Obrigado, Christian!

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As homenagens foram inúmeras durante todo o fim de semana em Daytona (Foto: José Mário Dias)

RIO DE JANEIRO – Trinta e oito anos passaram rápido, com a velocidade de um carro de corrida. Iguais aos que você pilotou ao longo de quase uma vida inteira.

Você achou que era a hora de parar e um dia temos que lidar com isso. Saber fazer isso no momento certo, na hora certa, com mente e corpo ainda sãos, é uma arte.

Lembro de você ainda moleque, da minha idade, começando no kart. Acompanhei seu primeiro Brasileiro em Foz do Iguaçu, se não me engano, em 1982. Um outro garoto de nome Rubens Barrichello estava lá também. Era seu adversário e o seria por longos anos.

Mas você decidiu dar os passos primeiro. Um de cada vez. Fórmula Ford, Fórmula 3 (aqui e na Inglaterra), Fórmula 3000. Tudo com seriedade e profissionalismo.

Imagino a pressão por ter o sobrenome que você tem. Não é fácil ser um Fittipaldi, um Piquet ou um Senna, já que tivemos três gênios carregando esse peso e abrindo portas para as gerações seguintes – e você trilhou os passos de seu pai e seu tio (e isso porque não falamos do seu avô, que foi um gênio na comunicação esportiva deste país).

Uma coluna sua para a Grid me marcou muito. “Meu nome é Silva”, foi o título do texto que você assinou após o primeiro pódio na F-3 Sudam em El Pinar, no Uruguai. Imagino que tenha sido libertador conquistar o pódio, tirando um fardo enorme de suas costas.

Depois acompanhei sua passagem na Fórmula 1. Você não teve carros competitivos, mas mostrou o que valia. Principalmente em 1993, na Minardi. Se o Giancarlo te sacaneou, são outros quinhentos. Teu talento era maior que aquilo e do que a própria cabeça dos dirigentes, que não lhe abriram portas.

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Com Filipe Albuquerque: parceria e amizade na Action Express, onde Christian segue – agora como diretor esportivo, função que já exercia desde 2017 (Foto: José Mário Dias)

Azar o deles. Você foi ser feliz nos EUA e isso é o que importa.

E sobretudo, você mostrou ser mais profissional do que nunca. Na Nascar, na Stock Car Brasileira, Trofeo Linea e até na extinta Fórmula Truck. Lá estava você com seu inconfundível capacete, que emula o de seu pai, só que ao contrário – sei que de vez em quando você faz um afago no Tigrão e bota as cores dele – de quem você deve carregar um puta orgulho, e de também ter ganho uma Mil Milhas junto a ele.

Essa foi uma das suas vitórias que queria ter visto de perto.

Novamente você se reinventou nos EUA após sua primeira passagem na Fórmula Indy. Trilhou um bonito caminho na IMSA e antes mesmo, na Rolex SportsCar Series, já sabíamos de seus sucessos e conquistas – como a do primeiro troféu de campeão em Daytona, há 15 anos.

E depois vieram outros – 2014 e 2018. Veio também um título da IMSA, após a unificação da Grand-Am com a ALMS. E vitórias. E títulos do certame paralelo de provas mais longas – Daytona, Sebring, Glen e Petit Le Mans.

O que mais precisa provar pra que todos nós que te respeitamos saibamos que você foi um piloto exemplar?

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Sintonia e parceria com João Barbosa desde as últimas temporadas (Foto: José Mário Dias)

“Largamos em 11º, chegamos a andar entre os top 6. Mas, infelizmente, enfrentamos alguns problemas elétricos ainda no início da prova e perdemos muitas voltas nos boxes para o conserto. Uma pena, porque o carro estava muito consistente e tínhamos boas chances não fossem os problemas. Mas conseguimos terminar a corrida. Não era o resultado que queríamos, mas não posso resumir 38 anos de carreira em 24 horas”.

“Encerro minha carreira com a melhor sensação possível. Extremamente feliz e realizado com tudo que consegui. Sou muito grato a minha família, equipes pelas quais passei, patrocinadores que me apoiaram e a todos que sempre torceram por mim. Hora de iniciar um novo capítulo na minha vida, com a certeza de que fiz o meu melhor ao longo de todos estes anos nas pistas”.

Nós concordamos.

Obrigado, Christian!

