Saudosas pequenas – Larrousse, parte II

RIO DE JANEIRO – Após um promissor e surpreendente ano de estreia, a Larrousse-Calmels dobrou seus esforços para o Mundial de Fórmula 1 de 1988, como era mais ou menos previsto. Os franceses Philippe Alliot e Yannick Dalmas foram mantidos como titulares e a Lola voltou a conceber mais um carro para o time: o LC88, projeto de Eric Broadley e Chris Murphy.

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A Larrousse-Calmels inscreveu dois carros para o Mundial de 1988

Foi um ano bem diferente do primeiro para a equipe, o que certamente decepcionou um pouco ao esperançoso Gérard Larrousse. O fato é que muitos times que usavam também os motores aspirados naquele campeonato conseguiram fazer carros melhores que os do time francês e contra isso, pouco ou nada havia a se fazer.

Nas primeiras corridas do ano, enquanto Alliot era muito mais rápido em qualificação, Dalmas conseguia os melhores resultados: um 7º lugar em Mônaco e a nona posição no México, no mesmo fim de semana onde o companheiro de equipe detonou seu chassis titular num dos acidentes mais aparatosos daquele ano.

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Prejuízo: o enorme acidente de Philippe Alliot nos treinos do GP do México

A temporada seguiu e os resultados continuaram modestos. Dalmas foi de novo 7º numa pista de rua, em Detroit. E Alliot não conseguiu nada além de chegar duas vezes em nono na Itália e no Japão.

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Aguri Suzuki substituiu Yannick Dalmas no GP do Japão

Após o GP da Espanha, Yannick Dalmas foi vítima da chamada “Doença do Legionário”, contraindo uma grave pneumonia que o impediu de terminar a temporada. Aguri Suzuki, que fazia sua estreia na Fórmula 1, entrou em seu lugar no GP do Japão, chegando em 16º lugar. Na Austrália, a Larrousse-Calmels contratou outro francês, Pierre-Henri Raphanel, que não se classificou para aquela corrida.

Na pré-temporada de 1989, quando a Fórmula 1 mudou completamente para os motores aspirados de 3,5 litros de capacidade cúbica, a Larrousse-Calmels já tinha um acordo para receber os motores Chrysler-Lamborghini V12 projetados por Mauro Forghieri. A novidade foi muito bem recebida dentro da categoria, mas o começo não foi dos mais animadores.

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A estreia do motor Chrysler-Lamborghini V-12 foi no chassi LC88, que ganhou uma versão B

Com o chassi LC88B adaptado ao motor italiano enquanto o LC89 não ficava totalmente pronto, Alliot penou para se qualificar em último para o GP do Brasil, em Jacarepaguá, enquanto Dalmas não se classificava. Alliot chegou naquela corrida em 12º lugar, três voltas atrasado. Em San Marino, os dois abandonaram.

Cabe aqui um pequeno parêntese: àquela altura, Gérard Larrousse teria que se virar com outros recursos para manter sua equipe viva na Fórmula 1. Seu sócio Didier Calmels, que vivia uma crise conjugal desde o ano anterior, ao descobrir que era traído pela mulher, Dominique, matou-a após uma briga, com um tiro de espingarda de caça. O crime aconteceu em 1º de março de 1989. Preso, Didier foi condenado a seis anos de cadeia e teve a pena posteriormente reduzida, saindo para comandar um fundo de investimentos. Fecha parêntese.

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No meio do campeonato, Alliot já andava bem com o LC89

O LC89 estreou num dos menos recomendáveis circuitos para se lançar um carro: as ruas de Monte-Carlo, no Principado de Mônaco. A má fase de Dalmas não tinha fim e ele mais uma vez ficou de fora. Alliot qualificou-se em 17º, mas o motor Lamborghini quebrou. Nas corridas seguintes, a mesma história: Dalmas fora e Alliot conseguindo boas posições de grid, porém vitimado pela falta de confiabilidade do motor e do carro.

Gérard Larrousse tinha que ser drástico, porque na segunda metade da temporada, sem pontos marcados desde o ano anterior, seus carros iriam para a pré-qualificação. Como o quadro de Dalmas não melhorasse, o piloto acabou dispensado. Eric Bernard, egresso da Fórmula 3000 europeia, foi chamado para duas corridas. E não decepcionou: em Paul Ricard, logo na estreia, chegou a ocupar a 5ª colocação pouco depois da metade das 80 voltas, mas o motor explodiu perto do fim. Em Silverstone, ele e Alliot abandonaram.

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Michele Alboreto: penando para ser minimamente competitivo com a Larrousse após ser demitido da Tyrrell

A Larrousse teria que enfrentar o horror da pré-qualificação a partir do GP da Alemanha. E para sair da draga, Gérard convocou um novo piloto, pois Bernard não podia deixar a disputa do título da Fórmula 3000 por força de contrato. Dispensado da Tyrrell, que preferiu Jean Alesi e os dólares da Camel, Michele Alboreto, o veterano italiano, já com 32 anos de idade, ficou com o carro #29 até o fim do campeonato.

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O veterano italiano nunca se classificou abaixo de 13º num grid quando assumiu o #29

Alboreto nunca se adaptou ao Lola LC89. Seu melhor grid foi um 13º lugar em Monza e ele só terminou uma corrida, em Portugal, quando recebeu a bandeirada em décimo-primeiro. Ainda passou pelo vexame de não se pré-qualificar em duas corridas e noutra, onde conseguiu passar pela repescagem, ficou de fora no treino oficial.

Em contrapartida, embora tivesse ficado alijado do GP da Hungria logo na pré-qualificação, Philippe Alliot fez alguns pequenos milagres: 8º no grid do GP do Japão, sétimo em Monza e quinto em Jerez de la Frontera, onde lutou muito para conseguir pelo menos um pontinho para a Larrousse. E conseguiu, com a sexta posição.

Com o 16º e último lugar no Mundial de Construtores, a Larrousse-Calmels, a partir daí só Larrousse, teria que continuar no grupo das equipes que enfrentavam a pré-qualificação. Tempos sombrios, onde haveria uma nesga de luz. Detalhes a respeito, no próximo capítulo da história da escuderia francesa.

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