Esperanças em vão

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A imagem da primeira curva, antes da patacoada de Grosjean: Hamilton só seria visto pelos demais no pódio, num domínio que o britânico não vinha apresentando nas etapas anteriores (Foto: AFP/Reprodução Grande Prêmio)

RIO DE JANEIRO – Confesso que após algumas corridas muito boas da Fórmula 1, esperava que o GP da Espanha saísse do padrão igual no ano passado e proporcionasse ao público uma briga pela vitória tal qual fizeram Hamilton e Vettel em 2017.

Mas como diria Pedro, em “Carga Pesada”, ‘é uma cilada, Bino’!

E a corrida deste domingo em Barcelona foi uma cliada. Aliás, a pista em si é uma cilada. Para a pré-temporada é de boa serventia, mas como palco de corridas de Fórmula 1 já deu. Somos capazes de contar nos dedos quantas boas provas tivemos por ali. Talvez a do ano passado tenha sido a mais honrosa exceção dos últimos tempos, porque ontem teve de tudo – menos ultrapassagens e disputas.

Teve cagada – mais uma – do Grosjean. Não sei o que se passa na cabeça do franco-suíço, mas deve ser algo muito sério para ele desfilar um arsenal de bobagens como em seus primeiros anos pela Renault. Romain já é um cara experiente, com alguns resultados bem razoáveis e bastante quilometragem, pra se deixar levar por um monte de asneiras que vem fazendo nas pistas. A do GP da Espanha foi uma das piores dele, ao nível Spa-Francorchamps (lembram?).

Um cara experiente como ele fazer o que fez é caso para a FIA reprimir, multar e punir. Pelo menos já perdeu posições – três – para o grid do GP de Mônaco. Mas Grosjean deveria ter sido chamado à sala dos comissários, onde lhe mostrariam à exaustão o vídeo, até aprender a deixar de ser mané. E levado uma multinha pecuniária, pra lhe doer o bolso. Com a estapafúrdia volta ao traçado – e sem controle – pôs a vida dos outros pilotos em risco. Sorte que o acidente não foi grave e os prejudicados foram Pierre Gasly e Nico Hülkenberg.

Veio o Safety Car e Hamilton, que conquistara a pole position, não foi mais incomodado. Fez o trabalho dele, afinal. O segundo maior vencedor da história é inclusive muito bem pago pra isso. E de acordo com as estatísticas, o britânico alcançou seu 38º triunfo da carreira – de um total de 64 – partindo da pole position. Ou seja: mais de 50% das oportunidades – que ele tem sabido aproveitar.

Pior para a temporada da Fórmula 1 que a Ferrari tenha voltado a ser Ferrari quando menos se imaginava – aliás, até agora não entendi porque a direção de prova, por conta do problema no carro de Esteban Ocon, deu aquele Virtual Safety Car em que os italianos caíram feito patinhos. Alguém dentre vocês, leitores, inclusive entendeu aquilo?

Além da falha no carro de Räikkönen, que mais uma vez desistiu, a equipe resolveu vacilar na estratégia, levando Vettel a duas paradas e à perda do pódio e de pontos importantes na luta pelo campeonato. Pontos que poderão fazer falta, pois Hamilton – que nem imaginava sair líder do Azerbaijão – chega a Mônaco com 17 de vantagem para seu principal rival (95 a 78).

Faltou inteligência à Ferrari e sobrou à Mercedes, que ordenou a mudança de tática e deixou seus pilotos na pista com os pneus médios – os de composto mais duro do fim de semana – para terminar a prova com apenas uma parada, tal como fizera a Red Bull, que mandou seus pilotos para os pits muito depois de Lewis Hamilton, Valtteri Bottas e Sebastian Vettel. Isto proporcionou a volta ao pódio para Max Verstappen, após seguidas críticas e alguns momentos de pouco ou nenhum brilho. Na pista, pelo menos desta vez, o holandês foi superior a Daniel Ricciardo.

O resto foi o resto e não podem passar batidos o 6º posto de Kevin Magnussen, a sétima colocação de Carlos Sainz Jr. – que contava com a torcida de “El Matador” Carlos Sainz nos boxes da Renault – Fernando Alonso nos pontos pela quinta vez seguida (resultado que o coloca em sétimo no Mundial de Pilotos) e mais uma ótima corrida de Charles Leclerc pela Sauber, mostrando que o monegasco tem realmente o talento que se imaginava após dominar a última temporada da Fórmula 2 de cabo a rabo.

No mais, a Force India segue como talvez a grande decepção deste ano e a turma do fundão nada pôde fazer, com os pilotos da Williams se debatendo em meio a Ericsson e Hartley. Lance Stroll ficou no ‘quase’ dessa vez, mas depois do que acontecem em Baku, o canadense não teve a mesma sorte numa corrida de seis abandonos.

A próxima parada é Mônaco. Também por lá é difícil que alguém ultrapasse alguém. É torcer pra São Pedro colocar um molho ali naquela corrida, para que tenhamos algo que remeta à 1996, quando Olivier Panis venceu numa das maiores zebras da história do esporte.

Mas convém não ter muitas ilusões, não é mesmo?

Comentários

  • A Merça brinca com o campeonato ha anos…ficam “mancebando” ate o momento que querem vencer e impor…quanto à Ferrari?? Merece isso, e muito mais (nao por causa daqueles atos com pilotos brasileiros – que preferiram receber sua grana do que impor a sua vontade e personalidade – mas sim pelas sujeiras que sempre fez em sua historia para vencer). Assisti às 24H Nurburgring no minimo umas 16 horas e nao me arrependo, foi o maximo ver tantos belos carros num circuito sensacional e desafiante.

  • E a mudança nos pneus? Com a desculpa de que, em algumas pistas (Espanha, França e Inglaterra), havia a possibilidade de “blistering”, a Pirelli diminuiu a espessura da camada externa dos pneus em 0,4mm, o que provocou aquela idiotice de melhores tempos no Q3 com pneus macios ao invés de com os supermacios. Diga-se de passagem que o problema de “blistering”, apesar das baixas temperaturas dos testes pré-campeonato, afetou a Mercedes. Mais uma vez a Pirelli beneficia os anglo-germanicos com mudanças no meio da temporada.