Direto do túnel do tempo (402)

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RIO DE JANEIRO – Bélgica, circuito de Zolder. O dia era 17 de maio e o ano, 1981. Naquela oportunidade, a Fórmula 1 fechava um dos seus mais tumultuados finais de semana de sua história, acendendo mais uma vez o pavio da briga política entre a FISA de Jean-Marie Balestre e a FOCA, sob o comando de Bernie Ecclestone.

Com a fisionomia fechada no instantâneo que ilustra este post, o argentino Carlos Reutemann venceu e não comemorou nada. Registre-se que os pilotos da Williams, por conta dos patrocínios dos árabes, não estouravam a champagne no pódio. Mas a tristeza do “Lole” era genuína: ele atropelou nos estreitos boxes do circuito um mecânico da Osella, mesmo a velocidade de 70 km/h. Gianni Amadeo não resistiu e morreu em razão de múltiplas fraturas no crânio.

Nos treinos, René Arnoux não conseguiu se classificar com a Renault Turbo. Ainda arrumou confusão na pista, acabou preso e dormiu na cadeia!

Antes da largada, os pilotos resolveram fazer um protesto contra as condições precárias de segurança e a largada demorou a acontecer. Consternados pela morte de Gianni Amadeo, os mecânicos também cruzaram os braços. Mas os contratos que a FOCA assinava com os organizadores exigiam a realização da disputa. Nelson Piquet errou seu lugar na primeira fila e deu duas voltas de apresentação, enquanto os demais 23 pilotos esperavam.

Como sói, tinha tudo para dar errado. E deu: quarto colocado nos treinos, Riccardo Patrese deixou o motor de sua Arrows morrer. O mecânico-chefe da equipe britânica, Dave Luckett, tentou fazer o carro pegar e acabou atingido pelo outro piloto da Arrows, o também italiano Siegfried Stohr.

Desespero, cenas lamentáveis (Luckett sofreu fratura em ambas as pernas e comoção cerebral) e bandeira vermelha, depois de muita discussão.

A relargada aconteceu 40 minutos depois e quem surpreendeu todo mundo foi Didier Pironi, que fazia sua quinta corrida pela Ferrari. O francês, vencedor do GP da Bélgica em 1980 lá mesmo em Zolder, veio de 3º no grid e assumiu a liderança. Atrás dele, vinham Carlos Reutemann e Nelson Piquet, ensanduichado pelos dois pilotos da Williams, já que Alan Jones era quarto.

Na 10ª volta, Piquet e Jones ultrapassaram Carlos e o brasileiro, na sequência, foi deslealmente tirado da pista por Jones. O acidente deixou o piloto da Brabham bastante irritado. “Na primeira oportunidade, coloco o Jones pra fora”, prometeu. Sem nunca cumprir, já que Nelson jamais usou desse artifício para prejudicar um companheiro de profissão na Fórmula 1.

Alan assumiu a liderança com a queda de rendimento da Ferrari de Pironi e era o piloto mais rápido da prova quando, muito provavelmente por conta do contato com o carro de Piquet, também perdeu o controle de sua Williams e bateu sozinho, dando de presente o primeiro lugar a Reutemann, então desafeto declarado do australiano.

As três primeiras posições não sofreriam mais qualquer tipo de alteração. Reutemann seguiu líder, com Jacques Laffite em segundo e Nigel Mansell, em sua primeira temporada completa pela Lotus, na terceira posição. O que mudou foi o resultado a partir do quarto posto, já que John Watson teve problemas e foi ultrapassado por Gilles Villeneuve, Elio de Angelis e Eddie Cheever.

Para completar o triste quadro, a direção de prova deu a corrida por encerrada por conta da chuva, fechando a disputa com 55 voltas cumpridas ao invés das 70 previstas. Bem diferente do que aconteceria ainda naquele ano em Dijon-Prénois, no GP da França…

A pontuação foi oferecida integralmente e Reutemann, que ampliou seu recorde de corridas entre os seis primeiros para 15, passava ao total de 34 pontos contra 22 de Piquet. O GP da Bélgica foi o primeiro de um total de 59 em que Nigel Mansell subiria ao pódio.

Há 37 anos, direto do túnel do tempo.

 

Comentários

  • Algum tipo de praga devem ter soltado nesse fim de semana, por não ser em Spa a corrida, pqp! muita coisa triste e bizarra.

    • Spa estava fora da F-1 desde 1970 e só voltaria em 1983. Na época da última prova, o traçado tinha 14,1 km de extensão e foi reduzido para próximo do que conhecemos hoje.

  • Eu assisti a essa corrida pela TV. Tinha apenas 7 anos e fiquei petrificado com a cena do mecânico da Arrows atropelado e com o corpo todo retorcido. Não parava de fazer perguntas ao meu pai e não entendia a cena que a TV mostrava: o carro de Patrese em primeiro plano e o mecânico atrás. Eu achei que o Arrows de Riccardo Patrese é que tinha atropelado e passado por cima.
    Mas…como um carro tão baixo poderia passar por cima de alguém?….E como podia ainda estar com a frente inteira? Muitos anos depois, assistindo a um vídeo sobre a temporada de 81 é que fui entender que o mecânico fora, na verdade, prensado pelo carro de Siegfried Stohr contra a traseira do carro de Patrese, que ficou parado na largada.

    • Eu tinha 10, Alex. Eu fiquei desesperado. A gente quando criança não entende certas coisas. Melhor assim né?

      Se fosse por isso e depois pela morte do Villeneuve e do Paletti, eu tinha parado de assistir Fórmula 1 no ato.