Camber, 50 anos

Uma oficina que se tornou lenda por revelar três pilotos que chegaram à Fórmula 1 e por colecionar alguns bons resultados com um protótipo construído com restos de um Fusca capotado. Esta é a Camber, que completa meio século em 2017 e que teve, entre seus fundadores, Alex Dias Ribeiro (em pé, à direita da foto)

RIO DE JANEIRO – Para minha geração, os automóveis sempre foram – e continuarão sendo – uma paixão. Teve uma outra turma, alguns anos mais velha, que misturou as duas coisas lá em Brasília e na então recém-criada Capital Federal, no ano de 1967, formou uma oficina mecânica que, sem que ninguém tivesse a menor intenção no início, nos revelou três pilotos de Fórmula 1 (um deles, tricampeão do mundo) e muitos outros personagens do esporte em 50 anos.

Claro, refiro-me à oficina Camber, que completou meio século de existência, festejados como a data realmente merece, nesta terça-feira lá em Brasília.

Da paixão de Heládio Monteiro Toledo Filho, João Luiz da Fonseca, Alex Dias Ribeiro e Zeca Vassalo, muito mais do que uma referência histórica da cidade, nasceu também um dos carros mais carismáticos e igualmente lendário: o protótipo Camber, rebatizado por muitos como “Patinho Feio”. E garanto que tem gente que diz que Patinho Feio era um carro que foi concebido aqui no Rio de Janeiro.

Sem brigas, rapaziada… há espaço para dois. E nenhum quer usurpar a história do outro.

O protótipo Camber foi construído sobre um chassi de um Volkswagen 1200, aproveitando os restos de outro Fusca – no caso, um carro capotado pelo dr. Isaac, pai de Alex Dias Ribeiro. Com uma ajudinha do funileiro Moyses, saiu daquela oficina um monte de lata que fez a turma morrer de rir quando o carro entrou no grid dos 500 km de Brasília em 1967, pelas mãos de Alex, então um aspirante a piloto profissional que tinha 19 anos na época e por João Luiz da Fonseca.

As posições de largada foram definidas por sorteio: coube aos dois a bolinha 33, do 33º – e último – lugar do grid. Isso não foi empecilho para que o estranho carro terminasse em segundo lugar. Foi o início de uma bonita história que durou até 1972 e o protótipo Camber, mesmo com sua aparência insólita, era competitivo e colecionava bons resultados. Correu em diversas pistas (inclusive no antigo Autódromo do Rio de Janeiro) e até Nelson Piquet, em início de carreira, andou nele – e consta que até venceu a bordo do carro numa prova regional, em Goiás ou Brasília, não estou certo. Roberto Pupo Moreno, parte da história da Camber, não chegou a guiar o protótipo porque não tinha idade legal. Menor de idade, o Baixo adorava motocicletas e era um excelente mecânico delas.

Mudando de assunto: hoje quem acompanha a Fórmula 1 sabe que os carros da categoria máxima têm o infame DRS. O protótipo Camber, 50 anos antes, já trabalhava com asa móvel – e contudo não era o único carro dos anos 1960 com esse artefato, pois o lendário Chaparral de Jim Hall também era dotado desta inovação.

O nosso Flavio Gomes foi para BSB preparar material para o Fox Nitro e para outras reportagens que o Fox Sports vai apresentar até o fim do ano. Hoje ele fez uma “live” no Facebook e pude perceber, no tempinho que ele ficou lá gravando ao vivo no Brasília Palace Hotel, toda a emoção que ele sentiu ao ver essa autêntica lenda das pistas diante de seus olhos. A quilômetros de distância, também me vi e senti igualmente emocionado. Um sentimento que poucos podem mensurar.

Vida eterna à Camber e ao Patinho Feio.

PS.: aguardamos o documentário que estava em produção. Alguém sabe se realmente será finalizado e lançado?

Comentários

  • Complementando, Rodrigo:
    Inclusive na F1, Ferrari pelo menos, foi usada a asa móvel na mesma época.
    As coisas só foram parametrizadas após os acidentes de Montjuich/69.

    • Sobre asa móvel existe a história de uma dupla de irmãos que queria correr com um artefato desses instalado num Porsche nos 1000 km de Nurburgring de 1956, mas a engenhoca foi vetada. O Chaparral veio anos depois. Na F1 além de Ferrari, Matra, Lotus e Cooper usaram asas móveis com variados sistemas. Até seria interessante alguma explicação de como funcionava no Patinho Feio.

      E ainda sobre a Camber, lembro da história do Piquet, que se interessou por mecânica pela falta do que fazer da juventude na capital nos anos da ditadura. Mas explicou isso do jeito Piquet, usando outras palavras…. Mas pensando assim, sobre o ócio produtivo, criou-se uma linda história.

  • Mais uma história que daria um belo filme… e nacional!!!! Pena que por aqui os “cineastas tupiniquins” preferem rodar filmes do tipo “comédia romântica”, onde só mudam os nomes dos personagens…

  • Bacana lembrar a Camber e o “Patinho Feio” (o nome começou mesmo com o do Rio, pilotado pelo Achcar, um formula ve alargado e com mini-paralamas, e depois, generalizou, kkkk).

    Zé Maria, não foi só a Ferrari que usou aerofolio movel, a Lotus também. E não tenho total certeza, mas acho que a Brabham também chegou a usar.
    Por falar em Jim Hall, muitas das coisas que fizeram sucesso na F1 (e que a Lotus/Chapman levam a fama de pioneiros), forma introduzidas por ele. Lembrem que ele foi o primeiro a usar aerofolio alto, aerofolio movel, mini-saias pra criar pressão negativa embaixo do carro (auxiliado pelos 2 exaustores). Chapman so aperfeicoou o conceito, eliminando o exaustor e aplicando o venturi. Gordon Murray aplicou o exaustor na Brabham (e venceu 1 corrida), mas esse logo foi banido por ser um “atirador de pedras” em quem vinha atras. Vale lembrar ainda que os Chaparral usavam cambio automatico ! Pra mim, Jim Hall efetivamente foi um grande inovador nas corridas de carro. Ele também foi um dos primeiros a usar carenagem de “plastico”/fibra.

  • Olá, sobre o documentário, “o fantástico patinho feio”, ele será lançado dia 21 de setembro, as 18:30, no cine Brasília, dentro do Festival de Cinema de Brasília. Aguardo todos lá!!! abraço

  • Visitando esta página depois de assistir ao documentário que, pra quem não sabe, está disponível no Amazon Prime, e só esse filme valeu a assinatura. Que bela história de uma época totalmente romântica que não volta mais.