Lua viajante

RIO DE JANEIRO – Feriado que celebra o Dia da Consciência Negra, e os shoppings pondo gente pelo ladrão. Foi assim que passei parte da minha terça-feira, com os cinemas entulhados de fãs dos vampiros da “saga” Crepúsculo e outros ávidos por ver até onde vai James Bond no novo filme da série 007. Optei por um caminho um pouco mais simples: assistir na telona a história de Luiz Gonzaga e seu filho, Gonzaguinha, dirigida por Breno Silveira, o mesmo que já contara há alguns anos a vida dos Dois Filhos de Francisco.

Valeu a pena esperar quase um mês inteiro para ver como se desenhou a trajetória do Rei do Baião desde Exu, no sertão de Pernambuco, até a difícil relação com Gonzaguinha, fruto de um relacionamento de Gonzagão com uma dançarina do famoso Dancing Avenida, lá pelos anos 40.

Enquanto o velho “Lua” desfilava Brasil afora com seus xotes e baiões que conquistaram o povo, Gonzaguinha sofria com a ausência do pai e da mãe, falecida prematuramente vítima da tuberculose. Talvez aí esteja o cerne do porquê de tantas canções do filho de Gonzagão serem por vezes difíceis, qual coração dilacerado, qual carne cortada a faca com sua lâmina fria. Não foi à toa que, quando iniciou carreira musical e num estilo diametralmente oposto ao pai, já que era um ativo militante de esquerda, Gonzaguinha tinha o apelido nada singelo de “cantor rancor”.

Buscando o passado a limpo e sua própria história de vida, Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior fez o que tinha de ser feito. Deixou para trás tudo o que passou, a ausência, a saudade e se reaproximou do velho Gonzagão, surpreendendo o país inteiro nos anos 80 com uma turnê que foi um sucesso nacional.

A relação entre pai e filho, tão tempestuosa, tornou-se intensa e de um imenso respeito. De ambas as partes. Gonzagão se foi em 1989. Gonzaguinha, menos de dois anos depois, num acidente de carro. Como dito várias vezes, saíram da vida e entraram para a história de uma música que ainda tinha muito a dizer – totalmente o inverso dos tchus tchas que infestam as rádios.

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