Saudosas pequenas – Eurobrun, parte II (final)

RIO DE JANEIRO – Após um primeiro ano sofrível, a Eurobrun começava sua segunda temporada na Fórmula 1 desfalcada: houve uma redução de força-tarefa tanto fora quanto dentro da pista e a equipe se apresentou para 1989 com um único carro: o Eurobrun ER188B, versão ligeiramente alterada do primeiro bólido do time de Senago. O piloto contratado foi o suíço Gregor Foitek, de participações acidentadas e polêmicas na Fórmula 3000, onde quase deu cabo da carreira de Johnny Herbert e efetivamente tirou Michel Trollé, piloto francês, de combate.

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Estabanado e com fama de maluco, Gregor Foitek estreou na Fórmula 1 com a alcunha de “Afoitek”

Além do carro alterado por Mario Tolentino e Bruno Zava e do piloto novo, a equipe tinha outras novidades na área técnica: pneus Pirelli e motor Judd V8, que até deram o ar da graça em Jacarepaguá. Foitek conseguiu uma vaga na pré-qualificação para o GP do Brasil, mas no treino oficial ficou com o 29º tempo e não conseguiu um lugar no grid.

A partir daí, a primeira metade do campeonato seria um desastre coletivo. A Eurobrun e Foitek não passariam de nenhuma pré-qualificação com o ER188B até o GP da Inglaterra. Quatro avançavam e o helvético foi 6º em San Marino, 10º em Mônaco, sexto de novo no México, sétimo nos EUA e Canadá, penúltimo na França e sétimo em Silverstone. À exceção de Paul Ricard e Monte-Carlo, até que não eram classificações vexaminosas. Faltava um carro melhor e motores mais competitivos. E dinheiro.

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Com o Eurobrun ER189 a vida do suíço não foi fácil

Na segunda metade do ano, apareceria o novo carro. O ER189, projeto de George Ryton e Roberto Ori, manteve o (péssimo) desempenho do seu antecessor e não houve nenhum atenuante para Gregor Foitek. Após fracassar com o antepenúltimo tempo da pré-qualificação na Alemanha e na Hungria e ficar em penúltimo na Bélgica, ficou claro que não havia mais condição de piloto e equipe cooperarem juntos e Foitek saiu da Eurobrun.

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Oscar “Poppy” Larrauri voltou à Fórmula 1 para nada

A partir da Itália, chegou o argentino Oscar “Poppy” Larrauri, o velho conhecido de Walter Brun e piloto titular em 1988. Nada melhorou. Ele foi último na pré-qualificação em Monza, sétimo em Portugal, penúltimo na Espanha, nono no Japão e na Austrália. A Eurobrun conseguiu a façanha de passar todo um ano de 1989 em branco, sem conseguir se qualificar para nenhuma corrida.

Em 1990, Gianpaolo Pavanello já não fazia mais parte da sociedade e mesmo assim a equipe não mudou sua denominação. Apesar do péssimo segundo ano do time italiano, a Eurobrun encarou mais uma temporada na Fórmula 1 com dois carros. Trouxe da Fórmula 3000 o também italiano Claudio Langes e o eterno pau-pra-toda-obra Roberto Pupo Moreno, a pedido da Lpr, que patrocinara a Coloni no ano anterior e fora para o time de Senago. O carro era o mesmo ER189 na versão B, ainda com motor Judd e pneus Pirelli.

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“Dêem-me uma cadeira elétrica que eu a faço andar”, eis o lema do bravo Roberto Pupo Moreno

Na estreia, em Phoenix, Moreno tirou partido de sua experiência e levou o carro ao treino classificatório, enquanto Langes ficava fora. O brasileiro fez o 16º tempo na primeira sessão e na segunda choveu. Uma oitava fila era um resultado espetacular para um time que não tinha disputado uma única corrida em 1989.

