Desapego

RIO DE JANEIRO – Sábado de Fórmula 1, dia de (algumas) notícias do automobilismo. Mas nenhuma delas me chamou tanto a atenção quanto ao que foi publicado pelo portal Tazio: Rubens Barrichello estaria querendo voltar à categoria máxima na temporada 2013.

Detalhe: seria pela Caterham, uma equipe que ainda não decolou. Outro detalhe: o piloto teria que entrar com verba para garantir sua participação – que seria a 20ª dele na Fórmula 1.

Todo mundo sabe que, no começo do ano, fui um dos que defendeu que Barrichello tinha que desapegar de vez da Fórmula 1 e trilhar um novo caminho. Existia um chance ótima, no meu entender: o recém-terminado Mundial de Endurance (WEC), perfeito para ele por sua experiência imensa e pela finesse de um piloto que dificilmente era visto cometendo erros nas pistas. Porém, ele optou pela Fórmula Indy, após um teste bem-sucedido pela KV Racing, que não era – e nunca foi, é bem verdade – uma potência da categoria, mas seria bom tentar.

Mesmo na categoria ianque, muitas vezes Barrichello nos deu a impressão que sua cabeça estava longe dos ovais e dos circuitos mistos e urbanos em que competiu em 2012. Houve repetidas declarações dele sobre a Fórmula 1, uma coisa meio mal-resolvida, não sei… e que não soaram bem. Mais um motivo para que ele desapegasse pois, a partir do momento que a Williams optou por Bruno Senna, não era Barrichello que desistia da F-1. Era justamente o contrário que estava acontecendo.

Nada contra o Rubens disputar três corridas da Stock Car. Nada contra, mesmo. Mas também não acho que seria a melhor saída para ele, a esta altura do campeonato. Nos EUA, com a chancela da Honda, que o quer, Barrichello teria a possibilidade de se engajar numa equipe média, mas com chances potenciais de crescimento, que é a escuderia dirigida por Sam Schmidt e Davey Hamilton, pela qual o francês Simon Pagenaud deixou excelente impressão em 2012.

E agora, chega esta notícia de uma frente aberta com a Caterham que, repito, é uma equipe que ainda não decolou – e que pelo visto parece não ter grandes ambições a não ser encher seus cofres. O que explica, de algum modo, a contratação do francês Charles Pic e a necessidade de mais um pay driver para 2013.

Ora… para isso, a equipe fundada por Tony Fernandes pode se socorrer de um Giedo Van der Garde, de um Luiz Razia – que humildemente já admitiu que só poderá correr de F-1 se levar dinheiro e até mesmo de um Bruno Senna, que – consta – está com os dias contados na Williams e o seu sobrenome atrai investidores.

Acho sinceramente que se Rubens Barrichello quer se sujeitar a este papel, pior para ele. Aos 40 anos (41 em maio), já era hora d’ele ter refletido e pensado que Fórmula 1 não dá mais. Se ele se sente competitivo e motivado, que continue na Indy ou então venha pra Stock. A decisão é dele, não minha. Só estou opinando a respeito.

E, cá pra nós, depois que um piloto como Pedro de la Rosa consegue voltar à F-1, eu não duvido de mais nada. Nem do regresso de Rubens aos circuitos do Mundial, em 2013.

Comentários

  • Essa ideia do WEC, que você citou, seria uma boa. Categoria de ponta, com um bom investimento das montadoras. Tem um potencial muito bom pra crescer e ter mais visibilidade em curto prazo. Mas todo mundo sabe como o Rubens é… Mesmo gostando de verdade dele, eu acho lamentável, essa coisa dele não conseguir desapegar da F1…

  • Sempre fui admirador do Barrichello mas, acho que a melhor opção seria mesmo a WEC. Não mostrou muita coisa na Indy, equipe não ajudou, e na Stock não é seu lugar. Sua carreira na F1 ta encerrada, se voltar numa equipe média ou pequena da F1, vai passar vergonha, o torcedor brasileiro quer resultados, deixa o Razia tentar, vai pra WEC Rubinho ou vai pra casa.

  • Vejo que muitas pessoas citam uma série de categorias que o Rubens deveria correr, com sua saída da F1. Stock Car, DTM, WEC, Indy, FIA GT1, kart, autorama. Cada um costuma defender aquela que gosta mais.

    A grande verdade é que para um piloto que ficou quase 20 anos guiando na maior categoria de todas, qualquer coisa diferente disso é quase brochante. Creio que se não fosse o Tony Kanaan (amigo de longa data) guiando pela mesma equipe do Rubens, este não teria acertado para correr na Indy. Ficou nítido, em muitas corridas, um certo descontentamento dele com a categoria, e vice-versa.

    Não faz muito tempo, participei de um Hangout em que o Luís Razia era o convidado. Perguntei a ele quais categorias teria interesse em correr, caso não acertasse com alguma equipe de F1 para 2013. A resposta dele foi bem clara: “Não vejo muitas opções. Talvez a única seria essa categoria aí que correm protótipos, que o Di Grassi correu em Interlagos, pois os carros tem bastante tecnologia e tudo mais. Fora isso, prefiro ir pescar”. E olha que ele mal sentiu o gostinho da F1…

    Ou seja, se desapegar da F1 é bem difícil. A melhor forma é perder a vontade ou velocidade, o que não é o caso do Rubens. Ele tem a plena convicção que ainda tem muita velocidade pra queimar, e que não é possível que com tudo o que tem para oferecer, não esteja na categoria. Vai tentar até onde der, continuar por lá.

    Apoio sua determinação.

  • Situação complicada. Depois de guiar em uma categoria TOP, com tanta tecnologia, velocidade, profissionalismo, deve ser difícil desapegar mesmo. A Indy não tem o profissionalismo da F1. Talvez o mundial de Endurance, ou DTM…mas a Stock Car brasileira está muito abaixo do que ele merece e tem capacidade de produzir.

  • Concordo com tudo Rodrigo. O problema pro Barrichello é que para ele só existe a F1 assim como boa parte dos brasileiros aí realmente fica difícil. Ele não está se dedicando 100% a Indy e não vai se dedicar para outra categoria. Existem categorias que pilotos com a idade dele em que se pode fazer sucesso e se ter prestígio como é o caso das corridas de Endurance. Acho que o maior perdedor disso tudo é ele mesmo.

  • Ele tinha é que virar comentarista! A corrida ontem foi espetacular por si só. Mas o Barrichello acrescentou MUITO com seus comentários. O “grid walk” foi bem legal também. Acho que é a melhor forma dele acompanhar a F1 no ano que vem. Vai participar do mundo da F1, vai se divertir, e vai ganhar muitos pontos com o público, que ainda insiste em criticar tudo que ele faz (embora muitas coisas sejam dignas de críticas, mesmo).

  • Gostei 100% dos comentários postados aqui. Mostra que todos entendem muito bem sobre o assunto (F-1), ao contrário do que ocorre em outros sites, em que os “acompanhantes de novela” (a maioria deles) insistem em falar mal dos brasileiros (Barrichello, Massa e Bruno), prova de que NADA entendem de automobilismo.
    Sobre o assunto do post, creio que Barrichello deveria se dedicar mesmo a F-Indy, afinal ele sempre pilotou monopostos e se “acostumar” com as diferenças entre a organização das Indy e da F-1.
    O que falta no meio automobilistico é uma categoria de monopostos, como a, prematuramente falida, GP Masters, exclusiva para pilotos veteranos (digamos acima de 35 anos).
    Mas deixo esse assunto para, caso o Rodrigo considere importante, debater em um post dedicado ao assunto.