Drama do início ao fim na Petit Le Mans; Nasr é campeão e Daniel Serra vence na GTD

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Todo o drama: nunca foi tão difícil e sofrido um título para Felipe Nasr quanto este conquistado no sábado, numa Petit Le Mans cheia de alternativas. Mas o piloto enxotado pela Fórmula 1 deu a volta por cima e chegou ao campeonato da IMSA na classe Prototype, em parceria com Eric Curran

RIO DE JANEIRO – Para quem gosta do automobilismo na pura essência do que representa o esporte, a edição de 2018 da Petit Le Mans foi um prato cheio. A final do IMSA Weather Tech SportsCar Championship foi repleta de drama desde o início da disputa, bem cedo lá nos EUA, até o seu final, já com o breu da noite. E como convém a toda grande corrida, não faltou emoção ao longo das 10 horas que marcaram a decisão do campeonato.

E essa foi uma decisão que mexeu com os nervos de todo mundo. Três categorias com títulos em aberto e reviravoltas em pelo menos duas delas, numa corrida eletrizante e imprevisível que entra para a história. Para mim, a melhor Petit Le Mans que já acompanhei em muito tempo.

Não pelo título histórico e que lava a alma, conquistado com todo o drama pelo brasileiro Felipe Nasr e por seu parceiro Eric Curran, mas principalmente pela crueza da disputa até o final. Pelo anticlímax vivido por todos nós que acompanhamos a corrida e esperamos ansiosamente pelo seu desfecho. E para a dupla da Action Express, que venceu apenas uma etapa de um total de 10 em que os carros da Prototype tomaram parte no campeonato, foi um título justo – aliás, dois.

É que além do sofrido título da IMSA, os pilotos do carro #31 também ganharam o North American Endurance Cup (NAEC), com valiosa ajuda do hoje ausente Mike Conway, que teve de servir à Toyota no WEC. Gabby Chaves pegou o rojão pelo rabo e não fez feio na disputa.

Mas o fim de prova foi de novo dramático para a equipe do Cadillac vermelho. A performance de Nasr no último turno decaiu de tal forma que o piloto inclusive perdeu uma volta em relação aos líderes e ficou seriamente ameaçado de ver seu esforço deitar por terra. Em algumas oportunidades e principalmente na reta final, o brasileiro e Eric Curran se viram superados por Colin Braun e Jonathan Bennett na pista e na pontuação do campeonato.

Se desse empate em pontos, inclusive, a dupla da CORE Autosport seria campeã por ter uma vitória a mais. Tapa com luva de pelica na IMSA, que dividiu LMP2 e DPi para 2019 em categorias diferentes.

Mas durante a transmissão do Fox Sports 2, lembrei de um detalhe: esses carros do regulamento “Global Cars” têm uma capacidade padrão de combustível e, com a mudança de regulamento, os motores Gibson V8 são potentes – mas são beberrões. E o risco de precisar de um splash & go era grande.

IMSA WeatherTech SportsCar Championship
Renger Van der Zande, Jordan Taylor e Ryan Hunter-Reay tiveram combustível suficiente no tanque para poder vencer a Petit Le Mans, na última curva da última volta!

Não deu outra: Colin Braun precisou parar quando vinha em quarto lugar. Pipo Derani, que fez a pole position e buscava a segunda vitória consecutiva – na despedida dele na equipe – também foi aos boxes para não ficar pelo caminho com pane seca. O alívio nos boxes da AX Racing, com a notícia do pit do principal rival, foi geral.

E nisso, Felipe Nasr, que vinha num ritmo muito pior que os demais carros da classe principal, superou o carro #85 da JDC-Miller Motorsports, então guiado por Simon Trummer. Na última volta, o Cadillac #5 da mesma equipe de Nasr, que vinha com Filipe Albuquerque no comando, engasopou após a chicane e desceu a última curva praticamente no embalo, perdendo a vitória para o #10 da Wayne Taylor Racing, do trio Renger Van der Zande/Jordan Taylor/Ryan Hunter-Reay.

