Jamais esquecerei!

019RIO DE JANEIRO (… o professor é um cara legal… vai aprovar novamente…) – Hoje, 2 de dezembro de 2012, uma das mais tradicionais instituições de ensino do Brasil chega ao seu 175º aniversário. Refiro-me ao Colégio Pedro II, do qual tenho um orgulho imenso de ter feito parte como aluno, mesmo que por somente três anos – de 1988 a 1990.

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Enquanto muitos passaram parte de suas vidas por lá, do Jardim de Infância até o antigo 3º ano do segundo grau, eu sou meio que um alien no meio desse povo. Quando fiz a prova de admissão, nem sonhava em estudar lá. Nem queria, aliás. Passaram-se 22 anos desde que saí do CPII e cada dia mais agradeço à minha mãe por ter insistido em me inscrever para o concurso e por ter passado por lá.

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Foi no CPII que fiz amigos para a vida toda. Na faculdade, não tive tanta ligação com as pessoas e olha que eu conheci centenas delas. No trabalho, nunca fiz amigos. Tive colegas, o que é diferente, porque trabalho é um negócio muito competitivo.

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Não se enganam aqueles que dizem que o Pedro II tem um quê de magia. Não foi à toa que a minissérie Anos Rebeldes, exibida pela Globo em 1992, começa sua emocionante história que misturou realidade e ficção nas míticas escadarias do prédio da Marechal Floriano, no Centro.

002O tempo passou e todos nós envelhecemos em idade. Mas conservamos dentro de nós o velho espírito moleque, daqueles que honraram o uniforme, subvertem a marchinha “Cidade Maravilhosa”, berram a Tabuada a plenos pulmões e entoam “Fibra de herói” de cor.

Para encerrar, um texto – brilhante, como sempre – do imortal Nelson Rodrigues, publicado no Diário Carioca, em 1963 – ano em que ele foi proclamado aluno honorário do Colégio Pedro II – mui possivelmente em razão deste artigo.

Amigos, a manchete é um dos vícios fatais da nossa época. Se um jornal anunciar o fim do mundo em uma coluna, ninguém vai se assustar. Pelo seguinte: – porque o homem só sabe vibrar em oito colunas. E a catástrofe que não venha no alto da página, aberta de fora a fora, perde todo o impacto. É a obsessão da manchete. 
 
E, no entanto, vejam vocês: – a poesia do jornal está, por vezes, na notícia miúda, no registro pequeno, em tipo liliputiano. Ainda ontem, por exemplo, eu li um simples texto-legenda que é uma preciosidade. Imaginem vocês que o Pedro II ganhou os Jogos da Primavera (N. do blog – evento criado por Mário Filho, um dos irmãos de Nelson Rodrigues e que batiza o Maracanã), a maior olimpíada do mundo! Claro que houve, lá no velho e eterno Colégio, uma euforia brutal.
 
E o Pedro II resolveu trazer para a rua sua alegria fabulosa. Houve passeata, escarcéu, correrias, o diabo. Amigos, o brasileiro servil teve a reputação de povo triste. E, de fato, o sujeito não dá um passo, aqui, sem esbarrar numa melancolia, sem tropeçar numa depressão. Nas esquinas, nos botecos, há sempre um brasileiro pingando hipocondria. Lembro-me de um turista que perguntava intrigadíssimo: – ‘Quem é que morreu?’ 
 
De fato, temos por vezes o ar de quem chora um imaginário defunto. Mas se este povo é triste, há uma imensa, jucunda, deslumbrante exceção: – o aluno do Pedro II. Tenho um amigo meu que vive rosnando: – Nesta terra, até as cadeiras são neuróticas.  Ao que eu responderia: – Menos as cadeiras do Pedro II -. Porque, lá, os móveis também são coniventes no humor dos alunos.
 
Uma das mágoas que eu tenho na vida é a de não ter sido, na minha infância ou juventude, aluno do Pedro II.  Andei por colégios mais lúgubres do que a casa do Agra. Mas há, em mim, até hoje, a nostalgia de não ter estudado ou fingido que estudava lá. A rigor, não são os professores que me interessam no Pedro II. Nem os seus problemas de ensino. O que me deslumbra no aluno do Pedro II não é o estudante, mas o tipo humano. Ele deve ser um mau aluno (tomara que seja), mas que natureza cálida, que apetite vital, que ferocidade dionisíaca.

 
Olhem para as nossas ruas. Em cada canto, há alguém conspirando contra a vida. Não o aluno do Pedro II. Há quem diga, e eu concordo, que ele é a única sanidade mental do Brasil. E, realmente, não há por lá os soturnos, os merencórios, os augustos dos anjos. Os outros brasileiros deveriam aprender a rir com os alunos do Pedro II.
 
Volto ao texto-legenda. Em poucas linhas está descrita a comemoração da vitória. E não se lê, no jornal, uma palavra de simpatia, e pelo contrário: – é evidente a irritação. Quem redigiu a nota está indignado com a euforia total dos estudantes. Mas reparem como o jornal hipocondríaco está sendo bem brasileiro. De fato, nós somos uns ressentidos contra a alegria, e repito: – a alegria ofende e humilha os impotentes do sentimento.
 
Por fim, o colega chama os meninos de ‘pequenos vândalos’. Não se pode desejar uma incompreensão mais nostálgica. Por que ‘vândalos’? Porque andaram quebrando umas cadeiras e, sobretudo, porque andaram chupando Chicabon sem pagar. Vamos admitir, risonhamente, que é lamentável. Mas nunca houve um 7 de setembro, ou um 14 de junho, sem atropelos inevitáveis. Os apertões cívicos derrubam senhoras, asfixiam menores. E nas procissões há quem bata carteira, ou atropele, ou desmaie. Vamos concluir que os patriotas e os devotos são vândalos?
 
Numa terra de deprimidos, o alegre devia ser carregado na bandeja como um leitão assado. E devíamos subvencionar o Pedro II para inundar a cidade, diariamente, com a sua alegria total, ululante. E vamos arrancar a máscara de nossa hipocrisia. Pois, no fundo, invejamos amargamente a garotada que lambeu de graça tanto Chicabon.

Comentários

  • A-pai-xo-nan-te… o texto, a ideia, o Nelson Rodrigues… estudei no CPII de 1982 a 1990, passei pelos três turnos, aproveitei cada extra como clube de Espanhol e jazz… sou apaixonada por essa escola e pelos alunos dessa escola. Fico procurando esse espírito pedrosegundense em cada aluno meu… não o encontro. Me frusto. Preciso usar essa maravilhosa ferramenta internet para buscar forças nos meus amigos de escola. Suas lembranças, nossas lembranças me fortalecem, como ser humano e professora. Obrigado, Rodrigo Mattar, mesmo sem ter sido de um dos meus círculos de amigos no CPII, por suas lembranças, porque sempre seremos irmãos de escola!!!!

  • Opa… Ex-aluno presente !!!!

    Estudei na seção Tijuca de 1980 a 1983 (ginásio) e de 1984 a 1987 em São Cristovão (2o grau).

    Pedro II tudo ou nada ?!?!?!