Equipes históricas – Prost, parte IV

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Stéphane Sarrazin (piloto reserva), Jean Alesi e Nick Heidfeld na apresentação do AP03: a Prost jogava todas as suas fichas neste carro em 2000

RIO DE JANEIRO – O ano de 1999 tinha sido até razoável para a Prost Grand Prix em termos de resultados e performance, mas para o quarto ano da equipe que levava o nome do tetracampeão mundial de Fórmula 1, houve mudanças substanciais – principalmente em relação à dupla de pilotos.

Em substituição a Olivier Panis – que tirou um ano sabático – e Jarno Trulli, que foi para a Jordan, foram trazidos o novato Nick Heidfeld, que vinha com pompa e circunstância da então competitiva Fórmula 3000 e o experiente Jean Alesi, que não conseguira sair do estigma de promessa do automobilismo após defender Ferrari e Benetton, fracassando em ambos os times. A partir daí, começou a curva descendente da parábola para o francês um dia comparado a Gilles Villeneuve.

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O projeto do AP03 ficou sob a responsabilidade de Alan Jenkins, com Loïc Bigois na aerodinâmica

O projeto do novo carro, com o codinome AP03, ficou sob a responsabilidade de Alan Jenkins, com o design de Jean-Paul Gousset e trabalho aerodinâmico de Loïc Bigois. Projetado com suspensões pushrod nos eixos dianteiros e traseiros, com duplos triângulos, o carro tinha transmissão Prost/XTrac de sete marchas sequenciais mais ré, além do motor Peugeot A20 com arquitetura V10 a 72º. Em relação ao seu antecessor, tinha nada menos que 3 mil novas peças.

De saída, no primeiro GP do ano em Melbourne, na Austrália, os dois pilotos da Prost perdiam três segundos em relação ao pelotão líder. Heidfeld estreou com a 15ª posição no grid e o nono (último) lugar na classificação final, duas voltas atrasado. Alesi desistiu após 27 voltas com pane hidráulica.

Em Interlagos, no GP do Brasil, mais uma corrida para se esquecer. Alesi ainda enfiou um segundo e meio no companheiro de equipe em qualificação, mas nenhum dos dois pilotos completou mais do que 12 voltas. O motor do carro de Heidfeld se entregou e o francês desistiu com problemas eletrônicos. No GP de San Marino, com Heidfeld largando de último – pior até que as Minardi de Marc Gené e Gaston Mazzacane – e Alesi de décimo-quinto, uma dupla falha hidráulica tirou os azuis da disputa antes de sua metade.

Se o carro não vinha bem em pistas mais técnicas, imaginem em circuitos velozes como Silverstone, onde se realizaria o GP da Inglaterra. Pelo menos Alesi lutou e conseguiu terminar seu primeiro Grande Prêmio no ano – foi 10º colocado. Heidfeld abandonou a nove voltas do final com queda de pressão de óleo no motor, quando era o 15º.

Em Barcelona, pista base dos treinos de pré-temporada naquela época, a Prost ficou a dois segundos da pole. Mesmo com a Peugeot alegando que seus motores tinham aproximadamente 800 HP de potência, os carros franceses normalmente só conseguiam bater os tísicos Minardi Fondmetal. Alesi ainda foi abalroado por Pedro de la Rosa logo na segunda volta e Heidfeld, numa corrida sofrível, chegou em último, três voltas atrasado.

No GP da Europa, até que Heidfeld fez um brilhareco e conquistou um mais do que encorajador 13º posto no grid, a 1″618 da pole position – meio segundo melhor do que Jean Alesi, o que – vamos e venhamos – era uma façanha digna de nota. Mas o alemão não teve o que comemorar: foi excluído do resultado final porque seu AP03 estava fora do peso mínimo exigido pelo regulamento. E o francês, noutra jornada para se esquecer, terminou em nono e último. Era a terceira vez que um dos Prost ficava na derradeira posição entre os pilotos que terminavam as corridas em 2000.

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Heidfeld nas ruas de Monte-Carlo: o alemão conquistou um oitavo lugar como melhor resultado na temporada de 2000

Mas o talento ainda faria alguma diferença na corrida seguinte: Alesi fez uma volta excepcional com a cadeira elétrica que guiava e fez o 7º tempo no grid do GP de Mônaco, a 1″019 da pole – e mais de um segundo e quatro décimos melhor que Heidfeld. Na corrida, Jean sustentou a sétima colocação até a 29ª volta, quando a transmissão de seu AP03 o deixou a pé. Considerando que Fisichella largou em oitavo e foi ao pódio com o 3º lugar – e estava em nono na quebra de Alesi, um resultado entre os seis primeiros salvaria a temporada do time de Alain Prost. Ah, sim… Heidfeld ficou por último durante um terço da disputa, ganhou uma posição com os problemas do Jaguar de Johnny Herbert e chegou em oitavo – melhor resultado da equipe até então.

