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Com direito a mudança de tática para conter a Mercedes, Sebastian Vettel fez apenas um pit stop no Bahrein e venceu a segunda seguida (fato inédito) pela Ferrari, em sua 200ª prova na Fórmula 1 (Foto: Ferrari/Reprodução Grande Prêmio)

RIO DE JANEIRO – Começamos a temporada 2018 da Fórmula 1 com uma impressão pouco positiva da corrida de estreia – talvez por culpa da pista de Albert Park. As regras da categoria são aquelas que a gente conhece, então não dá pra querer que mudem tão já – mas bem que, repito, os artificialismos poderiam ser varridos do mapa.

Sigamos em frente, pois.

E que o GP do Bahrein de hoje foi bom, ah!… isso foi. Minha opinião, ok? O que não exclui o fato de que vocês tenham uma diferente e discordem. Fiquem à vontade se quiserem. Se a etapa inicial foi nota 5,5, desta vez a corrida barenita merece um bom 8,5.

Afinal, os ingredientes foram postos à mesa: 200ª corrida da carreira do Sebastian Vettel (e 51ª pole do alemão), Lewis Hamilton punido com perda de cinco posições no grid por troca preventiva da caixa de marchas, Max Verstappen podendo atacar após bater no treino classificatório.. eram os aperitivos do banquete.

Sabia-se que Lewis e o holandês da Red Bull viriam com tudo para o confronto. Pena para Verstappen que tudo tenha sido tão rápido, já que tocou justamente com Hamilton – que depois o criticaria duramente – na primeira volta, furou um pneu e depois acabou parando com uma falha de transmissão. O desastre para os rubrotaurinos foi completo: Daniel Ricciardo vinha em quarto e o painel de seu carro apagou sem nenhum aviso. Falha elétrica e “zé fini” para o australiano.

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Parece show pirotécnico, mas é só Lewis Hamilton ultrapassando Fernando Alonso (carro encoberto), Esteban Ocon e Nico Hülkenberg. O motor Mercedes e o DRS ajudaram bastante, mas não é qualquer um que tem bolas para fazer coisa igual (Foto: LAT Images)

O Safety Car Virtual entrou em ação e logo após a relargada, vimos um Hamilton agressivo, cometendo uma ultrapassagem sensacional e superando três adversários quase que numa só tacada. Como não podia perder tempo nenhum, a obrigação do britânico campeão mundial era agir dessa forma. E tentar alguma coisa fora do normal. Como fazer apenas um pit stop, por exemplo.

A tática era arriscada, mas dependeria de fatores que fugiam aos anseios de Hamilton, como o próprio Vettel não ditar um bom ritmo e principalmente que o companheiro de Mercedes Valtteri Bottas o ajudasse. Ah, claro… e não esquecendo, havia Räikkönen também, é claro.

Vettel parou na 15ª volta e os demais pilotos que vinham atrás também estavam no mesmo ciclo. Hamilton e a Mercedes resolveram jogar com a chance de se aproximar do pódio ou mesmo da vitória mudando a tática. Não pararam para a troca de pneus, prevendo uma única entrada nos boxes. Além de manter o piloto na pista o máximo possível de tempo – antes que Vettel finalmente o superasse, na 26ª volta – decidiram pôr um jogo de pneus médios, os mais duros disponíveis no fim de semana.

Lewis sentou a borduna. Logo nas primeiras voltas, rodou oito décimos melhor que o piloto da Ferrari. E foi aí que a equipe italiana viveu seu drama interno: na 36ª passagem, elegeram Räikkönen como boi de piranha para atrair a Mercedes à teia de uma tática de duas paradas para seus pilotos. E no afã de devolver Kimi à pista, o carro foi liberado sem que o pneu traseiro esquerdo tivesse sido trocado para o composto supermacio montado nas outras três rodas.

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A dor, o choro e o desespero do mecânico Francesco Cigarini, atropelado pela roda traseira esquerda do carro de Räikkönen no segundo pit stop (Foto: AFP/Reprodução Grande Prêmio)

O resultado foi de uma tristeza só. O mecânico Francesco Cigarini foi atropelado por Räikkönen e sofreu fraturas na perna esquerda (e não direita, mil perdões). O finlandês parou o carro e, numa cena inacreditável, sequer foi prestar solidariedade ao funcionário de sua equipe. Ficou nervosinho, jogou as luvas longe e se mandou dali. Que coisa…

A Ferrari, claro, teve não só o prejuízo humano mas também o financeiro: por conta da patacoada e do incidente, foi multada pela FIA em R$ 200 mil.

Voltando à corrida, quando a tática foi destruída por conta do atropelamento no pit lane, a equipe italiana resolveu também mudar o plano. E manteve Vettel na pista com o mesmo pneu trocado no 15º giro até o final. Aí, meus amigos, ele teve que se virar pra segurar a aproximação de Valtteri Bottas, que chegou a ser inferior a um segundo – o que lhe daria a chance de usar o DRS.

Mas Sebastian foi espetacular. Teve sangue frio, cabeça boa e controle total da situação para, na corrida #200 de sua carreira, alcançar a 49ª vitória e também marcar um momento histórico dele em Maranello: trata-se da primeira “seguidinha” de Vettel pela Ferrari. Ele nunca vencera duas seguidas pelos vermelhos. E com isso, chegou a 50 pontos no campeonato e abriu 17 para Lewis Hamilton, que teve de se conformar com o terceiro posto.

A corrida dos três – Vettel, Hamilton e Bottas – foi à parte dos demais. Tanto que o 4º colocado terminou mais de um minuto atrás. E sem Red Bull, com os dois carros fora de uma mesma corrida pela primeira vez em muito tempo (mais de cinco anos), o francês Pierre Gasly alcançou um feito incrível para a Toro Rosso na segunda vez da equipe com o motor Honda.