Comentários

  • Vale lembrar também que tem coisas que estão fora do controle na carreira, quando Christian tinha um carro bom , aconteceu toda tragedia em 94 e seu time que teve um carro bem nascido teve que modifica lo e não tinha grana pra desenvolver como os times grandes e perdeu o rumo. To falando do Arrows Footwork FA15 , depois da morte do Senna a federação fez modificações aerodinâmicas e estragou o carro.
    Acho que esse foi o momento onde o rumo do Christian na F1 desandou.

  • MAs como disse o Mattar , ele sou refazer sua carreira e é um dos maiores pilotos da historia da IMSA!!!! Como um bom Fittipaldi , mostra o caminho de um novo eldorado do automobilismo para demais pilotos do pais.
    Outra coisa que sempre gostei do Christian é sua enorme franqueza , jamais se coloca em cima do muro , sem ser deselegante , um caráter de envergadura.

  • Piloto da melhor qualidade. Vi ao vivo guiando F-Ford, F-3, Indy e Stock-Car. Clássico, reduções perfeitas, trajetórias apuradas, mas duro nas ultrapassagens e defesas de posição.
    Bela carreira!

  • Show!!

    Belo texto. Bom saber que há quem reconheça o valor de um piloto sem ter que contar títulos mundiais de Fórmula 1. Há vida longa e próspera em outras categorias, e ele soube fazer isso muito bem!
    Que seja feliz e que siga contribuindo com sua experiência!

  • Sempre achei que o Christian merecia melhor sorte na F1. Tanto em 93 quanto em 94, mesmo correndo em equipes de médias pra pequenas, ele sempre aproveitava bem aquela primeira metade de campeonato para dar uma brilhada e garantir uns pontinhos enquanto o orçamento da equipe ainda permitia uma certa competitividade.

    Pra vc ver como são as coisas, tava lembrando daquela série “Grandes Entrevistas” que o Grande Prêmio publicou faz alguns anos, nela o Christian dizia que tinha 3 possibilidades pra 95 na F1: a) ser reserva da McLaren; b) possibilidade de ser titular da Sauber; c) proposta da Tyrrell.

    Ele acabou optando pela Tyrrell (que aliás tinha feito um bom carro em 94) e “só” faltava assinar o contrato, mas aí o Salo – que iria correr pela Lotus caso esta não tivesse falido – chegou com um caminhão de dinheiro da Nokia e comprou a vaga.

    O engraçado disso tudo é que, apesar da Tyrrell ter sido em tese a escolha mais lógica, tivesse ele assinado ou com a McLaren ou com a Sauber, o Christian com certeza teria corrido aquela temporada como titular. Afinal de contas, o Wendlinger nunca se recuperou do acidente em Mônaco e foi substituído na maior parte do campeonato pelo Bouillon, e no caso da Mclaren, o Mansell mal cabia no carro e no seu lugar entrou o Blundell, que tinha sido contratado justamente como piloto de testes.

  • Tai um sujeito que pelas contas é o mais honesto dentre vários pilotos…
    Até mesmo no sangue…( se é que me entende),;;; esse não tem rabo preso e não tem vergonha de mostrar a cara…enquanto uns…vivem na sombra..e tem papagaios voando………………………

  • Acompanhei toda a carreira do Christian, mas pra mim a corrida mais emocionante foi a “Indy 500” de 1995 onde ele chegou em segundo lugar, atrás apenas do J. Villeneuve, e o principal, eu estava lá na arquibancada.
    Foi muita emoção, estar naquele templo e ver mais um do clã Fittipaldi chegar nessa 2a posição !!!
    Abraços.

  • Caramba…eu ainda menino (11 anos) lembro da estreia dele na F1 em 1992, depois na extinta CART, onde já se destacava pela equipe Newmann Haas. Ainda tive honra de vê-lo pilotar in loco na Stock Car e na também extinta Fórmula Truck e, de volta aos USA ele se torna um dos principais nomes do endurance por lá…realmente, nada mais tinha de provar a ninguém e, retira-se das pistas de maneira digníssima.
    Obrigado Christian!!

  • Corridas marcantes do Christian:

    1. Indy 500 1995 – 2º lugar
    2. 24h de Daytona 2004 – 1º lugar
    3. GP da África do Sul 1993 – 4º lugar
    4. Portland 1997 (CART) – 4º lugar (primeira corrida após o acidente de Surfers Paradise)
    5. Road America 1999 (CART) – 1º lugar