Especial Boesel 30 anos, parte VII – Brands Hatch

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RIO DE JANEIRO – Após a ducha de água fria que foram as performances em Le Mans e em Norisring, dois eventos absolutamente díspares, a Jaguar tinha como objetivo retomar a sequência de vitórias que poderiam ofertar ao construtor britânico o Mundial de Endurance na competição entre as marcas e assim devolver Raul Boesel ao jogo do título entre os pilotos. Vencer a 7ª etapa marcada para Brands Hatch, na segunda passagem do World Sportscar Championship em terras britânicas passava a ser obrigação dos comandados de Tom Walkinshaw.

Para a Shell Gemini 1000 km, nome pomposo para o evento a ser realizado no tradicional circuito de 4,207 km de extensão, foram inscritos 39 carros entre titulares e reservas. No mesmo fim de semana do evento do Mundial de Endurance, era realizado o GP da Alemanha de Fórmula 1 em Hockenheim e isto significou a segunda ausência de Eddie Cheever a bordo do carro #4, o que poderia definitivamente abrir a possibilidade de Raul vencer o campeonato sozinho. Assim como nos 1000 km de Monza, o parceiro do brasileiro seria o dinamarquês John Nielsen.

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Jan Lammers e John Watson levaram a pole, tinham o melhor carro e dominaram a disputa até que um problema mecânico os tirou de contenção

E com a equipe Porsche AG definitivamente inativa após a corrida de Norisring, a Joest Racing foi o abrigo encontrado por Derek Bell e Hans-Joachim Stuck para que a dupla continuasse na luta pelo campeonato. Mas eles não foram páreo para os XJR-8 durante os treinos: o carro #5 de Jan Lammers/John Watson levou a pole position com o tempo de 1’14″44, apenas três décimos adiante do bólido de Boesel/Nielsen e quebrando o antigo recorde da pista, pertencente à equipe Lancia-Martini.

“Não temos mais nenhum apoio do fabricante. O suporte da Porsche agora é quase zero. Somos os únicos da marca a lutar pelo título e seria bom que tivéssemos algum esforço para nos dar a possibilidade de seguir na briga”, esbravejou Stuck.

Em contrapartida, a Britten Lloyd Racing vivia seu melhor momento no campeonato, após a vitória de Norisring. O Porsche 962 GTi, extensamente modificado pelo engenheiro Nigel Stroud, que algum tempo depois projetaria o Mazda campeão das 24h de Le Mans de 1991, era o carro mais leve do lote dos protótipos do Grupo C1. Tinha 17 kg menos que os Jaguar XJR-8, o que numa pista técnica como a de Brands Hatch poderia fazer alguma diferença – mas não muita, pois o motor era um 2,8 litros turbo e não havia os melhoramentos de fábrica que a equipe Rothmans Porsche dispunha até Sarthe e depois em Norisring com as cores da Dunlop.

Na corrida, assistida por um público calculado em 35 mil espectadores, Lammers tratou de disparar na frente do pelotão de 31 carros que deu a largada para os 1000 km de Brands Hatch. O holandês andou tão rápido no início que no fim da primeira hora tinha mais de 40 segundos (mais de meia pista) à frente de Mauro Baldi, enquanto Hans Stuck estava em terceiro, uma volta atrasado. O ritmo de prova do Jaguar líder era claramente superior, com Lammers virando na casa de 1’16” e registrando o novo recorde para a pista britânica em 1’16″44.

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Sorte de campeão? Numa disputa com Mauro Baldi (à frente), Raul Boesel foi fechado, rodou, saiu da pista e perdeu quase 12 voltas. Mesmo assim, ele e John Nielsen se recuperaram para chegar a uma importante vitória que deixou o brasileiro na liderança do campeonato

Raul Boesel passou por um pequeno percalço logo no início: o brasileiro tentou uma manobra de ultrapassagem sobre o Porsche de Baldi e o italiano fechou-lhe a porta, provocando uma rodada do Jaguar. Como resultado, veio uma parada não programada e o carro #4 chegou a aparecer onze voltas e meia atrás dos líderes e companheiros de equipe. Com pit stops totalmente fora da sequência dos adversários, o brasileiro e John Nielsen vieram alucinados e recuperando o tempo perdido. Além de tudo, tiveram muita sorte, pois o #5 de Lammers/Watson teve um crônico problema de rolamento de roda e acabou igualmente se atrasando, perdendo cerca de nove voltas.

Sorte de campeão? É, quem sabe…

Apesar da ótima corrida, Baldi e seu companheiro Johnny Dumfries foram incapazes de impedir que Raul e Nielsen emergissem para a liderança e controlassem a vantagem – que chegou a 1min13seg – até o final das 238 voltas previstas, percorridas em pouco mais de 5h30min. Com Lammers/Watson a nove voltas e Stuck/Bell a dez, a dupla do Jaguar número #4 enfim cruzou a linha final, proporcionando a quinta vitória no ano para a equipe TWR e a terceira de Boesel, num momento absolutamente crucial do campeonato.

Com os 20 pontos somados em Brands, Raul chegava a 90, superando Stuck/Bell por seis pontos. Restando ainda três etapas em Nürburgring, Spa-Francorchamps e Fuji Speedway, a partir daí haveria o descarte dos três piores resultados. Todo ponto seria, a partir daí, revestido de fundamental importância – melhor se viesse em forma de triunfo, é claro.

No Grupo C2, em novo duelo (que surpresa…) entre Spice Engineering e Ecurie Ecosse, venceu esta última. O carro #102 de David Leslie/Ray Mallock fechou a disputa em 7º lugar, uma volta à frente de Fermin Velez/Gordon Spice. Como curiosidade, ambos os carros tinham como característica principal a enorme economia de combustível. De uma cota de 510 litros prevista para os 1000 km de Brands Hatch, ambas as tripulações usaram 310 litros de gasolina, fruto também da sólida e confiável performance dos bons e velhos motores Ford Cosworth, que no Endurance tinham a sigla DFL, além de diâmetro e curso de pistões modificados para trabalhar com 3,3 litros de capacidade cúbica.

Naquela altura, Velez/Spice tinham 130 pontos contra 115 dos rivais Mallock/Leslie – ainda sem os descartes dos piores resultados.

Próximo post: Nürburgring.

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