6h de Silverstone: Toyota ganha, faz hat-trick… mas não leva!

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Aquela que seria a terceira vitória seguida do trio Fernando Alonso/Sébastien Buemi/Kazuki Nakajima acaba cassada na vistoria técnica, por infração no assoalho não só do carro #8… mas TAMBÉM no carro #7

RIO DE JANEIRO – A Toyota passeou em Silverstone e chegou à terceira dobradinha na Super Season 2018/19 do Campeonato Mundial de Endurance (FIA WEC). E com direito ao terceiro hat-trick do trio Sébastien Buemi/Kazuki Nakajima/Fernando Alonso, numa corrida amplamente dominada pelos dois protótipos japoneses, mas com alguns eventos que comprovam o seguinte: pela hierarquia já pré-determinada por Mr. Akio Toyoda, presidente da companhia, é muito difícil que Alonso não saia desta sua primeira temporada noutra categoria fora da Fórmula 1 sem um título mundial.

Mas o automobilismo tem seus caprichos. E se corridas por vezes só terminam na bandeira quadriculada, outras terminam depois do pódio, na vistoria técnica. E, vejam vocês, a Toyota acaba de ter sua desclassificação confirmada – duplamente – nas 6h de Silverstone.

A verificação feita nos dois protótipos do construtor japonês constatou que ambos os TS050 Hybrid estavam com um desgaste além do permitido no assoalho do carro. A Rebellion Racing foi excluída em Spa-Francorchamps com um de seus carros – o do brasileiro Bruno Senna – pelo mesmo motivo. Portanto, antes que alguém venha dizer que foi uma falcatrua dos orientais, já existe uma situação anterior para ilustrar o problema que exclui primeiro e segundo colocados na pista do resultado final.

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Herança: com exclusão dupla da Toyota, a vitória das 6h de Silverstone cai no colo do trio Thomas Laurent/Gustavo Menezes/Mathias Beche

Dessa forma, ora vejam, a Rebellion Racing conquista – em dobradinha – sua primeira vitória no WEC, a primeira também de uma equipe não-oficial com protótipos LMP1. A trinca Thomas Laurent/Gustavo Menezes/Mathias Beche é declarada como primeira colocada, com um total de 193 voltas percorridas, uma à frente de Neel Jani/Andre Lotterer, que correram sozinhos após o acidente de Bruno Senna na sexta-feira, que provocou uma fratura no tornozelo do pé direito do piloto brasileiro.

Mas duas paradas não programadas para a troca da seção traseira do carro #1 fizeram com que houvesse uma mudança de posições favorável à trinca do bólido #3, já que o carro #1 estava à frente. Já pensou se terminasse assim?

Após um treino de classificação razoável, a SMP Racing não teve ritmo de corrida para acompanhar a Rebellion – mas pelo menos o time russo assistido pela ART Grand Prix salvou o 3º posto final com Egor Orudzhev/Stéphane Sarrazin, mercê a desclassificação dupla da Toyota. O outro carro do time quebrou o motor logo após o primeiro pit stop e Jenson Button – coitado – nem andou.

As demais equipes foram figurantes. A DragonSpeed teve inúmeros problemas de equilíbrio com seu BR Engineering com motor Gibson V8 e usou a corrida para testes. A ByKolles, que começou tão bem em Spa, enfrentou outra corrida atribulada e o carro #4 também não viu a quadriculada final.

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A corrida foi atribulada para todas as equipes da LMP2, mas a Jackie Chan DC Racing superou melhor as adversidades e venceu em sua classe em dobradinha

Na LMP2, o domínio foi da Jackie Chan DC Racing, numa prova extremamente complicada para a maioria dos adversários. A equipe, cuja sede física é na Inglaterra, teve o controle absoluto da situação e seus dois carros se revezaram quase todo o tempo na ponta, apesar de um furo de pneu num dos bólidos e de um drive through por queima de largada para o outro. Ganhou o #38 de Ho-Pin Tung/Stéphane Richelmi/Gabriel Aubry, que ainda terminou em 4º lugar na geral – por apenas 1″971 em relação ao carro #37 do trio de malaios formado por Weiron Tan/Nabil Jeffri/Jazeman Jaafar.

