Saudosas pequenas – Arrows, parte VII

Arrows a11RIO DE JANEIRO – Assim como praticamente todas as equipes no Mundial de 1989, a Arrows resolveu apostar num carro com propostas arrojadas para aquela temporada. Ross Brawn concebeu o modelo A11, um carro bastante diferente do que tudo o que a equipe havia apresentado até então.

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Com aerodinâmica bastante trabalhada, dianteira estreita e side pods ultrabaixas, o A11 também tinha duas derivas verticais, uma de cada lado dos spoilers dianteiros, para facilitar a passagem de ar para os pontões da carroceria. Um carro tão compacto quanto este deu dor de cabeça pelo menos para uma pessoa: Eddie Cheever, que de estatura acima da média dos pilotos, sofreu um bocado para se adaptar ao novo Arrows. Ele dividiria a equipe pelo terceiro ano consecutivo com Derek Warwick.

O britânico começou o ano com resultados bem melhores que os do companheiro de equipe: foi 5º colocado no Brasil e em San Marino, sendo que em Jacarepaguá, Warwick perdeu tanto tempo numa troca de pneus que não seria leviano dizer que ele tinha chances reais de vencer a corrida – e a Arrows não pertenceria a este rol. Já imaginaram?

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Largando lá atrás, normalmente, Cheever fez um 7º lugar em Mônaco e no México, até que sua larga experiência em circuitos urbanos valeu de alguma coisa no massacrante GP de Phoenix, disputado num calor de rachar catedrais. O estadunidense foi 3º, correndo em casa.

No Canadá, sob um autêntico dilúvio, Warwick chegou a liderar por quatro voltas, mas seu motor quebrou. Na corrida seguinte, ele não pôde participar – fraturou uma costela numa prosaica corrida de kart – e a Arrows chamou o novato Martin Donnelly, que chegou em 12º no GP da França, enquanto Cheever era de novo sétimo.

1165332277_fWarwick ainda voltaria à zona de pontos mais três vezes na segunda metade do ano: foi 6º colocado em Hockenheim, Spa-Francorchamps e Suzuka, após a controvertida desclassificação de Ayrton Senna. Cheever, por sua vez, só faria bonito em uma única corrida – a da Hungria, onde deu muito trabalho ao pessoal de Williams, Ferrari e McLaren, andando forte e chegando em 5º porque estava fisicamente esgotado.

Não foi um ano dos piores, mas pesando na balança, pela experiência dos dois pilotos, poderia ter sido melhor: a Arrows acabou o ano em 7º no Mundial de Construtores com 13 pontos. Cheever preferiu buscar outros caminhos para o ano seguinte: saiu da Fórmula 1 e foi para a Fórmula Indy, correr com Chip Ganassi. Derek Warwick assinou com a já decadente Lotus. E a USF&G, após os três anos de contrato de patrocínio, anunciou que ficaria só para mais uma temporada – pagando um valor menor do que o anterior.

Isto deixou Jackie Oliver numa tremenda sinuca de bico para 1990 – e para completar, seu desenhista e engenheiro Ross Brawn caía fora para se juntar a John Barnard e Rory Byrne na ascendente Benetton. As finanças da Arrows não andavam às mil maravilhas e a tábua de salvação foi o dinheiro do japonês Wataru Ohashi, através de sua Footwork.

Com uma condição, porém: a Arrows teria que pensar alto, pensar grande. E para isso, foi “amarrado” um acordo de fornecimento de motores com ninguém menos que a Porsche, que voltava após a vitoriosa parceria com a McLaren e a TAG, empresa do megamilionário árabe Mansour Ojjeh.

Alex Caffi Arrows A11B 01_02Para 1990, entretanto, o motor seguiria sendo o confiável e velho de guerra Ford Cosworth V8. Oliver e Ohashi contrataram uma dupla de italianos: o experiente Michele Alboreto e Alex Caffi, que tinha se saído muito bem no ano anterior pela Scuderia Italia.

O modelo A11B, uma óbvia remodelação do seu antecessor, foi feito por James Robinson, o projetista-auxiliar de Ross Brawn no desenho do A11. O traço do carro em nada lembrava o outro modelo. O bico era menos estreito, os pontões laterais mais altos e o cofre do motor tinha um desenho mais largo para poder acomodar o motor Porsche que ficaria pronto naquele mesmo ano, para os primeiros testes dinâmicos.

footwork-a11b-02Entretanto, o ano não começaria muito bem para o time: Alex Caffi, lesionado, não tinha condições de correr em Phoenix, na abertura do campeonato e foi chamado o reserva Bernd Schneider, que alinhou com o velho A11 enquanto Alboreto tinha o novo carro à disposição. Pelo menos os dois chegaram ao fim: o italiano em 10º e o alemão em 12º.

1990_arrows_a11b_ford_michele_alboreto_mon02Após o duplo abandono no Brasil, já com Caffi de volta, a equipe começou a ter um dissabor atrás do outro: nenhum dos dois pilotos se qualificou para o GP de San Marino e em Mônaco Alboreto ficou de fora. Caffi, pelo menos, salvou dois pontinhos e terminou a corrida do principado em quinto.

E foi tudo o que a equipe conseguiria fazer em 1990. Já de olho no ano seguinte, o A11B foi totalmente abandonado no seu desenvolvimento e os pilotos não podiam fazer milagres. Largavam do meio para o fim da fila e ainda assim, o índice de abandonos dos dois não foi tão alto. Para culminar outro ano triste na história da Arrows, nem Alboreto e muito menos Caffi conseguiram participar do histórico 500º Grande Prêmio da história da Fórmula 1 em Adelaide, vencido por Nelson Piquet.

A Arrows mudaria sua razão social pelos anos seguintes, mas isto é conversa para os próximos posts. Aguardem!

Comentários

  • Fiquei impressionado com a semelhança do nariz do carro de 1990 com os de algumas temporadas passadas, especialmente 2010. Sei que existem inúmeros fatores técnicos que levaram a essa semelhança, mas que parece, parece.
    Legal notar também que o Santoantonio de um dos Arrows (87, acho eu) é muito parecido também com o tipo usado atualmente no LMPs abertos.