Davidson, um de seus companheiros de equipe, bastante próximo.

Reparem também que, mesmo muito rápidos, Kobayashi e Pechito López andaram pouco em seus carros em comparação a Mike Conway – e que na trinca vencedora, as diferenças de tempo foram razoavelmente pequenas: 0″752 na média global das 20 melhores voltas e 0″551 de Timo Bernhard para Earl Bamber, com o detalhe que Brendon Hartley foi apenas UM MILÉSIMO DE SEGUNDO mais lento que o companheiro de equipe em sua volta mais rápida em prova.

O alemão da Porsche foi também o piloto que mais voltas completou – 159, correspondendo a 43,3% do total percorrido pelo Porsche vencedor ao longo da disputa. Descontando o fato de que o protótipo perdeu 1h05min parado, esse percentual em relação a tempo de pista aumenta decisivamente. Daí a gente entende as lágrimas de Bernhard ao fim da disputa em que o carro chegou a cair para 57º e venceu.

Seguimos agora para a divisão LMP2.

LMP2

Em que pese a desclassificação de seu carro mais bem posicionado ao final da disputa, a Rebellion tinha o melhor equipamento na pista. Isso foi provado pelas melhores voltas em ritmo de prova dos dois brasileiros – Nelsinho Piquet foi o mais rápido da equipe com 3’28″785 e Bruno Senna o segundo, em 3’29″072. Mas a sólida performance dos pilotos do #38 da Jackie Chan DC Racing talvez explique o triunfo da equipe assistida pela Jota Sport.

Thomas Laurent foi a maior surpresa dentre todos os nomes da categoria. Foi rápido o tempo inteiro (aliás, o mais rápido do carro vencedor) e foi o que mais voltas e portanto quilômetros percorreu entre os integrantes de sua trinca. Poderia ter sido o elo mais fraco entre os pilotos do #38 e acabou provando exatamente o oposto. Dos pilotos de graduação inferior, foi o que teve melhor desempenho. E Ho-Pin Tung fez a melhor volta da categoria ao longo da disputa – 3’28″632.

A realçar, também, a superioridade de ritmo de corrida de todos os brasileiros em relação a seus companheiros de equipe, com André Negrão se constituindo noutra revelação da corrida, completando um total excelente de voltas e virando mais de meio segundo – na média das 20 melhores voltas – melhor que Nelson Panciatici. Nelsinho Piquet saiu das 24 Horas como o piloto que mais voltas cumpriu: foram 170 no total, correspondendo a 46,7% do percurso. O mais próximo dele foi Jean-Éric Vergne, com 168.

Vamos para os pilotos da LMGTE-PRO.

LMGTE-PRO

Na classe mais equilibrada de todas, onde 11 de um total de 13 carros inscritos ocuparam a liderança pelo menos uma vez, perfazendo incríveis 51 trocas de liderança até o desfecho final, Daniel Serra foi o grande nome da corrida – indubitavelmente. Novo recordista da pista para a categoria, com 3’50″950, saiu também como o piloto com a melhor média das 20 melhores voltas durante a corrida – 3’52″134, mostrando além de constância, uma maturidade que poucos europeus imaginavam que ele tivesse. Serrinha foi superior a muita gente que já guiou mais de uma vez na pista e que conhece seus carros até o último parafuso.

Outro destaque é a regularidade do trio do carro #68, que recuperou das últimas colocações no início para terminar em 6º lugar no geral. E o bom desempenho de Tony Kanaan que, mesmo tendo sido 0″005 pior que Dirk Müller na sua melhor volta em prova, foi superior ao companheiro no que tange à média de 20 passagens, o que é bastante significativo. Tony também conseguiu um total de 115 voltas e foi o brasileiro que mais andou na LMGTE-PRO.

Pipo Derani fez sua melhor passagem em ritmo de corrida com o tempo de 3’52″649. Agora, a média das voltas mais rápidas dele foi 3’53″116, o que mostra toda a sua regularidade ao longo de seus stints, que somaram 96 giros no total. Tem mais: 29 dos 39 pilotos que largaram na divisão ficaram dentro do mesmo segundo na média do top 20, o que mostra o quão a categoria é equilibrada e competitiva.

Por fim, Sam Bird acabou como o piloto que mais andou na divisão – 144 voltas.

Finalmente, a turma da LMGTE-AM.

LMGTE-AM

Aqui, com a melhor volta marcada por Rob Bell em 3’53″320, o piloto mais regular foi o estreante Euan Hankey, o que não deixa de ser uma gratíssima surpresa. O britânico da TF Sport conseguiu a melhor média de 20 voltas mais rápidas – 3’54″849, superando o brasileiro Fernando Rees, que teve bom desempenho enquanto andou e fez 3’54″995 na média, além de ter feito a quarta volta mais rápida da disputa.

Mas apesar da proximidade de desempenho mostrada na planilha por alguns pilotos – a média das melhores 20 voltas de Mathias Lauda, por exemplo, foi surpreendentemente próxima a de Pedro Lamy – os problemas e as discrepâncias de desempenho saltaram aos olhos. Christian Philippon, companheiro de Rees na Larbre Competition, conseguiu ser o pior piloto na pista, descontando o fato de que Khaled Al Qubaisi completou apenas 18 voltas.

