Saudosas pequenas – Arrows, parte IV

6786568632_906b84b552_zRIO DE JANEIRO – O ano de 1983 começou, a Arrows mal tinha condições de andar com as próprias pernas – pois não havia dinheiro – e, pior, a mudança de regulamento obrigou a equipe a refazer o modelo A5 e criar, no menor tempo possível, um novo bólido. Dave Wass teve a tarefa de desenhar o A6, criado para funcionar com o fundo plano e dentro do peso mínimo de 540 kg, imposto para aquela temporada. Sem chances de migrar para os motores turbo, Jackie Oliver assegurou os motores Ford Cosworth para o que seria mais uma temporada de provações para o time britânico.

O dirigente também tivera a infeliz ideia de tirar Alan Jones da aposentadoria, com a promessa de que o australiano levaria o apoio da Valvoline, garantindo alguns cobres para o time de Milton Keynes. Grotescamente gordo, Jones ainda sofreu um acidente caseiro, o que o impediu de estrear com a equipe no GP do Brasil,  em Jacarepaguá.

Com um carro vago, quem bateu à porta da Arrows oferecendo seus préstimos foi o brasileiro Chico Serra. Com uma pequena verba da Caloi, o piloto da finada equipe Fittipaldi tentava uma sobrevida na Fórmula 1. E o desempenho da Arrows na corrida lhe deu esperanças.

Marc Surer, que brilhara dois anos antes na chuva, com um Ensign, saiu de 20º no grid e conseguiu um belíssimo sexto posto. Serra, 23º classificado, teve uma luta titânica com ninguém menos que René Arnoux (de Ferrari, é bom lembrar) por 22 voltas. Acabou superando o francês, ganhando o aplauso do torcedor – eu era um deles, aliás – para chegar em nono lugar naquela corrida. Na época, Serra admitiu que, quando recebeu uma oferta para estrear por eles em 1981, não acreditou nas possibilidades do time. “Fui muito mal-recomendado”, garante. Pelo visto, quem falou mal não sabia o que dizia…

gp_eua_long_beach_1983_005Enfim… Jones conseguiu participar do GP dos EUA-Oeste em Long Beach, mas sua presença pouco foi notada. Embora tenha se qualificado em 12º no grid, quatro posições à frente de Surer, o campeão de 1980 ficou pelo caminho. O suíço, aproveitando que a pista de rua favorecia os carros com motor de aspiração normal, somou mais dois pontinhos para a conta dele e do time.

Jones admitiu que não estava de fato pronto para voltar à Fórmula 1 e regressou para suas fazendas na Austrália. Chico Serra foi chamado de volta, mas Jackie Oliver foi bem claro. O primeiro piloto que aparecesse com mais patrocínio, pegaria a vaga de vez.

Em Paul Ricard, pressionado pela adversidade, o brasileiro sofreu um acidente nos treinos, capotando com o A6. Largou em último e abandonou por quebra de câmbio. Surer foi o 10º no GP da França. Em San Marino, o suíço conseguiu mais um 6º lugar e Chico foi o oitavo.

8330serraa6cosmon01O ponto alto do time foi em Mônaco, onde os dois pilotos se classificaram, numa corrida onde John Watson e Niki Lauda, que tinham feito dobradinha em Long Beach, ficaram de fora. Exímio piloto de Rali, Marc Surer se sentia à vontade em condições adversas e fez uma ótima corrida em Monte-Carlo, ocupando a 3ª posição por 40 voltas até se envolver numa colisão com Derek Warwick. Chico Serra largou em 15º e chegou em sétimo, bem próximo de um pontinho que poderia ter feito a diferença a seu favor.

Como não fez… o brasileiro resignou-se com a chegada de Thierry Boutsen, com o tal dinheiro que Jackie Oliver tanto aguardava. Apesar do reforço no orçamento, a equipe sofria com a falta de potência dos motores Ford Cosworth em comparação aos propulsores turbocomprimidos e pouco – ou quase nada – Surer e Boutsen puderam fazer do GP da Bélgica em diante. Houve um 5º lugar no grid obtido pelo suíço em Detroit e algumas colocações razoáveis quando as pistas velozes tomaram conta do calendário.

1159973100_fDiante das dificuldades, os resultados dos dois pilotos foram bastante honestos: Surer conseguiu um 7º posto na Alemanha; Boutsen repetiu o resultado em Detroit e no Canadá. E ficou nisso mesmo. Os quatro pontos somados por Surer no começo do ano foram tudo o que a Arrows conseguiu em 1983, terminando o Mundial de Construtores em 10º lugar.

Como permanecer com os motores aspirados significava continuar dando um passo atrás enquanto a concorrência já dava dois à frente, a Arrows fechou um acordo com a BMW pelo leasing dos motores do fabricante alemão. O dinheiro dos cigarros Barclay e da Nordica, fabricante de equipamentos de esqui, representou o que o time britânico precisava para a temporada de 1984, com Surer e Boutsen mantidos nos seus lugares.

No início do campeonato, o time não conseguiu aprontar dois chassis do novo modelo A7 a tempo e a solução foi seguir com o A6 de motor Ford Cosworth enquanto o carro a receber o motor BMW não ficava pronto. Os dois pilotos largaram no fundo do pelotão no Brasil e em Kyalami, mas pelo menos completaram ambas as corridas. Com a eliminação da Tyrrell, anunciada no meio do campeonato, Boutsen, que terminara a corrida de Jacarepaguá em sétimo, ficou com o ponto do 6º lugar.

5203219291_448e084c61Outra corrida onde o belga foi beneficiado foi o GP de San Marino, onde também uma Tyrrell pontuou e o resultado foi cassado. Boutsen ficou com a 5ª posição, na sua última corrida com o modelo A6. Ele, aliás, foi o primeiro a receber o A7, justamente em Zolder, quando o motor BMW quebrou em sua estreia com a Arrows.

marc_surer__great_britain_1984__by_f1_history-d5f7rnjA partir do GP dos EUA, em Dallas, os dois pilotos receberam igual tratamento no que dizia respeito ao equipamento, mas tanto Surer quanto Boutsen tiveram desempenhos discretos, alternando classificações modestas para as corridas e dezenas de abandonos por falhas mecânicas. O único resultado positivo aconteceu no GP da Áustria, quando Boutsen chegou em 5º e Surer fez seu único ponto do ano. Apesar da mudança de padrão, a Arrows fechou a temporada com cinco pontos somente – muito pouco para quem ambicionava mais com a chegada dos motores BMW.

Vamos ver no próximo post, alusivo às temporadas de 1985 e 1986, se a sorte do time mudou…

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