O Mazda Team Joest fez ótima prova e acabou completando o pódio com seus protótipos Mazda RT24-P DPi, um deles conduzido por Lucas Di Grassi em sua estreia na IMSA. Albuquerque e os parceiros Tristan Vautier e Christian Fittipaldi fecharam num frustrante quarto posto.

Mas a AX Racing ficou feliz: o 8º lugar, já que o carro da CORE terminou à frente, bastou. Com 277 pontos contra 274 de Jonathan Bennett e Colin Braun, Felipe Nasr e Eric Curran são campeões de 2018 da série IMSA.

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Toda a equipe reunida por Doug Fehan (de óculos escuros): foram os mecânicos, ao trabalhar no mínimo tempo com o máximo de eficiência, que deram à Corvette e aos pilotos Antonio Garcia e Jan Magnussen o título em 2018

A pitada de drama que marcou a conquista do piloto brasileiro também deu o ar da graça na GTLM. E em cores ainda mais vivas e terríveis para a dupla da Corvette formada por Jan Magnussen e Antonio Garcia.

Um raro erro do piloto espanhol após uma saída de box fez com que o carro #3 passasse muito próximo do desastre total. Na colisão com o muro de proteção do circuito de Road Atlanta, vieram os danos e o drama, porque não se sabia a extensão desses danos. Garcia se arrastou como pôde para os boxes e dali para o caminhão da equipe, onde os mecânicos trabalharam febrilmente.

Foram os sete minutos mais intensos que vi uma equipe viver para poder devolver a dupla de volta à prova e tentar o que passou a ser quase um milagre, já que a exemplo do que aconteceu na Prototype, o panorama começou a pender para o lado dos então vice-líderes na tabela, o britânico Richard Westbrook e o australiano Ryan Briscoe, da Ford Chip Ganassi Racing.

Porém, as coisas passaram a não dar certo para a dupla do carro #67, que perdeu qualquer possibilidade de brigar pela vitória e principalmente pelo título da temporada. A Corvette Racing, mesmo com o carro #3 em oitavo lugar, respirou aliviada. De qualquer forma, Oliver Gavin e Tommy Milner estavam de sobreaviso para ajudar os companheiros de equipe no que fosse necessário – o que acabou por não acontecer.

2018 IMSA - Petit Le Mans
Com o visual alusivo aos carros das 24h de Le Mans e da Petit Le Mans de 20 anos atrás, a Porsche venceu na GTLM com o trio Pilet/Tandy/Makowiecki

A vitória na última prova foi da Porsche, com o trio Patrick Pilet/Nick Tandy/Fred Makowiecki completando 419 voltas, em 12º lugar na classificação geral. Gavin e Milner tiveram a ajuda de Marcel Fässler – que pilotou nos dois Corvettes – para chegar ao segundo posto, à frente da BMW de John Edwards/Jesse Krohn/Chaz Mostert.

Com 322 pontos somados em onze corridas, seis a mais que Briscoe e Westbrook, os experientes Antonio Garcia e Jan Magnussen protagonizaram um feito inédito: foram campeões sem ter vencido uma corrida sequer ao longo da temporada. No total, conquistaram oito pódios – seis deles em sequência, sempre chegando em 2º ou terceiro. É regularidade que fala, né?

No NAEC, o título ficou com a dupla Dirk Müller/Joey Hand, que derrotou por um solitário pontinho a dupla Patrick Pilet e Nick Tandy. A Ford não saiu de mãos abanando de Road Atlanta, pois no confronto dos construtores, levou também o seu caneco.

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Com um comportamento exemplar na Petit Le Mans, Madison Snow e Bryan Sellers fizeram por merecer o título da GTD

A disputa pelo título da GTD foi mais sossegada e por conta do bom desempenho ao longo da disputa, Bryan Sellers e Madison Snow foram os pilotos que menos sustos tiveram. Com o terceiro lugar na prova em sua categoria, merecidamente saíram campeões da Petit Le Mans, com 333 pontos contra 329 da vice-campeã Katherine Legge, que terminou em segundo.