No Canadá, nova desilusão: os dois AP03 ficaram na metade para trás do pelotão, com Jean superando outra vez Heidfeld em mais de um segundo. A performance em prova continuou sofrível e os dois abandonaram com problemas de hidráulica e motor. Em Magny-Cours, na corrida caseira da Prost – e também da Peugeot – novamente um desempenho ruim nos treinos, mas com os pilotos mostrando espírito de luta apesar do equipamento ruim que tinham em mãos. E pela primeira vez no ano, ambos viram a quadriculada, mas muito atrasados. Heidfeld chegou em 12º e Alesi foi o décimo-quarto.

A 10ª etapa foi a gota d’água de uma temporada terrível para a Prost. É só ver o vídeo abaixo e constatar o que aconteceu aos dois pilotos.

Com a motivação em baixa, a equipe constatou no GP da Alemanha que não dava mais pé continuar com os motores Peugeot. Em qualificação, Heidfeld levou 2″993 do pole David Coulthard e Alesi foi trucidado em 4″592. O francês duelava pelo décimo-sexto lugar com Pedro Paulo Diniz, quando bateu com o brasileiro da Sauber. Heidfeld chegou até a figurar em último, mas se recuperou e era o décimo quando teve que desistir a cinco voltas do final, com problemas elétricos.

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Na Bélgica, com pista molhada, a melhor performance do ano: Alesi chegou a andar em quarto por dez voltas, mas acabou abandonando por queda de pressão de gasolina

Na Hungria, outra corrida que acabou cedo para a dupla da Prost: Alesi desistiu após largar em 14º e enfrentar problemas de suspensão. Heidfeld partiu de décimo-nono e também ficou fora da disputa, mas por falha elétrica. Em Spa-Francorchamps, o deficit em qualificação foi superior a dois segundos e meio, resultado em novo abandono duplo: Heidfeld saiu por quebra de câmbio e Alesi por queda de pressão de gasolina, mesmo após alcançar um excelente 4º lugar por 10 voltas, numa pista molhada pela chuva. Na Itália, com os dois AP03 superando apenas a Minardi nos treinos, Alesi chegou em 12º (e último), enquanto seu companheiro de equipe rodou após completar apenas 15 voltas.

Em Indianápolis, na volta do GP dos EUA ao calendário, Alesi classificou em antepenúltimo no grid e até conseguiu alcançar a 8ª posição, antes de seu motor Peugeot se entregar. Heidfeld herdou a posição por pouco tempo, sendo ultrapassado por Pedro Paulo Diniz para chegar em nono. No Japão, nova quebra de motor para o francês, que vinha em décimo após largar em décimo-sétimo, enquanto uma falha de suspensão tirou Heidfeld de esquadro. E na Malásia, última etapa de 2000, Alesi ainda salvou um décimo-primeiro posto, enquanto Heidfeld foi vítima de múltipla colisão com Diniz e o espanhol Pedro de la Rosa, da Arrows.

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Lanterna: a Prost terminou o ano sem qualquer ponto no Mundial de Construtores, assim como a Minardi. Desempenho pífio, ruptura definitiva com a Peugeot e perda de todos os patrocínios para o ano seguinte

Sem clima nenhum entre ambas as partes, Prost e Peugeot romperam o contrato que unia os franceses pelos três anos anteriores – incluindo 2000. Na verdade, Alain confessou posteriormente em entrevista que o acordo seria de cinco anos e ele não teria que pagar um tostão pelos propulsores. Mas o dinheiro da Altadis – patrocinadora da equipe, através da marca Gauloises – foi investido no custo de motores que não rendiam nada e só causavam dor de cabeça. Para piorar, a Altadis não renovaria o contrato e a Prost perdeu seus principais patrocinadores para a temporada seguinte.

Que será o assunto do próximo post da série.

Comentários

  • Sensacional!
    Parabéns pelo belo trabalho, estou de férias no campo, interior de Lagoa Vermelha – RS e como um bom gaúcho, entre uma Polar e outra vou devorando as histórias. Li primeiro a Prost, Tyrrel e agora borá Ligier!!!
    Abraços e agradeço de coração as histórias e notícias sempre atualizadas do blog.

  • As últimas equipes pelas quais eu nutri alguma simpatia na Fórmula 1: Prost, Jaguar e Minardi – Não fizeram muito, mas os carros das duas primeiras eram lindos, bem diferentes das pinturas sem graça e sem vida de hoje.

  • Rodrigo,
    Este aí era o “Belo Antonio”.
    Além do motor problemático, o carro nasceu com problemas sérios de aerodinâmica, tanto que a dupla Jenkins/Bigois foi defenestrada (o carro de 2001 foi desenvolvido pelo Henri Durand, ex-Ferrari e Mclaren). Até o John Barnard, que era consultor da equipe nesta época e desenvolveu algumas peças através da sua empresa, a B3 Technologies, foi chamado para dar uma mão mas não houve jeito.

  • Eu pensaria duas vezes antes de firmar acordo com a Peugeot depois do período deles na F1…

    E também na última passagem deles pelo endurance, quando tinham o protótipo mais veloz, mas viviam quebrando.