André Negrão e os companheiros de Signatech-Alpine Matmut, os franceses Nico Lapierre e Pierre Thiriet, tiveram um dia difícil no “escritório”. Além de serem obrigados a pagar uma punição de stop & go de 75 segundos por infração num procedimento de Safety Car, o carro #36 não estava à altura dos adversários no seletivo circuito de 5,891 km de extensão. Salvar pontos foi importante: eles terminaram em 6º na geral e terceiro entre as tripulações da LMP2. Com mais um pódio, eles mantêm a liderança na categoria com 72 pontos, contra 68 dos vencedores da etapa. Na classificação geral dos pilotos de Protótipos, André e parceiros estão em 5º lugar, com 29 pontos.

A realçar o sem-fim de problemas enfrentados pela TDS Racing, que além do desespero pelo recurso ainda não julgado pelo Comitê de Apelação da FIA por conta da desclassificação nas 24h de Le Mans, enfrentou duas quebras de suspensão dianteira ao longo da disputa – sem contar as patacoadas do folclórico Pastor Maldonado a bordo do carro da DragonSpeed, o bom 8º posto geral da Racing Team Nederland na estreia do jovem holandês Nyck de Vries – e a melhor apresentação da Larbre no ano, mesmo levando cinco voltas do carro dos holandeses.

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Alívio nas hostes italianas: após duas corridas difíceis, a AF Corse e a Ferrari contaram com a tática para vencer na LMGTE-PRO com os atuais campeões mundiais, James Calado e Ale Pier Guidi

Campeã mundial do ano passado, a dupla Alessandro Pier Guidi/James Calado fez uma apresentação digna do galardão conquistado em 2017. E com uma estratégia perfeita, os pilotos da AF Corse levaram a Ferrari 488 GTE EVO #51 a uma vitória muito comemorada nos boxes da equipe “rossa”. Deram um nó nos rivais, que dominaram grande parte da disputa e fecharam a prova com 172 voltas completadas, quase 15 segundos na frente do Porsche de Gianmaria Bruni/Richard Lietz.

Porém, a exemplo dos dois protótipos da Toyota, o carro do construtor de Weissach também foi excluído na vistoria técnica. A altura mínima do 911 RSR GTE não estava conforme o regulamento técnico da categoria LMGTE-PRO, que determina um limite mínimo de 48 mm em relação ao solo.

Assim, o 2º lugar na LMGTE-PRO foi herdado pelos britânicos Harry Tincknell e Andy Priaulx, que superaram numa briga hercúlea o Porsche de Kévin Estre e Michael Christensen, com o dinamarquês jogando pesado, até de forma considerada suja, para conservar a posição diante da dupla da Ford Chip Ganassi Racing.

Para a Aston Martin Racing, restou o consolo de um encorajador quarto posto por parte de Alex Lynn/Maxime Martin, num fim de semana em que o BoP da classe foi extremamente favorável ao construtor de Gatwick. Pena que o carro de Nicki Thiim/Marco Sørensen enfrentou sérios problemas com o software do câmbio e se atrasou ao longo da disputa. A BMW salvou o quinto posto com Nicky Catsburg/Martin Tomczyk, já que o outro carro, do brasileiro Augusto Farfus e do português Antônio Félix da Costa desistiu com quebra na suspensão dianteira da roda direita.

