Saudosas pequenas – Zakspeed, parte I
RIO DE JANEIRO – Em mais de 60 anos de história, a Fórmula 1 viu vários casos de equipes de fábrica que detinham tecnologia para construir seus próprios chassis e motores. Na década de 80, um obstinado alemão fez história entrando como construtor independente, fazendo seus chassis de ponta a ponta, exceto câmbio, freios, rodas e pneus. Todo o resto foi obra e graça de Erich Zakowski, o homem por trás da história da equipe Zakspeed.
Fundada em 1968, a Zakspeed passou a ter status de equipe oficial da Ford cinco anos mais tarde, no Deutsche Rennsport Meistershaft (DRM), uma espécie de Procar da Alemanha. O primeiro modelo construído pela Zakspeed para competição a pedido da Ford foi o Capri, um Grupo 5. Dezenas de pilotos conhecidos guiaram esse carro, como Jochen Mass e Klaus Ludwig.
Em 1981, a pedido da Ford, a Zakspeed construiu um modelo Mustang baseado no chassi do Capri do DRM para a série IMSA GT. O carro, alinhado em parceria com ninguém menos que Jack Roush, chegou a ser conduzido pelo “Rei dos Ovais”: Rick Mears.
A parceria continuou rendendo frutos: a terceira encomenda da Ford para o ateliê alemão foi em dose dupla. Dois protótipos saíram da Alemanha direto para as pistas. O primeiro foi o Ford C100, construído com um motor Cosworth DFL 3,9 litros que passaria a ser utilizado largamente no Campeonato Mundial de Endurance (WSC). Com esse bólido, Jonathan Palmer/Desiré Wilson completaram em 4º lugar nos 1000 km de Brands Hatch em 1982.
No ano seguinte, na IMSA GTP, correu o protótipo Ford Mustang Probe Turbo com motor Capri 1,7 litro, guiado em grande parte do campeonato por uma dupla de peso: Klaus Ludwig/Bobby Rahal. Entretanto, o carro só venceu uma corrida, em Elkhart Lake, com o desconhecido Tim Coconis ao lado de Ludwig.
Aí aconteceu o seguinte: a Zakspeed almejava continuar a parceria com a Ford também na Fórmula 1, desenvolvendo o programa de motor turbo do fabricante de Detroit, que estrearia em 1986. Erich Zakowski ouviu um sonoro “não” e ainda por cima tomou conhecimento de que a parceria estava rompida.
Com o dinheiro da indenização recebida pela rescisão do acordo com a Ford, Erich Zakowski partiu para a realização do seu sonho: não só fazer um motor de Fórmula 1 como TAMBÉM o seu próprio carro. Durante o ano de 1984, o motor turbo 1,5 litro de quatro cilindros em linha começou a roncar em banco de provas e os engenheiros Paul Brown e Chris Murphy projetaram o que seria o primeiro carro da equipe: o Zakspeed 841.
Os primeiros testes foram feitos ainda sem qualquer vestígio de patrocínio na carenagem do bólido, pintado na elegante cor prata – a mesma usada por Mercedes-Benz e Auto Union nos áureos tempos da rivalidade daqueles construtores alemães. Até Manfred Winkelhock, como visto na foto acima, andou no Zakspeed 841 em testes realizados no circuito de Silverstone, após perder a vaga de titular na Fórmula 1 com a extinção da ATS.
Porém, o patrocinador principal não tardaria a chegar: a companhia tabaqueira alemã Reemstma, detentora das marcas Davidoff e Peter Stuyvesant, concordou em estampar no Zakspeed 841 uma terceira marca de sua produção: a West. A equipe se inscreveu para o Mundial de Fórmula 1 em 1985 com um único carro, para o britânico Jonathan Palmer, que fizera sua primeira temporada completa pela RAM.
Por medida de economia, a Zakspeed fez um primeiro ano “de estudos”, com uma participação restrita às 11 provas europeias que constavam do calendário. Ou seja: nada do carro vermelho e branco no Brasil, Canadá, EUA-Detroit, África do Sul e Austrália.
A estreia do 841 aconteceu no GP de Portugal. Palmer qualificou-se com o 23º tempo no grid, mas sua corrida acabou em razão de uma batida, na terceira volta, quando era o último colocado. O britânico conseguiu um surpreendente 17º posto na largada do GP de San Marino e, como façanha do ano, classificou o Zakspeed para correr em Mônaco, numa época onde só largavam 20 pilotos. Palmer saiu em penúltimo e chegou em décimo-primeiro lugar.
O Zakspeed 841, como qualquer novo projeto de carro de Fórmula 1 naqueles tempos, se ressentiu de falta de confiabilidade. Falhas mecânicas e de câmbio foram a tônica nas corridas europeias restantes e Jonathan Palmer não conseguiu mais terminar nenhuma corrida até o GP da Holanda. Só que o piloto britânico se acidentou com gravidade nos treinos para os 1000 km de Spa-Francorchamps, a mesma corrida onde morreria o alemão Stefan Bellof, naquele ano de 1985. Sem conseguir um substituto a tempo, a Zakspeed desistiu de disputar o GP da Itália.
A solução foi chamar um alemão que veio da Fórmula 3000 com o título de campeão daquele certame que substituía a Fórmula 2: Christian Danner foi incorporado ao time nas corridas restantes do programa – o GP da Bélgica em Spa e o GP da Europa, em Brands Hatch. Danner qualificou-se em 22º na estreia e em 25º na corrida seguinte, abandonando em ambas por problemas mecânicos.
Não foi um ano fácil de estreia e Erich Zakowski sabia disso. A equipe se prepararia melhor para o ano de 1986? Só o tempo diria. Vamos ver no próximo post como foi aquela temporada e a seguinte, em 1987.
Excelente, Rodrigo! Estava louco pra ler a história da Zakspeed. A propósito, a da Larrousse também foi ótimo.
Abraço!
Ah, finalmente a Zakspeed.
Parabéns.
Rodrigo… Essa série sobre as “Saudosas Pequenas” é simplesmente fantástica. Fico acompanhando como se fosse o novela o dia a dia de cada história que aqui vocês escreve! Esse trabalho merecia um documentário daqueles para nenhuma fã deixar de assistir. Parabéns pelo trabalho!!!
Parabéns pelo trabalho Rodrigo. Já pensou em lançar um livro com estas histórias?
Sim. :)
Já tem um futuro comprador.