Discos eternos – Snegs (1974)

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RIO DE JANEIRO – Nos anos 70, o rock and roll passava por uma metamorfose. Tempos de músicas longas, chamadas “suítes”, muitos sintetizadores, viagens, músicos cabeludíssimos ou barbados e experimentalismo. Era o rock progressivo para a moçada da época curtir um barato.

No Brasil, o prog rock engatinhava. Ao defenestrarem Rita Lee, Os Mutantes direcionaram seu bem-humorado estilo para beberem na fonte de quem serviu-lhes de inspiração, como Yes, Emerson Lake And Palmer, King Crimson e Premiata Forneria Marconi. O Terço também entrou de cabeça no gênero e surgiram outros grupos, como o Vímana e A Barca do Sol. Mas talvez um dos mais emblemáticos da safra seja o Som Nosso de Cada Dia.

O grupo, que começara batizado Cabala em 1970, lançou quatro anos depois de seu surgimento um disco que é referência na história do rock brasileiro e do gênero progressivo, embora pouco conhecido no mainstream. Entre seus integrantes, o mitológico Manito, o virtuose dos instrumentos, oriundo d’Os Incríveis. Ele, Pedro Baldanza (Pedrão) e Pedro Batera (Pedrinho) fizeram misérias em Snegs.

Manito tocou simplesmente quase todos os instrumentos, exceto bateria e baixo. Os sintetizadores, teclados e pianos que pontuam quase todas faixas são dele, além dos violinos, saxes e flautas. O cara era demais! Mas Pedrinho também faz um ótimo trabalho compondo a cozinha rítmica e nos vocais do álbum.

Gravado em menos de uma semana, Snegs contém verdadeiras pérolas do progressivo nacional, como “Sinal da Paranoia”, “O Som Nosso de Cada Dia”, “Snegs de Biuffrais”, “Massavilha” (um show de Manito nos teclados, aliás), “A Outra Face”, “Direccion de Aquarius”, sem contar o rockão “Bicho do Mato”.

O som do grupo, que lançara seu disco pela Continental, chamou a atenção dos responsáveis por trazer Alice Cooper para uma turnê de shows no Brasil. E o Som Nosso foi convidado para fazer a abertura para o roqueiro estadunidense em cinco apresentações no Rio de Janeiro e São Paulo.

Tocaram para um público estimado em 140 mil pessoas no total e levaram a plateia à loucura. Quando Manito tocava os primeiros acordes de “Massavilha”, a massa roqueira ficava boquiaberta e alucinada com o que via e ouvia. Há quem diga que os shows do Som Nosso foram até melhores que os de ‘Tia’ Alice. Mas pode ser só lenda…

Nessa época, Manito deixou o Som Nosso e foi para Os Mutantes, ocupar o lugar de Arnaldo Baptista – por pouco tempo, diga-se. Ele voltaria ao Som Nosso como músico convidado e a banda teria ainda mais dois integrantes: Egídio Conde, guitarrista egresso do Moto Perpétuo e o tecladista Tuca. O grupo lança mais um álbum, Sábado/Domingo, em 1977, pela CBS, com pegada mais funk, onde se destacam as faixas “Pra Swingar” e “Levante a Cabeça!”. Mas a carreira do Som Nosso acabaria ao fim daquele mesmo ao.

Ficha técnica de Snegs
Selo: Continental/Phonodisc (vinil) e PRW (CD)
Produção: Peninha Schmidt
Gravado em maio de 1974 nos Estúdios Sonima, em São Paulo
Tempo: 44’25” (versão em CD) e 37’54” (vinil)

Músicas:

1. Sinal da Paranoia (Cimara-Pedro Baldanza)
2. Bicho do Mato (Gastão Lamounier)
3. O Som Nosso de Cada Dia (Paulinho-Pedro Baldanza)
4. Snegs de Biuffrais (Paulinho-Pedrinho-Pedro Baldanza)
5. Massavilha (Paulinho-Pedro Baldanza)
6. Direccion de Aquarius (Paulinho-Pedro Baldanza)
7. A Outra Face (Paulinho-Pedro Baldanza)
8. O Guarani (Carlos Gomes) *

* Faixa bônus somente na versão em CD

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