Cali Crestani, o Cavaleiro Solitário

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RIO DE JANEIRO – Lá ia o blogueiro aqui ao lado da mulher amada para o pré-Carnaval do último domingo, quando chegou a notícia infausta. O nosso querido Cali Crestani, o Cavaleiro Solitário do Endurance Brasil, não resistiu a um câncer e morreu aos 63 anos.

Cali foi uma das figuras mais queridas que conheci entre todos os gaúchos que tão bem me receberam em suas provas e pistas. Nesses últimos três anos, estreitamos os laços. Estivemos juntos algumas vezes. Sempre passava no box da equipe que trabalhava no simpático protótipo Tornado LFC, construído pelo antigo piloto e hoje engenheiro Luiz Fernando Cruz, pra dar um alô e trocar uns dedinhos de prosa com ele e seus mecânicos.

Era uma equipe modesta, mas cheia de garra e vontade de fazer bonito com um carro de motor de moto (Suzuki Hayabusa), que com seu ronco característico e giro lá em cima, fazia a delícia de quem torcia por Davi contra os Golias das provas longas. O Cali, além de um sujeito formidável, era um bota de muita qualidade – e que na maioria das vezes corria sozinho provas de duas, três horas de duração, contra adversários que se revezavam nos cockpits.

Quem viu viu, e eu vi o Tornadinho dando calor nos adversários duas vezes em 2016 – nas 500 Milhas de Londrina e nas 12h de Tarumã, quando chegou a ser líder e infelizmente, após muitos problemas, ficou para trás. Na memória, guardei os boxes inteiros de Tarumã aplaudindo a volta do #3 à pista, já na parte final. Um privilégio para os olhos e ouvidos.

O Cali era assim. Sem pedir nada, conquistava a todos com seu jeito simples e sua pilotagem aguerrida e abusada. Também travou vários duelos contra guris e veteranos de alto calibre nos monopostos da Fórmula 1.6 do Rio Grande do Sul, com aqueles chassis herdados primeiro da Fórmula Ford, a posteriori Fórmula Rio, Fórmula Petrobras e, por último, Fórmula São Paulo.

Vai ser estranho subir os boxes de Tarumã no sentido contrário, quando eu voltar lá um dia – esse ano, acho difícil, infelizmente… – e não conseguir se emocionar ao não ver o Tornado LFC #3 na garagem, do jeito que fosse – preto, azul, branco – e até mesmo com o adesivo do Grêmio Esportivo América de Tapera, que me chamou a atenção certa vez – porque eu nem tinha ideia que existia um América no RS – inclusive, o Cali foi patrocinador do clube.

Obrigado, Cali… por ter sido você mesmo durante todo esse tempo. Até na sua última corrida, em outubro do ano passado quando – disso soube no fim de semana – você teve que sair da disputa porque, já combalido pelo tratamento, seu físico não resistiu. Tenho certeza que se tivesse reunido forças, você conseguiria receber sua última bandeira quadriculada.

Mas o destino lhe pregou uma peça e ela veio antes. Meus pêsames sinceros aos familiares e amigos mais chegados.

Um abraço, tchê! A gente se vê pelas pistas aí de cima, um dia.

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