6h de Fuji: Toyota sobrevive à corrida “aquática”, faz dobradinha e adia decisão no WEC

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Alívio: Anthony Davidson e Sébastien Buemi abraçam Kazuki Nakajima. A vitória nas 6h de Fuji garantiu uma sobrevida para a Toyota na disputa contra a Porsche, que lidera entre construtores e pilotos na classe principal do FIA WEC (Foto: FIA WEC/Site Oficial)

RIO DE JANEIRO – A disputa das 6h de Fuji no último domingo foi daquelas que dificilmente os pilotos do FIA World Endurance Championship esquecerão. Talvez o final de semana mais difícil que eles enfrentaram ao longo da história da categoria, recriada em 2012. Chuva inclemente e neblina incessante durante praticamente todo o evento. Na corrida, situações climáticas terríveis, determinando slow zones, entradas do Safety Car e pelo menos duas bandeiras vermelhas – a última acabou por determinar o fim da disputa após cerca de 4h25min e apenas 113 voltas completadas – pelo menos a corrida não foi fake como a de 2013, com apenas dezesseis voltas percorridas, todas em regime de carro de segurança.

As bandeiras amarelas e vermelhas foram o ponto chave da vitória inesperada da Toyota – e em dobradinha – na 7ª etapa do WEC. Os carros do construtor japonês não venciam desde as duas primeiras corridas da temporada e o triunfo do carro #8 de Sébastien Buemi/Kazuki Nakajima/Anthony Davidson mantém vivas as esperanças de conquista de um título improvável entre os pilotos – já que a diferença entre Buemi e Nakajima (Davidson não correu em Austin) é de 39 pontos para Earl Bamber/Brendon Hartley/Timo Bernhard, que podem levar a taça na próxima etapa em Xangai. São 52 pontos em disputa e só um milagre daria aos pilotos da Toyota Gazoo Racing a chance de reverter o quadro amplamente favorável aos pilotos da casa de Weissach.

Aliás, o resultado da trinca líder do Mundial foi surpreendente. Ninguém esperava que terminassem na quarta posição, quanto mais uma volta atrasados: um erro de estratégia foi determinante para que o trio perdesse contato e qualquer outra possibilidade de lutar por pelo menos um lugar no pódio.

A corrida, em que pese as terríveis condições climáticas, foi excelente e cheia de disputas em todas as categorias. A Porsche viu que teria dificuldades – como de fato teve – na briga contra a Toyota e inclusive o carro #1 de Neel Jani/Andre Lotterer/Nick Tandy teve que trocar toda a frente após um contato contra um dos rivais da equipe nipônica. Não obstante, como já citei linhas acima, as estratégias e as bandeiras amarelas foram determinantes para a vitória da Toyota em sua pista caseira.

Na classe LMP2, os brasileiros tiveram desempenhos distintos: enquanto Bruno Senna e André Negrão brilharam, Nelsinho Piquet rodou logo após a liberação da pista em bandeira verde, já que o início da corrida se deu em regime de Safety Car, por cerca de 15 minutos, e caiu para último. A trinca do #13 ensaiava uma recuperação, quando o suíço Mathias Beche se estranhou com Jean-Éric Vergne, da Manor. Por motivos que ainda desconhecemos, Vergne simplesmente ignorou Beche e os dois se tocaram, com o carro da Vaillante Rebellion levando a pior.

Mais surpreendente é olhar para o resultado final da prova e ver que Nelsinho e parceiros foram desclassificados. “A corrida foi complicada, acabei rodando no começo e caí para trás. Fomos recuperando bem, cheguei ali até a ficar em segundo, perto da frente. Depois, o Mathias Beche acabou levando uma pancada do Vergne e infelizmente abandonamos”, completou Nelsinho.

Só que Vergne também não saiu impune da manobra: o francês levou uma suspensão por conta do incidente, com direito a ‘sursis’. Ou seja: se mijar fora da bacia novamente, o francês estará fora de qualquer outra prova do WEC ou mesmo de outros eventos sancionados pela FIA.

Comemorando seu aniversário de 34 anos no último dia 15 (o outro aniversariante era David Heinemeier-Hänsson, o outro parceiro de Nelsinho Piquet), Bruno Senna e seus colegas Julien Canal e Nicolas Prost – que inclusive sequer entrou no carro durante a prova – conquistaram um importante triunfo para Senna e Canal: os dois reduziram para apenas 10 pontos a diferença que os separa dos até aqui líderes Ho-Pin Tung/Thomas Laurent/Oliver Jarvis, que até lutaram bastante mas fecharam a disputa em terceiro lugar nas 6h de Fuji em sua divisão.

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Presente de aniversário: no dia em que comemorava 34 anos, Bruno Senna deu a si de presente uma vitória que o deixa mais próximo ainda da liderança e da possibilidade de título na classe LMP2 do WEC (Foto: MF2/Divulgação)

“Fiquei três horas e meia pilotando. Foi muito cansativo e mentalmente exigente, talvez a corrida mais tensa e difícil da minha vida. Felizmente, consegui tomar a frente logo com a rodada do Nelsinho Piquet, que provocou um embaralhamento de posições atrás que nos ajudou. Tivemos de fazer um pit stop com bandeira verde, o que nos prejudicou bastante, mas felizmente recuperamos no segundo e deu para reprogramar a estratégia. Mesmo assim, demos sorte porque o ritmo do carro do André Negrão era melhor que o nosso e o encerramento prematuro nos beneficiou”, comentou Bruno.