O francês deu 87 giros no total. Sua melhor volta foi 4’08″476, quase cinco segundos pior que o melhor tempo do suíço Thomas Flöhr. Na média do top 20 de voltas, Philippon ficou com 4’13″160. Nem Richard Wee foi tão lento: o piloto de Cingapura fez a melhor volta dele em 4’01″391 e a média de suas 20 melhores voltas foi 4’03″908. O oriental mostrou evolução. O gaulês, nem isso.

Entre os pilotos bronze, Paul Dalla Lana foi o mais rápido – 3’54″775, bem mais rápido que muito piloto experiente na pista e na carreira como piloto de competição. Matt Griffin foi o que mais voltas percorreu – 153 no total, correspondendo a pouco mais de 45% do total percorrido pela Ferrari da Clearwater Racing, que novamente conquistou um resultado bastante honesto em sua segunda participação nas 24 Horas de Le Mans.

Comentários

  • Grande trabalho Rodrigo. Fica claro pra quem quiser ver, que o desempenho dos brasileiros foi excelente. Alguns nomes nem são tão conhecidos do grande público, e fizeram uma corrida magnifica. Mais especificamente, estou citando o REES, que quem não acompanha Endurance, nunca deve ter ouvido falar, e do SERRA, que algumas pessoas até já devem ter ouvido falar, mas não tem dimensão da qualidade de piloto que ele é. Isso sem citar, o N.Piquet, o B.Senna, o Derani, o Kanaan e o Barrichello, que andaram muitíssimo bem. Enquanto temos q aguentar a Rede MALA de Televisão só citar o Senna. Triste.
    No geral, foi uma grande corrida para os Brasileiros.

  • Assim como o Carlos citou, gostaria de comentar que salta aos olhos o desempenho de todos os brasileiros em comparação com os europeus que conhecem melhor os equipamentos, os carros, as equipes, as pessoas e a pista.

    Obrigado Mattar pelos dados! Só no seu blog mesmo!

  • Muito legal! Estou surpreso com o bom desempenho dos pilotos brasileiros em Le Mans. Só achei injusta a desclassificação do carro do Nelson Piquet Jr. Parabéns pelo texto.

    • Claudio, aos olhos do público pode parecer injusto, mas está na regra: havia peças homologadas que a Rebellion acabou deixando fora do regulamento. O capô do motor não tem buraco algum para se acessar o motor de arranque com a ajuda de um martelo ou de terceiros. Isso é bem claro.

  • Os Brasileiros já deveriam conhecer mais o trabalho que o Fernando Rees faz já à algum tempo na GT e pelo que falou hoje o Lito durante o 2º treino da F1 a Aston Martin o leve de volta ao Team.

    • tomara, marco!
      o rees me parece o tipico piloto de qualidade, mas sem grandes patrocinadores por tras, o que dificulta muito. espero que (mais) essa boa performance o leve de volta a equipes de fábrica

  • Excelente. Dá a noção não só ao espectador, mas também aos próprios pilotos, como foi o desempenho na prova. Mostra que realmente temos pilotos em totais condições de vencer no endurance.
    Mais uma vez, com todo o respeito que tenho pela Stock Car, mas Daniel Serra e Rubens Barriquello (que já compete no ELMS…), entre outros, são pilotos para serem protagonistas no WEC.

  • Rodrigo,

    Espetacular essa informação. Sabia que você ia conseguir !!!! Valeu !!!
    Só serviu pra confirmar aquilo que já achavamos: 1) na P2 o Nelsinho foi rapidissimo, foi constante e guiou muito tempo. Isso só reforça a ideia dele ser um piloto excelente. Mas outros também andaram muito bem, como o Bruno e o Negrão. 2) na GTE-Pro, o Serra foi fantástico, e fica patente que houve um equilíbrio muito grande entre todos os pilotos e carros. Mas essa tabela também mostra que os Aston eram efetivamente um pouquinho mais rapidos que os demais carros na pista. 3) Na P1, mostra o quanto o Toyota 8 foi rápido, depois dos reparos. De fato, nas ultimas, digamos, 10 horas, era o carro mais rápido da pista. 4) na GTE-AM me surpreende a media de voltas da Christina Nielsen, em bora em termos de volta rapida ela não tenha sido tão impressionante. O Rees também andou muito bem. Ele é piloto pra estar na PRO.

    Sem duvida que os grandes destaques individuais da prova foram o Nelsinho e o Daniel Serra.

    Me surpreendeu a constância e a rapidez do Tony, fato que eu não percebi durante a prova. E ao contrario, pelo que vi, pensei que o Derani iria aparecer entre os mais rápidos pilotos da Ford, o que não se comprovou. Talvez porque na parte em que a TV mostrou mais ele pilotando (muito rapido e passando todo mundo), tenha sido na parte inicial da prova, quando a maioria ainda não estava “descascando”.

    Mais uma vez, excelente a informação Rodrigo !,
    Obrigado.