Direto do túnel do tempo (400)

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RIO DE JANEIRO – Fim de semana do GP da Espanha de 1977. Naquela oportunidade, um homem marcado pelo destino voltava à categoria máxima, após a tragédia do GP da Holanda, quatro anos antes.

David Purley, piloto britânico então com 31 anos, regressava aos cockpits de um Fórmula 1 com o Lec CRP1 Cosworth. Projeto de Mike Pilbeam e Mike Earle, o carro tinha o codinome da sigla da empresa do pai de David Purley – Longford Engineering Company, uma empresa do ramo de refrigeração.

Verdade seja dita, após sua última corrida na fatídica temporada de 1973, em que tentou – e não conseguiu – salvar Roger Williamson do incêndio que consumia seu March 731 em Zandvoort, o piloto foi inscrito num Token RJ02 – que era o natimorto Rondel Motul – para a disputa do GP da Inglaterra de 1974, sem ter conseguido classificação.

O carro construído por Pilbeam para Purley voltar às pistas estreou numa prova extracampeonato – a Race of Champions, disputada em 20 de março num clima de profunda consternação. Dois dias antes, morrera o brasileiro José Carlos Pace, em acidente aéreo. A pole de John Watson foi dedicada a Moco. James Hunt venceu aquela corrida não-oficial e Purley chegou em 6º lugar.

Menos de dois meses depois, o Lec CRP1 foi transportado para Jarama, onde David tentaria se classificar para seu retorno oficial após tanto tempo sem disputar uma corrida valendo pontos para o Mundial. Mas não deu certo: o piloto ficou a seis décimos do último do grid – que tinha 25 carros. E assim o Lec não estreou na Espanha.

A primeira corrida do bólido seria em Zolder, no GP da Bélgica. Após largar em 20º, chegou a ser terceiro colocado na pista molhada. Mas acabaria apenas em 13º lugar. O piloto ainda foi décimo-quarto na Suécia e bateu logo no início do GP da França.

E veio Silverstone, com o GP da Inglaterra.

Naquela corrida, um enxame de equipes locais que disputavam a Fórmula Aurora, além de inscrições suplementares – com um certo Gilles Villeneuve, por exemplo, a bordo de um terceiro carro da McLaren e a estreia da Renault, a lista de entradas tinha quase 40 carros – foram 36, para ser mais exato.

Seria necessária uma pré-classificação, pois o grid era limitado a 26 carros e 30 vagas apenas. David tinha o tempo de 1’20″63 e vinha em busca de avançar aos treinos oficiais, quando o acelerador de seu carro travou, provocando um acidente.

O mais impressionante não foi a batida em si, mas o fato de Purley ter resistido a uma brutal desaceleração calculada em 179.8 vezes a força da gravidade, quando seu carro desacelerou de 173 km/h a zero num ínfimo espaço de 66 centímetros. Foi a marca recorde dentre os esportistas em qualquer modalidade, até Kenny Brack sofrer uma desaceleração de 214 g quando sofreu um brutal acidente numa prova de Fórmula Indy em 2003, no circuito do Texas.

Com múltiplas fraturas nas costelas, pélvis e pernas, David deixou as pistas, tornou-se acrobata aéreo e morreu em 1985, aos 40 anos.

Há 41 anos, direto do túnel do tempo.

 

 

 

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