André Negrão e seus parceiros Nicolas Lapierre e Gustavo Menezes conquistaram um importante 2º lugar que ainda deixa Menezes no páreo: o estadunidense é o terceiro colocado com 120 pontos no FIA World Endurance Trophy da LMP2. André, que tem uma corrida a menos e um abandono, que o deixa fora da briga, é o quinto na classificação com 101. Piquet é o 15º na tabela, com 43 pontos somados.

Entre os LMGTE-PRO, a Porsche começou muito bem e deu pinta que venceria absoluta, já que o modelo 911 RSR, mesmo com a nova configuração de motor central-traseiro, tem características que favorecem uma performance melhor em condições extremas. Mas a estratégia da AF Corse foi mais feliz e seus pilotos estavam inspirados na pista molhada, o que deu a James Calado/Ale Pier Guidi não só o triunfo na categoria como também a liderança do campeonato entre os pilotos das classes de Grã-Turismo.

Com o 2º lugar, Fred Makowiecki/Richard Lietz permanecem absolutamente vivos na batalha, enquanto Kévin Estre/Michael Christensen ficaram com o último lugar do pódio. Os grandes derrotados do fim de semana foram Harry Tincknell/Andy Priaulx: a dupla da Ford Chip Ganassi Racing foi vítima de um acidente no fim da longa reta de 1,4 km do Fuji Speedway, após uma frenagem no piso encharcado. Priaulx perdeu o controle do carro, batendo no guard rail. Os danos na asa traseira fizeram a dupla do carro #66 perder 17 voltas em relação aos vencedores na geral e terminar em 24º (e último) na disputa. Um tremendo prejuízo que os fez cair para quinto na classificação geral a duas corridas para o fim do campeonato.

Por fim, na LMGTE-AM a Spirit of Race não deixou escapar a oportunidade e chegou ao topo do pódio com a Ferrari guiada por Miguel Molina/Thomas Flöhr/Francesco Castellacci, ofertando-lhes a primeira vitória no campeonato. Com o 5º lugar na divisão, Paul Dalla Lana/Mathias Lauda/Pedro Lamy acabaram por perder a liderança entre os pilotos – por apenas um ponto – para Marvin Dienst/Matteo Cairoli/Christian Ried, da Dempsey Racing-Proton. A trinca Keita Sawa/Matt Griffin/Mok Weng Sun teve bom desempenho ao longo do evento e chegou em 2º lugar, resultado que os deixa a apenas seis pontos na liderança.

Tudo continua em aberto para a próxima etapa, as 6h de Xangai. Mas pelo menos a classe LMP1, tanto em pilotos quanto em construtores, deve ter tudo decidido e definido no dia 5 de novembro.

Comentários

  • Veja como são as cousas: sempre achei o André Negrão um dos mais fracos pilotos de monoposto do Brasil varonil. Andou duzentos anos na WSBR e não fez nada, na Indy Lights foi igualmente irrelevante ( chegou a bater na volta de apresentação) . E agora surpreende com belas performances no WEC. Minha dúvida? o rapaz leva mais jeito com os protótipos ou o nível dos pilotos é menor?

    • Amadeu, ele se encaixa mais ou menos no que aconteceu ao Pipo Derani. Os dois fizeram campanhas irregulares na base de monoposto, sentaram em protótipos e arrebentaram. Não tem jeito: quando o piloto “casa” com o equipamento e com o modus operandi de uma categoria, não tem jeito. Ele mostra o que sabe. O André é uma gratíssima surpresa nos protótipos, de fato.

      • Mattar…o Pipo mostrou algum potencial nos carrinhos…fez algumas boas provas na F3 Inglesa quando ainda era um campeonato de respeito…atribuo seu insucesso nos monopostos mais à falta absoluta de apoio do que propriamente deficit de talento…no caso do Negrao…o pai dele era dono da equipe Draco…que outro piloto daqui, fora o Nelsinho, teve essa regalia?

  • Legal ver a decisão ser adiada nas categorias de protótipos, com uma boa possibilidade para a trinca da Rebellion do #31…uma possibilidade, sem pachequismo, de um título para o Brasil num certame mundial….na P1, creio que a Porsche deva liquidar a fatura já em Xangai…
    E na Pro, troca de liderança, agora nas mãos da Ferrari e a Porsche com grandes chances (oba!!)…a Ford/Ganassi é um lance engraçado…tem um carro reconhecidamente bom, que mostra velocidade e nunca abandona por falhas mecânicas e tal mas…não vai…falta algo nas corridas…não venceram Le Mans este ano e tudo indica agora que não levarão o título do WEC na classe…
    Na Am será uma surpresa se a trinca da Aston Martin não levar o tótulo pelo que mostratam ao longo do ano, apesar do Dalla Lana.
    Por último: quem fuçou no youtube certamente encontrou uma transmissão (de fora do Brasil, é claro…) liberada…acompanhei um pouco…desisti depois da primeira bandeira vermelha…mas na próxima em Xangai vou fuçar novamente…vai que tem novamente.