Mas a grande estrela da pista foi o brasileiro Daniel Serra, que novamente deu um show de competência junto a Cooper MacNeil e Gunnar Jeannette, levando a Ferrari #63 da Scuderia Corsa a uma grande vitória na prova final do campeonato. Foi a única vitória do modelo 488 GT3 em 2018. Felipe Fraga também fez um belo papel e colaborou com a P1 Motorsports, sétima colocada na categoria.

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À sua maneira discreta, Daniel Serra comemora mais uma grande vitória em provas internacionais, junto aos exultantes Gunnar Jeannette (de óculos) e Cooper MacNeil

O título do NAEC ficou com Jeroen Bleekemolen/Ben Keating/Luca Stolz, que derrotaram Legge e o português Álvaro Parente na soma dos pontos das quatro provas de maior duração do calendário.

E mais uma temporada do IMSA termina. Como tinha que ser, com emoção de sobra. Eu, que faço parte do Fox Sports há pouco mais de cinco anos, fico particularmente feliz porque a casa deu muito espaço para a série em 2018 e fomos todos recompensados. Oxalá possamos fazer mais no próximo ano.

Um último recado pra você que leu esse post e acha que Endurance é chato: depois da Petit Le Mans, reveja seus conceitos. Nunca é tarde demais para começar tudo de novo.

Comentários

  • Sensacional transmissao da FOX SPORTS…o trio “parada dura” deu um show a altura do que foi esta prova… a PORSCHE vence outra vez….

  • Corridaça!!! E parabéns pro menino Nasr!!!! E como você sempre escreve aqui, caro Mattar: existe vida além da F-1!!!!
    Tirando a bobagem da IMSA separar para a próxima temporada os DPi dos LMP-2, 2019 tem tudo para ser uma temporada muito mais disputada. E já tenho meus favoritos: Pipo Derani e Felipe Nasr!!! Além da óbvia patriotada, vejo como uma dupla fortíssima e com equipe e carro a altura do talento dos dois…
    E menção honrosa pro Daniel Serra, que está merecendo uma chance em tempo integral. Salvo engano, a Aston Martin está querendo colocar um carro em 2019 nas provas da IMSA?? Pois é, o menino ganhou com marca em Le Mans em 2017…

  • Foi certamente a melhor prova da temporada (das que vi ao menos) e aqui vai meus pitáculos:
    Com o título na IMSA pela classe Prototype, Nasr dá uma banana bem soberana à F1 e em especial á equipe Sauber, que preferiu mais $$$ e menos talento. Para o no que vem, em dupla com o Pipo, já são seríssimos postulantes ao caneco e ele pode ser bicampeão assim como Cristhian Fittipaldi.
    Na GTLM ,minha classe favorita, fiquei dividido no começo porque adoro os dois carros, mas aquele trabalho dos mecânicos da Corvette Racing foi algo surreal…deve ter sido aplaudido até pela Ford…e por falar em Ford, não tenho nada pessoal contra o “Bryan Riscoe”, mas é notório que ele não tem o mesmo nível do Westbrook, não é a primeira vez que o carro perde performance a partir do momento em que ele assume o volante e, estranhamente (minha opinião) ele é o escolhido para encerrar os turnos num carro que, além do próprio Westbrook, ainda contava com ninguém menos que Scott Dixon…além daquela bobagem que ele fez ano passado na mesma prova, tirando qualquer possibilidade de título e provocando uma absurda punição ao Pipo Derani…
    Sobre o Daniel Serra, disse la na hashtag da transmissão…a Stock está pequena para ele…e digo mais, ele tem nível para uma categoria “Pro” em tempo integral tranquilamente…será que alguém da AF Corse viu a corrida??