Saudosas pequenas – RAM, parte III
RIO DE JANEIRO – Corriam os anos 80 e John MacDonald, após correr com Brabham e Williams noutros campeonatos, voltaria a atacar na Fórmula 1. Ele estava na March, que após uma difícil temporada em 1982 se encontrava em seríssimas dificuldades financeiras. Que ficaram ainda mais latentes para o Mundial de 1983, quando não havia verba para se conseguir um bom motor turbo. O jeito foi tentar encarar a temporada do jeito que dava e a RAM se associou ao que restava da March em sua segunda aparição na categoria máxima, para o início daquele campeonato.
Dave Kelly desenhou o RAM March 01, equipado com motor Ford Cosworth DFV V8 e pneus Pirelli. Talvez o carro fosse o conjunto mais sofrível do ano e os resultados não tardariam a mostrar que a equipe não teria sucesso ao longo da temporada.
O chileno Eliseo Salazar, após desastradas aparições na própria March, na Ensign e na ATS, levou patrocinadores pessoais que lhe garantiram um lugar na equipe. Por conta da desclassificação de Andrea De Cesaris para o GP do Brasil, o sul-americano largou em Jacarepaguá. Último no grid de 26 carros, ainda chegou em décimo-quinto, quatro voltas atrás de Nelson Piquet. No GP dos EUA, último que disputou na Fórmula 1, Salazar saiu em 25º e o câmbio de seu carro quebrou.
A equipe deu uma chance ao francês Jean-Louis Schlesser na Corrida dos Campeões, que naquele ano de 1983 seria disputada pela última vez em sua história. Não haveria, daquela data em diante, espaço para mais nenhuma corrida extracampeonato na Fórmula 1. O piloto não marcou tempo na classificação, mas na corrida guiou com correção e chegou em sexto. Com o resultado, MacDonald o convidou para sentar num segundo carro do time no GP da França, em Paul Ricard.
Na qualificação, Salazar ainda tentou alguma coisa, mas ficou a três décimos do brasileiro Chico Serra e como o primeiro reserva. Schlesser foi o mais lento da sessão oficial, a 9″194 da pole position de Alain Prost. A RAM cogitou levá-lo para Imola, no GP de San Marino, mas desistiu: já tinha problemas demais com um carro apenas, que dirá com dois. Salazar falhou de novo a qualificação por três décimos, superado desta vez por Corrado Fabi.
Uma curiosidade: em vista do mau desempenho do carro naquela parte do campeonato, a RAM bateu na porta da Brabham pedindo socorro. John MacDonald implorou para que Bernie Ecclestone cedesse ninguém menos que Nelson Piquet, seu principal piloto, tido como o maior acertador de carros daquela época e campeão de 1981, para andar no pior carro do grid.
Na maior boa vontade, Piquet topou fazer o teste. Ironicamente, andaria no carro que era de Eliseo Salazar, com quem partiu para as vias de fato no GP da Alemanha do ano anterior. Sem mágoas, o brasileiro deu 27 voltas e, como era de se esperar, ficou atrás da Tyrrell de Michele Alboreto e da Lotus de Nigel Mansell, que andavam no circuito pequeno de Paul Ricard com seus carros equipados com motores Ford Cosworth DFY V-8.
O brasileiro fez alguns elogios ao carro e disse que tinha um bom balanço, ou seja, tinha bom equilíbrio e era sensível às mudanças. E deu sugestões que sem dúvida MacDonald aceitou e implementou no carro para o GP de Mônaco.
No Principado, após a ajuda e o teste de Piquet, o chileno conseguiu passar da pré-qualificação e obteve um lugar entre os 26 que disputariam os treinos oficiais. Só que numa das sessões choveu e, mesmo que secasse, Salazar jamais teria chance. Bateu, ficou a 6″389 da pole de Alain Prost e na Bélgica, foi superado em mais de 14 segundos. Último no treino em Spa, o piloto nunca mais sentaria num Fórmula 1.
No GP do Canadá (a equipe não esteve em Detroit), para atrair mídia, John MacDonald chamou Jacques Villeneuve, irmão do saudoso Gilles, para ocupar o cockpit do péssimo carro #17. O máximo que o canadense fez, no circuito que naquele ano fora rebatizado com o nome do falecido ídolo ferrarista, foi ficar com o penúltimo tempo no grid, a seis segundos e quatro décimos da pole. E Jacques Sênior nunca mais sentaria num Fórmula 1, também.
A partir do GP da Inglaterra, até o fim da temporada, quem teria a missão inglória de tentar pôr o RAM March 01 num grid foi o britânico Kenny Acheson, novato de 25 anos que vinha da Fórmula 2 europeia. Em Silverstone, onde o carro teve o patrocínio das rodas Mangels – daqui do Brasil – Acheson ficou com o 27º tempo na qualificação. Por 0″170, foi superado pelo italiano Pier Carlo Ghinzani, da Osella.
Nas corridas seguintes, todas – ou quase – em circuitos de altíssima velocidade, deu dó de ver Acheson tentando classificar o RAM #17. Faltava motor, carro, experiência ao piloto… tudo, enfim. Mas ele não desistia. Em Brands Hatch, por exemplo, ficou de fora por 0″121 do grid, enquanto Michele Alboreto conseguia o último lugar com a Tyrrell 012.
Entretanto, para a última etapa do ano em Kyalami, na África do Sul, a Theodore Racing anunciou que não faria a viagem e que estava fora da categoria. Acheson e a RAM viajaram tranquilos sabendo que o grid teria todos os 26 carros inscritos. E assim foi: o piloto fez enfim sua estreia na Fórmula 1 – e não ficou em último no grid. Largou em 24º, à frente das duas Osella de Fabi e Ghinzani – e ainda levou o carro ao final! Chegou em décimo-segundo, seis voltas atrás de Riccardo Patrese.
Amanhã tem mais: o quarto e último post da história da RAM na Fórmula 1. Não percam!
Rodrigo
Faltou só incluir o teste que o Piquet fez pra RAM em Paul Ricard!
É verdade. Nem me lembrei disto. Vou adicionar depois…
Valeu Rodrigo pela adição do teste do Piquet ao texto!
Não merecia ficar de fora. E obrigado por avisar.