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Primeiro pódio para a novata Project 1 Racing na LMGTE-AM, em boa performance da trinca Jörg Bergmeister/Egidio Perfetti/Patrick Lindsey

Na LMGTE-AM, um sem-número de penalizações definiu os vitoriosos e, pela segunda vez em três provas, deu Dempsey Racing-Proton com o Porsche #77 de Julien Andlauer/Matt Campbell/Christian Ried, alçado ao 17º posto geral após as desclassificações. A TF Sport foi uma das equipes punidas com stop & go por infração em períodos de Safety Car, o que custou ao Aston Martin #90 a chance da vitória. Restou terminar em 2º lugar na classe, à frente da Project 1 Racing, que levou o último lugar no pódio com uma ultrapassagem raçuda de Jörg Bergmeister na última volta sobre Pedro Lamy. Festa para o espigado piloto alemão e para seus companheiros Patrick Lindsey e Egidio Perfetti.

Agora, o WEC faz uma pausa de mais de 50 dias até a prova de Fuji em outubro, com um surpreendente panorama: Alonso, Buemi e Nakajima ainda lideram, com 65 pontos. Porém, a exclusão dupla dos Toyota deixa Gustavo Menezes/Thomas Laurent/Mathias Beche com uma incrível vice-liderança na geral, dois pontos atrás da trinca do #8 e à frente de Pechito López/Kamui Kobayashi/Mike Conway – que fez aniversário hoje e acaba de receber um autêntico presente de grego.

Para quem se queixava que o campeonato estaria encaminhado depois de mais uma ‘vitória’ da Toyota, acaba que a desclassificação dupla dos orientais em Silverstone dá uma graça inesperada a um campeonato que, no fim das contas, vai ficar mesmo na mão dos japoneses.

Comentários

  • Deve ser foda para os pilotos da troca do 7, correr sabendo que não podem vencer…

    Me surpreendeu o desempenho do segundo carro da JC na LMP2, tirando o Jaafar que é razoável, os outros dois pilotos saot horriveis, é meio que um atestado de ruindade da divisão, muitas das equipes e pilotos bons migraram para os P1 não híbridos.

  • Mais uma vez a FOX nos brinda com uma transmissão ímpar. Narração e comentários com conteúdo mesmo.
    Ficou difícil para a Toyota se ver no espelho na noite do domingo.
    Mais uma vez, outra “ferrarada” durante a prova.
    Assim como Rodrigo Mattar, gosto de F. Alonso e acredito que seu carro deverá ser campeão com suas “próprias pernas”, portanto, creio que não seja necessário ordens de equipe para a troca de posições…triste!
    Tá bacana de ver a disputa na GTEPRO…bela vitória da 458…mesmo assim, continuamos liderando o campeonato na tábua de pilotos e construtores. Após a dobradinha em LE MANS, a PORSCHE esqueceu a receita com os RSRs e vem perdendo terreno para a Ford…
    Que venha Fuji…FORÇA PORSCHEEEEEE!!!!!

  • Consegui chegar em casa a tempo de conferir a última uma gora e meia pela transmissão do Fox Sports e quero aproveitar para parabenizá-los mais uma vez, melhor ainda com a participação do Mestre Edgard.
    Sobre a corrida, embora seja contra, eu compreendo a escolha da Toyota pelo carro #8…é inegável que Alonso é o principal integrante da equipe, e que atrai mídia e torcida. Mesmo com esta desclassificação creio eu que a fatura na LMP1 está liquidada no que diz respeito à título…a cereja do bolo eles enfim conquistaram em Junho.
    Na GTE Pro, venceu a melhor e mais coesa dupla da atualidade e, apesar de não ser um torcedor de Ferrari, (Gosto bem mais dos Porsche, Corvette e Ford GT) aposto em Calado/Pier Guidi para o bicampeonato mundial na classe. Porsche e Ford vem logo em seguida. Aliás, a disputa entre o #92 e o #67 fez valer o preço do ingresso de quem esteve in loco, bem como a audiência de quem viu pela tv…foi espetacular e o Porsche jogou duro, mas o Ford não recuou e levou a melhor.
    Como disse anteriormente, se na P1 a coisa já tá decidida, na LMGTE Pro o “pau vai cantar” até o final…torço para Aston e BMW entrarem na briga (o BoP pode ajudar…) e que venha Fuji.