Saudosas pequenas – Larrousse, parte I
RIO DE JANEIRO – A série das equipes pequenas que deixaram saudade na Fórmula 1 homenageia um antigo piloto francês que entre 1987 e 1994 manteve vivo o sonho de ter sua própria equipe após trabalhar como diretor da Renault na categoria máxima: Gérard Larrousse.
Nascido em Lyon no dia 23 de maio de 1940, Larrousse venceu as 24 Horas de Le Mans em 1973 e 1974, sempre na companhia de Henri Pescarolo e ao volante da lendária Matra Simca MS670. Em seu currículo, consta também uma participação numa corrida de F-1 a bordo de uma Brabham BT42 alinhada pela Scuderia Finotto: foi no GP da Bélgica de 1974, em Nivelles-Baulers, pista nas proximidades de Bruxelas. Largou em 28º entre trinta e um pilotos e abandonou na 53ª volta com problemas de pneus. Depois disto, tentou se classificar para o GP da França, com o mesmo carro, mas não obteve êxito.
A curta carreira na F-1 não maculou suas ótimas performances em provas de longa duração. Além da Matra, Larrousse fez parte do time Martini International Racing Team, alinhando os não menos lendários Porsche 908/02 e 908/03, sem contar o inesquecível 917. Ele também foi vice-campeão das 24 Horas de Le Mans em 1969 e 1970, além de vencer as 12 Horas de Sebring e os 1000 km de Nürburgring, ambos em dupla com Vic Elford, no ano de 1971.
Versátil, Larrousse também teve sucesso nos Ralis. Ganhou o Tour de Corse em 1969 e foi segundo colocado no Rali de Monte-Carlo em três oportunidades. Também foi 6º colocado no Rali da Grã-Bretanha, o RAC, em 1970.
Encerrada a carreira de piloto, o francês deu expediente primeiro com a equipe Elf Switzerland no Campeonato Europeu de Fórmula 2, em 1976. E depois disso, trabalharia por muito tempo sob a tutela de Jean Sage, como chefe da equipe Renault até a escuderia encerrar sua participação na Fórmula 1 em 1985.
Para montar sua própria equipe, Gérard Larrousse buscou um sócio: Didier Calmels, um enfant gaté do jet-set francês, empresário, com excelentes relacionamentos entre seus pares. E com um orçamento não muito grande, mas suficiente para os trabalhos começarem, a equipe foi montada. Sem possibilidade de construir naquela época os próprios carros, Larrousse e Calmels foram atrás de uma autorização da FOCA do todo-poderoso Bernie Ecclestone para usar chassis de um outro construtor. A Lola, que fizera carros para a equipe de Carl Haas e tinha perdido o cliente, caiu do céu para os franceses.
Celebrado o contrato e definido que a Larrousse-Calmels correria com motor Ford Cosworth DFZ aspirado, a equipe se preparou sem muita pressa para começar o campeonato de 1987. Ausente do GP do Brasil, Gérard Larrousse conseguiu deixar tudo pronto para a segunda etapa em San Marino, no circuito de Imola.
Philippe Alliot, veterano piloto francês de 32 anos à época, foi escolhido para guiar o único carro do time ao longo do ano. A equipe estreou com um razoável 10º lugar e terminou em oitavo na Bélgica. Mas em duas pistas (Mônaco e Detroit) onde os motores aspirados poderiam ter alguma chance de levar os carros equipados com eles aos pontos, a Larrousse-Calmels ficou pelo caminho. Na França e Inglaterra, então, não tiveram a menor chance.
Mas foi num circuito de altíssima velocidade que Alliot e a equipe conquistariam seu primeiro ponto: em Hockenheim, numa corrida marcada por várias quebras, o Lola LC87 recebeu a quadriculada em 6º lugar. Um resultado tão comemorado quanto o 15º posto no grid da etapa seguinte, na Hungria. Mas Alliot bateu e não pôde aproveitar a boa posição de largada naquela ocasião.
Após mais três corridas de desempenho apagado, Alliot e a Larrousse-Calmels voltaram a marcar pontos de novo com uma 6ª posição, no GP da Espanha disputado em Jerez de la Frontera. Lembro bem que, ao término da corrida, o piloto foi longa e calorosamente abraçado por todos os mecânicos e pelos donos da equipe. Com dois pontos somados no Mundial de Construtores, a Lola ficava entre as dez primeiras da classificação, permitindo à equipe receber o transporte gratuito dos equipamentos pela FOCA, para as corridas fora da Europa.
Mesmo com somente um carro inscrito para todo o primeiro ano, Gérard Larrousse resolveu dar uma chance a uma jovem promessa francesa que fizera uma ótima campanha nas categorias de base: Yannick Dalmas, então com 26 anos, foi chamado para guiar o carro #29 nas três corridas finais de 1987 – México, Japão e Austrália.
Dalmas estreou com um promissor 9º lugar e Alliot fez uma ótima corrida, marcando mais um ponto pela terceira vez no ano. O estreante ainda chegaria em 14º no Japão e em quinto na Austrália – mas, por só ter Alliot inscrito para todo o ano, a Larrousse-Calmels, a Lola e Yannick Dalmas não levaram os pontos. Mas o resultado acabou sendo o melhor de um carro da equipe em seu mais do que razoável ano de estreia. Afinal de contas, ficaram na frente da Zakspeed, da Ligier, que tinha anos de estrada na Fórmula 1, da March e da AGS.
Porque os carros quebravam tanto na F1 ? Se ainda hoje fosse assim seria muito mais emocionante.
Muito bom, adoro essa série ” saudosas pequenas” ,nao perco um dia! Obrigado Rodrigo.
Confesso que não sabia do passado tão vitorioso do francês, inclusive no Rali!
Abr