Ao marcar seus primeiros pontos numa prova irretocável, ele se tornou o 336º nome a figurar neste ranking histórico da Fórmula 1. E a festa dos mecânicos do time com sede em Faenza foi de uma vibração sem igual. Muito bacana, mesmo!

Também há que se destacar a ótima quinta posição de Kevin Magnussen, o bom sexto posto de Nico Hülkenberg e a Sauber pontuando – pasmem, senhores! – com Marcus Ericsson numa corrida onde a estratégia de parar uma vez também rendeu dividendos ao sueco, que não marcava pontos há exatamente 50 GPs. O último tinha sido o GP da Itália de 2015, quando terminou em nono lugar.

E a McLaren hein?

Pois é… o fim de semana começou mal, com ares de desastre. Mas se o carro melhorou para a corrida, o resultado não foi aquele que Fernando Alonso e a escuderia britânica esperavam. Ele chegou em 7º lugar com Stoffel Vandoorne logo atrás. Certamente deve ter sido frustrante pra ele se deparar com Gasly em quarto. Mas ver o asturiano exatamente em quarto no Mundial de Pilotos após duas provas não deixa de ser surpreendente. E a McLaren também não tem do que se queixar. Pontuou nas duas etapas com os dois pilotos e vem em 3º entre os Construtores.

Em contrapartida, a Force India e a Williams são disparadas as decepções neste início de campeonato. Os rosados sabem que têm potencial, mas os problemas legais da escuderia podem arruinar a temporada. O bom Esteban Ocon marcou seu primeiro pontinho do ano. Já a tradicional organização de Sir Frank Williams foi acometida da síndrome de Liliput e apequenou-se.

O papel dos carros com o patrocínio da Martini durante todo o fim de semana do GP do Bahrein foi ridículo. Só não acabaram com as últimas posições no resultado final, porque Sergio Pérez e Brendon Hartley foram penalizados com acréscimo de tempo de 30 segundos por conduta irregular durante o período do Safety Car Virtual.

É de dar pena ver uma equipe com tanta história se debatendo na rabeira e – pior ainda – que vê a Sauber, hoje a pior equipe em termos de performance do grid, conseguir salvar os primeiros pontos do ano. Stroll e Sirotkin, os jovens pilotos em quem a equipe deposita suas esperanças, podem ser rápidos mas não fazem milagres com um carro que parece ser mal nascido. E sem expertise alguma no acerto dos carros ou sugerindo melhorias, a temporada da Williams tende a ser um fracasso daqueles bem rotundos.

E não há tempo de respirar. Domingo que vem tem mais, lá na China. E haja Red Bull pra segurar o sono e ver mais uma corrida na calada da madrugada…

Comentários

  • Pra mim a Mercedes errou quando não mandou pelo menos um de seus pilotos sentar a borduna desde a ultima troca de Vettel. Provavelmente teria ganho a corrida.
    Era obvio, na altura da volta 40-42 que a Ferrari não tinha intenção de parar o Vettel, ainda mais considerando os tempos em que ele estava girando.
    Ao contrario, a Mercedes ficou contendo o ritmo de Lewis, e perdeu a corrida por isso.

  • Raikkonen não tinha como saber o acontecido. Ninguém havia dito a ele o motivo da ordem para parar imediatamente o carro. O piloto só percebeu quando caminhava para os boxes, quando claramente mudou sua atitude.

  • Na minha opinião, deveriam voltar com os “pirulitos” para a saída e entrada dos boxes, lembro de muitas vezes evitarem problemas pois o “cara do pirulito” baixava ele na frente do piloto caso tivesse liberado e notasse algo errado. Com a facilidade e rapidez do apertar de um botão, parece ficar mais difícil tamanho reflexo.

    Force India é a maior decepção do momento, não sei se conseguirão desenvolver o carro devido aos problemas extra-pista já citados.

    Uma coisa que notei foi que eu gostei das cores dos carros atuais, sei que é irrelevante, mas tem sido muito bom esta variação de cores.

  • – Corridaça tanto na 1º divisão (Ferrari e Mercedes) quanto na 2º divisão (também conhecida como a rapa).
    Parabéns a todos.
    – Esse jeitão LEAVE ME ALONE do Kimi por vezes passa do ponto…
    Outras pessoas se fizessem o mesmo seriam tachadas com adjetivos impublicáveis.

  • Dentre todas as mazelas da Williams, não nos esqueçamos da nulidade que é o tal de Rob Smedley, realmente fica difícil de entender por que cargas d’água esse energúmeno ainda não levou uma bota da Claire e do Tio Frank.

  • Raikkonen só iria atrapalhar o atendimento como um mecânico da Ferrari que ainda tentou no derespero pegar a perna do Francesco

  • Com relação a tripla ultrapassagem do Hamilton, os quatro carros estavam com o DRS ativo na reta. O Hamilton freou depois de todos, por isso essa foto que ilustra o post somente ele está com o DRS aberto. O motor Mercedes que fez a diferença e o braço do inglês também. Se bem que na turma ultrapassada tinha uma Force India com o mesmo motor.

  • He He, Ze Maria,

    Até que enfim alguém que pensa como eu: desde os tempos de Eng . do Massa na Ferrari, SEMPRE achei esse Smedley uma nulidade….

    Antonio

  • “Afinal, os ingredientes foram postos à mesa: 200ª corrida da carreira do Sebastian Vettel (e 41ª pole do alemão),” Só fazer uma correção: são 51 pole positions do alemão! Belo texto! Grande abraço.