O piloto fez o que pôde com o carro que tinha em mãos. Caiu para 19º na largada e despencou para último na terceira volta. Quando Berger rodou, sozinho, na perseguição a Alesi, o austríaco ficou atrás de Moreno – E NÃO PASSOU o brasileiro, até abandonar na 44ª volta. Maurício Gugelmin, também às voltas com uma cadeira elétrica –  no caso o March, o mesmo de 89 – foi superado por Moreno, que conseguiu terminar a corrida na 13ª posição, cinco voltas atrás do vencedor Ayrton Senna.

Foi um baita resultado, repito, para uma equipe que passou pelo vexame de dezesseis desclassificações seguidas no ano anterior. E claro que Pupo Moreno ficou empolgado. A corrida seguinte seria em Interlagos e tudo fazia crer que ele estaria entre os 30 nos treinos oficiais.

Só que não deu: ele vinha numa excelente volta que poderia lhe dar a classificação, mas o câmbio do carro quebrou. Um pecado… Moreno ficou com o 6º tempo na pré-qualificação. Langes foi o último – já que o Life de Gary Brabham sequer saiu dos boxes – com um tempo digno da Fórmula 3 sul-americana naquela época.

Em San Marino, novo milagre operado por Moreno: lá estava a Eurobrun com pelo menos um carro no treino classificatório e o brasileiro obteve o 25º lugar no grid, transformado em vigésimo-quarto com a batida de Pier Luigi Martini, da Minardi, que tirou o italiano da corrida. Foi um GP frustrante para Moreno: o acelerador do carro travou logo na primeira volta e ele teve que abandonar.

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Moreno só largou para duas corridas com o Eurobrun e depois do fim do time sua sorte viraria do avesso…

Moreno levou de novo o carro para um treino oficial em Mônaco, mas não teve condição de se classificar. Ficou com a última posição. No Canadá, quase deu: acabou de fora do grid por míseros 0″059, superado pelo italiano Alex Caffi, da Footwork. E no México, o brasileiro foi desclassificado por ter recebido ajuda externa durante uma sessão oficial de treinos.

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O brasileiro aguentou o quanto pôde com um carro tenebroso

A partir da França, Moreno não conseguiria sequer passar da pré-qualificação. Além da falta de dinheiro, da inexperiência de Claudio Langes e da defasagem do equipamento, havia o desinteresse cada vez maior de Walter Brun pela equipe. A situação foi se agravando e chegou um momento em que a Eurobrun só não era pior que a patética Life.

Com Claudio Langes colecionando catorze desclassificações consecutivas no currículo e Moreno no limite da paciência, a equipe não tinha mais como continuar na Fórmula 1. Walter Brun telefonou aos dois pilotos e comunicou que a equipe não viajaria para as duas corridas finais no Japão e na Austrália.

Naquela altura, o brasileiro já tinha arrumado um emprego de piloto de teste na Benetton e o acidente de helicóptero sofrido por Alessandro Nannini foi fundamental para que Moreno assumisse seu posto a ponto de chegar em 2º lugar no GP do Japão, quando dividiu o pódio com o velho amigo Nelson Piquet.

A Brun Motorsports seguiu seu caminho no World Sportscar Championship (WSC) e em 1991, Walter Brun apresentou seu próprio projeto de protótipo: o Brun C91 com motor Judd parecia sofrer o “efeito Eurobrun” e foi um fracasso absoluto. A equipe ainda tinha os velhos Porsche 962C, mas acabou o ano em 9º e penúltimo lugar, com apenas 22 pontos.

Foi a gota d’água: com o desinteresse absoluto da FIA em manter vivo o WSC e o fracasso do Brun C91, a equipe também saiu de cena no Mundial de Esporte Protótipos. Walter Brun fez esporádicas aparições como piloto entre 2000 e 2003, tentando – sem sucesso algum – completar as 24 Horas de Le Mans e Daytona. Hoje, o suíço tem 70 anos de idade e nunca mais foi visto nas pistas.

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