Mais um título com a marca da vergonha

RIO DE JANEIRO – O francês Cyril Després é, pela quinta vez, campeão do Rali Dakar. Mais um título maculado por polêmicas e que só fazem aumentar a rejeição que o público tem em relação ao seu nome. E parece que ele não se importa muito com isso. Vai comemorar como se nada tivesse acontecido.

despres testing dakar 2013

O mal do francês é achar que o mundo gravita em torno dele, como se nada existisse à sua volta. Quando disputou o Rali dos Sertões, levou um passeio do brasileiro Zé Hélio Rodrigues Filho e achou que podia ter os mesmos privilégios que o ASO lhe dá, por ser do mesmo país dos organizadores do Dakar. Deu piti, comportou-se como uma criança mimada e a Dunas Race nunca mais o convidou para vir ao Brasil.

No Dakar, Després faz o que bem entende. No ano passado, demonstrou falta de espírito esportivo ao ignorar um concorrente num atoleiro – do qual o francês foi ajudado para sair, é bom que se diga. Nesse ano, perdeu a cabeça com o espanhol Juan Pedrero Garcia, que o ultrapassou na 13ª e penúltima etapa, bradando que é o “número um” da KTM e que o usual “mochileiro” de Marc Coma, ausente da edição deste ano, não poderia nunca tê-lo superado.

Temperamental, mau-caráter, Després infelizmente chega muito perto do recorde individual de títulos nas motos: Stéphane Peterhansel, com seis conquistas no Rali Dakar, é o maior vencedor da competição. O piloto da KTM deixou para trás o italiano Eddy Orioli, que também vencera o Dakar em quatro oportunidades. E iguala o compatriota Cyril Neveu, que soma cinco títulos.

Na edição deste ano, em 14 especiais disputadas, Després venceu apenas uma, a 9ª etapa, disputada entre San Miguel de Tucumán e Córdoba, na Argentina. Além de uma irritante regularidade, contou com mais uma colaboração do ASO para conquistar o título, quando deveria ter sido desclassificado por trocar o motor de sua máquina em uma etapa maratona e não punido com acréscimo de tempo de 15 minutos.

Some-se a isso o fato de Ruben Faria, que vinha à frente dele na classificação geral, ter que se sujeitar a um vergonhoso jogo de equipe, diminuindo o ritmo de propósito para deixar Després com uma confortável margem na liderança no somatório dos tempos. No fim das contas, se o chileno Francisco “Chaleco” López não tivesse recebido também uma punição de 15 minutos, talvez o sul-americano tivesse se esforçado mais para derrotar o francês na última etapa, entre La Serena e Santiago.

“Chaleco” venceu a última etapa do Dakar 2013 com o tempo de 1h42min37seg e, graças à punição, desceu para 3º na classificação geral final, atrás de Després e Faria. O francês completou a derradeira especial em décimo-sétimo lugar, com 1h47min04seg, logo à frente do brasileiro Jean Azevedo, que ao fim da competição acabou com a 23ª colocação.

Em meio a mais uma conquista duvidosa de Després, tivemos a grata surpresa de ver o eslovaco Ivan Jakes em quarto; duas Honda no top 10 final no regresso do fabricante japonês em caráter oficial ao Dakar; e a presença de três pilotos portugueses na linha de frente – Ruben Faria, Hélder Rodrigues e Paulo Gonçalves, consolidando a ótima reputação dos nossos “patrícios” nas competições Cross Country.

Classificação final do Rali Dakar 2013, categoria motos:

1º Cyril Després (França/KTM) – 43h24min22seg
2º Ruben Faria (Portugal/KTM) – 43h35min05seg
3º Francisco “Chaleco” López (Chile/KTM) – 43h43min10seg
4º Ivan Jakes (Eslováquia//KTM) – 43h48min06seg
5º Juan Pedrero Garcia (Espanha/KTM) – 44h19min51seg
6º Olivier Pain (França/Yamaha) – 44h19min51seg
7º Hélder Rodrigues (Portugal/Honda) – 44h35min44seg
8º Javier Pizzolito (Argentina/Honda) – 44h50min29seg
9º Frans Verhoeven (Holanda/Yamaha) – 44h50min57seg
10º Paulo Gonçalves (Portugal/Husqvarna) – 44h52min42seg

Comentários

  • Tive a oportunidade de conhecer e conviver um pouco com o Despres no Rally dos Sertões que ele venceu, em 2006. Realmente, ele carrega um ar de muita superioridade e arrogância, mas é o típico francês mais afrescalhado, que dá piti. Fora do ambiente de competição, relaxado, é um cara até divertido, bacana, falante. Um contraste absurdo e assustador. Uma bipolaridade que nunca vi em nenhum outro piloto.

  • Cada vez mais podemos ver porque os franceses sempre vencem o dacar. Por tudo que temos observado, agora que acontece mais próximo de nos, vemos que a ASO privilegia abertamente os competidores franceses, tanto nas motos quanto nos carros. Acredito que, sendo bons competidores, eles nao precisam disso. Nao e esse o legado que Thierry Sabine gostaria de ter deixado…

  • E não foi exatamente isso que Schumacher fez durante toda a sua carreira? Na F1 de Briatore, Ferrari, Todt e cia, fez o que sempre quis, e no fim, se deu bem…