Direto do túnel do tempo (437)

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RIO DE JANEIRO – Data redonda e especial: em 1984, no dia 25 de março daquele ano, Ayrton Senna da Silva estreava na Fórmula 1.

O garoto nascido e criado no bairro paulistano de Santana chegava ao topo do esporte a motor via Toleman, após uma sequência avassaladora de títulos no automobilismo inglês.

Após dois vice-campeonatos mundiais de Kart em 1979/80, Senna concluiu que o melhor era seguir carreira na Europa. Indicado por Chico Serra, chegou à Van Diemen de Ralph Firman, antigo mecânico de Emerson Fittipaldi. Ganhou tudo o que pôde na Fórmula Ford 1600 em 1981 e fez o mesmo na Fórmula Ford 2000 (também conhecida como Super Formula Ford), pela Rushen Green Racing.

Nessa época, com 22 anos, já era sensação. Nelson Piquet vinha do título mundial de Fórmula 1 em 1981, mas em algumas corridas preliminares da categoria máxima os desempenhos daquele talento emergente encantavam e até ofuscavam o compatriota. Foi daí que nasceu a amizade com Galvão Bueno, que no mesmo ano começava como narrador das provas da Rede Globo.

Na Fórmula 3 inglesa, Senna dirigiu para a West Surrey Racing, de Dick Bennetts. Foi o “Silvastone” para a imprensa local, que adorava trocadilhos. E também “Senna-Sational”, quando ultrapassou 200 km/h de média horária numa pole position, naquela que era uma das pistas mais velozes da época.

Mas Martin Brundle, seu rival da época, engrossou o caldo e vendeu caro a batalha pelo título, conquistado por nove pontos (132 a 123) a favor de Ayrton.

Ainda em 1983, Senna fez o tradicional teste oferecido pela Marlboro ao campeão da categoria. O primeiro Fórmula 1 que andou foi o McLaren MP4/1C de motor Cosworth, que fora guiado por John Watson e Niki Lauda.

Até Bernie Ecclestone se interessou pela jovem revelação brasileira e acenou com a possibilidade de reunir na mesma equipe o novato Ayrton e o bicampeão Piquet, que teria sido contra a ideia do patrão. Corre a história que Nelson apostou US$ 100 mil com Ecclestone, tamanha a certeza de que Senna não seria mais veloz que ele num teste em Paul Ricard, no qual estavam presentes também o italiano Mauro Baldi e o colombiano Roberto Guerrero.

Fechada aquela porta pela Parmalat, que exigiu um piloto italiano – e foi atendida – restou a Toleman, com quem Senna assinou um contrato de três anos.

O primeiro teste foi ainda em 1983, no circuito de Silverstone, com o mesmo modelo TG183 que o piloto estrearia na Fórmula 1 em Jacarepaguá no GP do Brasil. Ayrton também fez muita quilometragem com o carro, que tinha motor Hart Turbo quatro cilindros em linha e potência perto de 900 HP em qualificação.

Após as sessões de qualificação da primeira etapa do campeonato, Senna ficou com o 16º lugar – 1’33″525, largando na mesma fila que Teo Fabi (o novo companheiro de Piquet na Brabham) e à frente do venezuelano Johnny Cecotto, com quem o brasileiro dividia as garagens da Toleman.

A corrida de Senna foi efêmera: ele conseguiu passar a primeira volta em 13º, superando dois carros e também a Brabham de Nelson Piquet – que ficou parado na largada. Mas não ganhou mais posição alguma. Pelo contrário. Uma falha no turbo precipitou uma perda substancial de posições pelo novato do carro #19 e na oitava volta, Ayrton encostava nos boxes. Fim de corrida.

Nada que o abalasse: na segunda corrida, em Kyalami, veio o primeiro ponto. Com o modelo TG184, que estreou em Dijon-Prénois, aquele novato mostrou progressos e um atrevimento sem tamanho. A começar pelo inesquecível GP de Mônaco e os pódios subsequentes na Inglaterra e em Portugal, quando já havia dado adeusinho à Lotus, rasgando o contrato com a Toleman para assinar um acordo com a então ainda tradicional equipe britânica.

Há 35 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • Boa lembrança, Rodrigo !
    Em relação a aposta, no documentário “A Era dos Campeões”, o Piquet afirma que houve a tal aposta. Mas…vindo do Piquet…só Deus sabe!
    A destacar que a temporada na Toleman só soprou a favor do brasileiro quando a equipe trocou os famigerados pneus Pirelli, pelos Michelin (da temporada de 83).

    O resto, são histórias, lágrimas e saudade…

  • Oi Rodrigo.
    Registro mais um elogio por este artigo de cunho histórico (sou da teoria ‘recordar é viver’). Dito isso, aproveito para indagar se você lembra aquela clássica manchete de Quatro Rodas, envolvendo comentário de Senna sobre esta corrida: Lembra “‘Na minha corrida de estréia, não consegui pegar carona no vácuo de Piquet”.
    Have a good one and, please… keep those historical articles coming!!!!!

  • Quando SENNA ingressou na F1, começou o pesadelo de PIQUET…seu fim estava próximo. Restou-lhe “tentar” ofuscar o brilho e o talento de SENNA com seu modus operandi de falar mais do que pilotar…quando deixou a F1, PIQUET saiu pelos fundos e poucos ouviram a porta bater…ficou sim, a lembrança de um excelente piloto, aguerrido e batalhador que fez jus aos seus 3 títulos mundiais….