Direto do túnel do tempo (398)

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RIO DE JANEIRO – O piloto que está na foto é um dos aniversariantes deste dia 23 de abril: trata-se do italiano Pier Luigi Martini, que completa 57 primaveras nesta segunda-feira.

E por que a menção especial ao piloto que disputou 118 GPs em sua carreira, entre 1985 e 1995?

Simples: Martini tem cinco marcas pessoais defendendo a Minardi. Primeiro, o piloto nascido em Lugo di Romagna foi o que mais corridas disputou pelo time de Giancarlo Minardi – foram 102 ao todo, excluindo somente uma temporada completa, quando ele defendeu a Scuderia Italia em 1992.

Segundo, ele liderou uma corrida pela equipe – tudo bem que foi só uma volta mas, pombas!, liderou. Isso foi em 1989, no GP de Portugal. No ano seguinte, ele levou seu carro à primeira fila do grid do GP dos EUA, abertura do Mundial de 1990 em Phoenix. Outro feito digno de registro.

Tanto quanto o 4º lugar que conquistou duas vezes em 1991 nos circuitos de Imola e do Estoril, melhor classificação da história da Minardi em prova, que seria igualada apenas por Christian Fittipaldi no GP da África do Sul em 1993.

Mas é de Pier Luigi o feito mais importante do time que disputou 340 provas: o primeiro ponto, conquistado no GP dos EUA de 1988, nas ruas de Detroit, no dia 19 de junho daquele ano.

Era justamente a corrida que marcava o retorno de Martini à Fórmula 1: em 1985, quando estreou com a igualmente novata Minardi, que tinha um carro frágil de motor Motori Moderni V6 Turbo, igualmente frágil, o piloto não teve resultados expressivos e foi se refugiar na Fórmula 3000, em busca de uma reciclagem e de mais experiência.

Foi um bom período para o italiano. A categoria era super competitiva e Martini venceu três provas com um Ralt Cosworth da equipe de Luciano Pavesi. Acabou vice-campeão, derrotado por apenas dois pontos pelo compatriota Ivan Capelli, que logo se garantiu na Fórmula 1 via March. Mas no ano seguinte, a Pavesi Racing perdeu o rumo e Martini acabou o ano com apenas oito pontos, um pódio com o 2º lugar em Pergusa e o 11º lugar no campeonato, empatado com John Jones.

Martini começaria o ano de 1988 ainda na Fórmula 3000: com uma oferta de Lamberto Leoni, ele se transferiu para a First Racing, onde competiria com um March Cosworth. Na Fórmula 1, a Minardi buscava desesperadamente seu primeiro ponto e após um ano terrível (1986) com Andrea de Cesaris e Alessandro Nannini, mostrou progressos em 1987 com Nannini, principalmente. O segundo piloto era Adrián Campos, um espanhol de muito dinheiro e pouco talento.

Como Nannini recebeu uma oferta tentadora da Benetton, Giancarlo Minardi trouxe da Fórmula 3000 o vice-campeão de 1987, Luis Pérez-Sala, para dividir a equipe com Campos. Mas este último começou mal o campeonato e após uma sequência de desclassificações, acabou dispensado. O assento do carro #23 estava vago e foi entregue a Pier Luigi Martini, bem mais rodado e experiente que três anos antes.

Sábia decisão: Martini se classificou em 16º lugar no grid do GP dos EUA, com o tempo de 1’45″048, nove posições à frente de Pérez-Sala. Na difícil pista montada na capital do automóvel, que receberia a Fórmula 1 pela última vez naquele ano, o italiano soube evitar os acidentes e problemas que pegaram muitos adversários pelo contrapé. A corrida teria 63 voltas e na 27ª passagem, ele figurou pela primeira vez na zona de pontos.

Àquela altura, Ayrton Senna liderava absoluto, seguido por Alain Prost, Thierry Boutsen, Andrea de Cesaris, Maurício Gugelmin e Martini. O March do brasileiro quebrou na 34ª volta e o italiano assim assumiu a quinta colocação, com o Dallara de Alex Caffi em sexto.

Mas em prova de recuperação, o britânico Jonathan Palmer, que rodara na 32ª volta e caíra para a 11ª posição, contou primeiro com os problemas de Caffi para subir ao sexto posto e, em quatro voltas, o piloto da Tyrrell já ultrapassava Martini para assumir o 5º lugar.

Daí até o final, o italiano conservou o sexto posto e entrou para o rol dos pilotos que pontuaram na categoria, ofertando assim ao time de Faenza o primeiro de um total de 38 pontos somados pela equipe pequena mais querida da história da Fórmula 1.

Ah… e Martini ainda venceria uma corrida na Fórmula 3000 (em Pergusa, na Sicília), terminando o campeonato de 1988 em quarto lugar.

Há 30 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • A F-1 de até o começo da década de 1990 ainda tinha personagens que, embora nunca tenham ganhado corridas, davam um colorido diferenciado à categoria.

    Uma pena que a imensidão de dinheiro e tecnologia tenha afastado tanta gente boa.

  • É até difícil imaginar o Martini correndo por outra equipe. Ele era a personificação da Minardi.
    A volta liderada em Portugal e a segunda fila nos EUA mereciam um eterno memorial lá em Faenza. Mesmo que lá agora seja a casa da filial das latinhas com asas. Que, na sua essência, continua sendo a mítica Minardi. No bom sentido.
    Equipe que merecia pelo menos um pódio. Nos dias de hoje seus números e histórias soam até ridículos. Mas só quem viveu aquela época, mesmo que só assistindo pela TV, sabe da importância que essa equipe teve na F-1. Revelou inúmeros pilotos, muitos braço-duro de doer, com certeza, mas trouxe a primeira oportunidade para alguns que depois seguiram seu caminho na categoria. Fisichella e Trulli passaram por lá e, se não foram fora-de-série, fizeram sua carreira, venceram corridas. E não esqueçamos do amado e odiado Fernando Alonso, que teve suas fraldas trocadas pelo Tarso Marques lá também.