Moco, eterno

Moco

RIO DE JANEIRO – Acredito que o moço da foto seja ídolo de muitos leitores deste espaço. Ou que, pelo menos, tenha respeito e admiração de muitos de vocês.

Foi num 18 de março, como hoje, que José Carlos Pace tragicamente nos deixou vítima de um acidente aéreo até hoje de inexplicáveis versões, em que morreram também o piloto da aeronave, Carlos Roberto de Oliveira e o também piloto e velho amigo de Moco, Marivaldo Fernandes.

O “Muriva” ou “Fiapo”, como era apelidado pelo porte físico magro, foi um fiel amigo de Pace durante todos os anos em que o Zé guiou. Fosse aqui ou no Exterior. No Brasil, os dois dividiram a condução da lendária Alfa Romeo P33 da Jolly-Gancia. Antes de Pace ganhar as pistas europeias, foi preciso tirar deles o posto de melhores do automobilismo nacional. Ninguém conseguiu, no ano de 1969.

Daí, Carlos ganhou as pistas internacionais. Venceu o Forward Trust, um dos vários campeonatos da Fórmula 3 inglesa logo em seu primeiro ano no exterior, numa decisão dramática e debaixo de chuva e neve, em Thruxton. Venceu oito vezes em 1970. E subiu para a Fórmula 2, de monopostos 1,6 litro e que muitos pilotos de Fórmula 1 guiavam na época.

Naquela categoria, deu show ao ganhar o GP de Imola com um March 712 preparado por Frank Williams. A “gara tutta al attacco”, bem ao gosto dos italianos – e Pace era um oriundi – foi assistida por Enzo Ferrari e o Commendatore não hesitou em lhe convidar, via Chico Rosa, para um almoço em Maranello, seguido de um convite para guiar a Ferrari 312 P em Fiorano.

Pace bateu o recorde do circuito de testes com o Esporte-Protótipo. Logo na estreia, foi 2º colocado nos 1000 km de Zeltweg, em 1972. Seria igualmente segundo em sua única participação nas 24h de Le Mans, em 1973.

Para o Moco, não tinha tempo ruim. Fosse com os prosaicos DKWs do início da carreira, passando pelos Aranae de Fórmula Vê e depois a moderna Alfa e os monopostos que guiou em Fórmula 3, Fórmula 2 e Fórmula 1, sem contar os protótipos Ferrari, AMC, Gulf-Mirage e UOP-Shadow, tudo era guiado com garra, paixão e tesão pelo piloto brasileiro.

Sua morte bateu fundo em Bernie Ecclestone, seu patrão na Brabham. Tido como um homem frio, o maior dirigente da história da Fórmula 1 se emocionou quando perdeu o seu principal piloto, no início do campeonato de 1977. Talvez tenha sido a perda mais sentida por Bernie no esporte. Muito mais do que quando Jochen Rindt, a quem empresariava, perdeu a vida em Monza. Isso sem falar em Elio de Angelis, quando os interesses à frente da comercialização da Fórmula 1 já tomavam a frente dos seus negócios na equipe na qual foi proprietário entre meados de 1971 e 1987.

A perda devastadora do Zé, aos 32 anos apenas, nos faz pensar se ali no cockpit daquele carro vermelho decorado com as cores da Martini & Rossi não estaria um legítimo campeão do mundo.

Essa indagação permanece viva na nossa memória e história, até hoje.

Moco, eterno.

Saudades!

Comentários

  • Muito boa esta recordaçao do Moco para os que ja passaram de 6.0. E tambem muito boa para que a garotada que curte automobilismo conheça um pouco da carreira deste pilotaço, que nao deveu nada para os melhores do mundo!

  • Grande Moco!
    Pena que a sua estátua está tão escondida em Interlagos que muitos esquecem que ele se chama oficialmente “Autódromo José Carlos Pace”!!!

  • Assisti recentemente ao Gp do Brasil de 1977: Pace lidera com autoridade, mas escorrega na Curva 3 (onde o asfalto, em 1977, estava esfarelando), controla a escorregada, mas seu bico bate no pneu traseiro de James Hunt (veja em https://www.youtube.com/watch?v=w3WNCQBIbK4 ali pelo 22’40”. Uma pena, por pouco ele não controla a derrapagem, com o que perderia uma posição ou duas, mas seguiria na prova.

    A Brabham de 1977, além de mais linda que a de 1976 (que está na foto do ‘post’), era competitiva; Pace se foi quando poderia vencer bastante. Uma tragédia mesmo.

  • Cronologicamente, o Moco foi o meu terceiro idolo no automobilismo. Ainda menino, meu idolo era o Bird, no automoiblismo nacional, e o Clark no internacional. Aos poucos comecei a prestar atenção no piloto que a Willys as vezes colocava nas Berlinettas.
    Quando assisti a corrida do Moco no Rio, no antigo circuito, com o KG Porsche azul claro, ainda de lata, tive a mais absoluta certeza de que estava vendo a tocada de um grande piloto. Não ganhou por que os pneus não aguentaram o ritmo imposto, mas ninguém foi mais rápido naquele dia, e o show de habilidade foi inesquecível pra quem assistiu. Vi outros shows do Moco no Rio, mas o principal foi com a P33 da Jolly, nos treinos, quando quebrou o recorde do circuito, e meteu uma montanha de tempo em todo mundo. Mesmo com a concorrência se fortalecendo, com GT40 e Lola T70, ninguém chegou nem perto dos 1.28 3/10 que o Moco “foi buscar” com a Alfa 2 litros. Pelo que me lembro, esse tempo do Moco nunca foi batido, nem mesmo pelos F. Ford internacionais do Torneio BUA, em 1970.
    Moco, que desde os tempos do kart era penalizado pelo peso, não foi foi tão bem na Formula Ve, andando de Aranae e depois de Fitti Ve, mas chegou a apresentar grandes performances. Fora disso, ganhou com tudo o que correu no Brasil, Alfa, KG Porsche, Bino Mark II. Depois , todo mundo sabe, campeão de F3 com recorde de volta em quase todas as pistas, temporadas sofriveis com carros fracos na F2, apesar das vitorias espetaculares em Imola e em Interlagos. Dai veio a F1.
    Pace nunca foi um cara de sorte. Apesar de ser um monstro guiando, nunca teve carros a altura de seu talento, e em algumas vezes das em que teve, a sorte ou as ordens de equipe não permitiram o sucesso (como na Ferrari).
    A todos os chefes de equipe para quem guiou, Pace encantou com seu talento; Para Greco ele era um dos 3 ET’s, junto com Clark e Senna. Williams, Surtees, Ecclestone todos tiveram muitas palavras de puro elogio ao talento natural desse grande piloto.
    A abertura do topico sobre o Moco na Motor and Sport é assim: “Charming and personable, Carlos Pace had raw talent and bravery in abundance.”
    Vou comentar apenas mais um fato, muito pouco conhecido: na Argentina, numa corrida em Balcarce, guiando um sofrível prototipo 2 litros AMS, Moco deu um verdadeiro show de pilotagem, ao ponto de (na epoca) os argentinos terem passado a chamar uma das curvas do circuito de “Curva Pace”.

    O Zé, como os amigos o chamavam, foi um dos grandes. Tenham certeza.

    Antonio

  • Depois das declarações do blogueiro Mattar e do leitor Antonio Seabra, quase nada mais resta a dizer do grande Moco.
    Não tivesse sido levado no trágico acidente, certamente estaria entre os grandes, mesmo se não alcançasse títulos, como Gilles Villeneuve, Stirling Moss, etc.
    Ainda guardo na lembrança o GP Brasil de 1975, única vitória de Pace, quando eu tive a felicidade de estar no “Bico de Pato’, como comissário de pista.
    Abração.

    • Grande lembrança, do grande Talarico, de quem tive a oportunidade de duelar pelo último lugar do pódio…até perder a roda traseira direta na penultima volta, na primeira etapa do primeiro ano de Copa GP de Kart. Rsrs
      Grande Abraço Talarico!

  • Bom nasci em 1984, não vi Moco correr, somente no YouTube e em postagens como está no mestre Rodrigo.
    Eu jamais irei esquecer que o Autódromo de Interlagos leva o nome de José Carlos Pace, como também um dia eu piá de merda como chamamos aqui no Rio Grande do Sul uma criança pequena, meu pai dirigindo me levando para a escola na sua velha Santana Quantum, e eu comentando sobre o Senna. Então ele me conta com lágrimas nos olhos parte da história do Moco e sobre o acidente, isso me marcou, meu total respeito a este monstro do nosso automobilismo!

  • É como costumo falar: “Torcer pra quem sempre vence é fácil!”
    Apesar do pouco sucesso na F1 foi um piloto que deve sim (assim como tantos outros) ser muito respeitado!
    Assim como alguns, não tive a oportunidade de vê-lo correr, a não ser pelo “VcTubo”, contudo, li diversas histórias sobre Moco. Engraçado que na infância, quando ouvia o nome do autódromo de Interlagos, ficava me perguntando: “Quem foi José Carlos Pace?” Tempos sem internet. Hoje facilmente podemos encontrar diversas histórias que valorizam ainda mais diversos outros como Pace, apesar do povo ainda ficar no “disco riscado” de lembrar apenas dos 3 com títulos (sem menosprezar suas conquistas logicamente).
    Grande lembrança Rodrigo Mattar!

  • Infelizmente não vi o Moco correr. Uma pena.
    Eu por um bom tempo fui daqueles que achavam que, como nas estatísticas ele só tinha uma vitória, não tinha sido lá grande coisa. Até descobrir que ele se foi cedo demais. E que poderia, se tivesse tempo e um pouquinho só de sorte, ter sido perfeitamente campeão do mundo.
    Bem que podiam falar dele na transmissão do GP do Brasil, e não ficar só na verborragia “senna eterno”.

  • Talarico,

    Eu estava lá (Graças a Deus, nada como assistir in loco a primeira vitoria de um idolo). Minha primeira viagem interestadual guiando meu carro. Só eu, minha esposa e minha cadela Doberman, na Variant 73 verde hippie, horrorosa. Mas era meu primeiro carro. Eram outros tempos, sem internet, sem GPS, São Paulo super mal sinalizada. Era um drama pra se achar em Sampa. Rio-SP em 4h exatas, pé embaixo o tempo todo, um tempo respeitável pra época e pro carro., e mais 3 horas dentro de SP, de madrugada, até achar a casa dos avos da minha esposa, onde iriamos pernoitar. Chegamos as 3h da manhã em Santo Amaro, nem dormi. No sábado, chegando pra ver o treino, tiroteio entre policial e cambista, bem na hora em que eu estava estacionando. Me escondi em baixo da Variant por cerca de 1 minuto, até tudo passar. O Moco não andou bem no treino, foi apenas sexto. Eu esperava que ele tivesse ao menos ficado na frente do team mate, Reutemann, que foi terceiro. Decepção.
    Domingo cheguei muito cedo no autódromo, estacionar foi um drama, achar lugar pra ver a corrida foi outro. Tinha muito mais gente do que eu imaginava torcendo pelo Moco. Muita gente usando uma camiseta branca, escrito “Torcida do Pace”. Tentei comprar uma, mas não consegui. Assiti o warm up la no fim do retão, O Moco freava pra lá do Deus me livre. Pensei: “vai passar gente aqui….” Saudades do tempo em que havia warm up !!!!
    A manhã foi passando e o calor foi dando o ar de sua graça. Perto do meio dia parecia que tinha aberto as portas do inferno. O caminhão dos bombeiros passava, jogando agua nos torcedores, virou uma farra da agua. Assisti a largada na parte interna entre a 1 e a 2, Deu pra ver o Moco fazendo por fora, passando Regazzonni e Lauda. Esse era o Moco !!!! Desceu o retão já em terceiro, atras do Jarier e do Reutemann.
    Pensei, esse argentino não dura muito na frente dele. o Moco enconstou logo, mas demorou um pouco pra passar. Pensei: “deve estar poupando pneus, esse BT-44 é um destruidor de pneus dianteiros. Se demorar a passar o Jarier vai embora….” . Na verdade, já tinha ido. Um foguete o Shadow.
    Pronto, agora ele deu sinais que vai passar o Lole, tirou do vacuo no retão, freou lá dentro…”ah….eu sabia !” Um enorme frisson em Interlagos !!!!
    Agora vai tentar buscar o Jarier….
    Começou a abrir do Reutemann, mas o meu cronógrafo de mão, um Heuer de botoes verde e vermelho, mostrava que o francês continuava abrindo.
    Lá atras, Emerson começava a duelar com Lauda e Regazzoni. Levantava o braço e agitava a mão, mostrando pros bandeiras que o Rega estava fechando a porta. Imagina a mesma situação nos tempos de Senna ou Schumacher, ou nos tempos atuais de Versatappen e cia, todo muito que quisesse passar teria de guiar com os dois bracos levantados e agitados ! He,he, he.
    A essa altura eu já tinha assistido um pouco da Curva do Sol (a curva que separava os homens dos meninos) e agora já estava assistindo a corrida na curva do Sargento. Não vi o Jarier parar, mas pelo frisson, o Moco tava na liderança !!!! Ai começou o nervosismo: será que os pneus aguentam, o carro ta saindo muito de frente, acho que essa suspensão dianteira tá cedendo….O Moco é azarado mesmo, caralho !!!!” Emerson passou o Rega e começou a acelerar. Mas a distancia era muito grande. “O Emerson é um grande estrategista mesmo, agora tá voando, Conservou os pneus no calor pra acelerar no fim, como o carro leve. Se ele pegar o Moco, eu infarto”. O velho Heuer mostrava a distancia diminuindo, e eu fazendo contas: “vai chegar colado, mas não vai passar….” será que o Mo tá controlando, guardou uma reservinha ???”
    Tinha, acelerou um pouco mais nas 2 ultimas voltas, era o suficiente. La do Sargento eu não via a linha e chegada, mas o frisson confirmava a minha expectativa. Quando passou entre a 1 e a 2, a luva vermelha pra cima, era o sinal: GANHOU !!!!!
    A volta da Vitoria foi uma ovação só em Interlagos. Sentei no chão e chorei. Naquele calor infernal, sem água pra beber, eu não sentia sede, não tinha fome, nada. Só pensava, O MOCO GANHOU !!! Agora o Brasil tem 2 vencedores na F1 !!!
    Minha mulher, morrendo de cansaço, fome e sede, queria ir embora, e eu queria ver o podio. Disse pra ela: “Ah não, agora aguenta !!!!”

    Fui lá pro pódio, tentei chegar perto, era muita gente, vi muito pouca coisa. Mas eu tava lá !!!
    Demorei mais uma hora andando por Interlagos, tentando ver o Moco, ver mais alguma coisa, Todo mundo falava com todo mundo. Alegria total.
    No dia seguinte comprei todos os jornais de SP !!!! Guarei por muito tempo os cadernos esportivos, falando da corrida, da Vitoria. do Moco.

    Valeu muito essa minha primeira ida a SP !!!