Direto do túnel do tempo (82)

13473_571141162906249_776760204_n

RIO DE JANEIRO – O carro visto na foto acima é um dos modelos de competição mais insólitos já construídos em qualquer tempo, em qualquer lugar do mundo. Trata-se do protótipo Caçador de Estrelas, saído da mente visionária do romeno naturalizado brasileiro Bica Votnamis.

Esse carro deveria ter feito sua estreia nas Mil Milhas Brasileiras que seriam disputadas em 1967, mas foi vetado pelo Centauro Motor Clube, antigo organizador da prova, por absoluta falta de segurança. Inspirado no Star Fighter construído pela indústria aeronáutica Lockheed – daí a tradução literal do nome como batismo do protótipo – Votnamis desenhou e construiu o estranho carro com a ajuda de funileiros e mecânicos.

O chassi era tubular em treliça e o motor, um Chevrolet Corvette com 4,3 litros de capacidade cúbica e montado em posição central. O Caçador de Estrelas tinha suspensão independente nas quatro rodas, freio à disco e a cabine do piloto – suprema audácia – estava além do eixo dianteiro, o que no entender dos organizadores, comprometia a segurança do carro, do piloto e dos outros competidores. Por isso, Votnamis treinou com o protótipo mas teve sua inscrição vetada e ele não pôde largar. Como último recurso, ele comprou uma carretera, instalou o motor Corvette e, com muita falta de sorte, a Carretera caiu do caminhão transporte que a levaria para o Autódromo de Interlagos, entortando a suspensão do bólido.

A última aparição de Bica Votnamis aconteceria em 1975 numa prova da Divisão 4 em Tarumã, no Rio Grande do Sul. Com o Caçador IV montado com um motor Corvette, ele terminou a corrida em 8º na geral e quarto na classe de protótipos com mecânica de cilindrada superior a 2 litros. O piloto-construtor faleceu em 2000, perto de completar 57 anos, após sofrer um infarto no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

Há 46 anos, direto do túnel do tempo.

Comentários

  • Sê não me engano o outro piloto desta “maquina” era Eduardo Celidônio,e não tinham medo da curva do café nem quando era usado o anel externo e não pensem que os outros concorrentes eram tão mais seguros que este.O que havia era muita coragem e amor ao automobilismo.Tempos de construtores sonhadores e pilotos competentes,pois só com muita competência que se conduzia em alta velocidade este e outros “protótipos”da epoca.
    Parabéns aos pilotos desta era de ouro do automobilismo brasileiro.

  • Não lembro mais de todos os detalhes.
    Lembro que nessa época trabalhava numa metalurgica e que o chassis desse carro passou por lá para alguns testes de segurança no habitáculo. Algumas peças foram substituidas e antes de serem instaladas sofreram um tratamento para reforçar a estrutura. Tudo de grátis…
    E depois viemos a saber do cancelamento da inscrição por possível falta de segurança…
    Gente ligada a cartolagen da época afirmou em reunião nesta empresa de que o problema mesmo foi político e que essa alegação de falta de segurança foi por puro “”olhometro””.
    Eu ainda digo que ou foi por interesses da “industria de carros na época” e tabém por puro preconceito..
    Como o motor cambio radiadores e tanque de combustível estavam centralizados entre os eixos o carro era muito estável para a época..Com um período de treinos e corridas a evolução viria e ele se tornaria um ícone nas corridas… Foram coisas assim que alijaram das competições não só esse protótipo. Mas vários outros garagistas inventivos com muita coragem.. Acho que o Brasil começou a perder o esporte já naquela época.. Onde a criatividade individual ainda fervilhava e era possível tornar real projetos de todos os tipos….

  • Meus queridos vasculhadores do passado.
    Parabéns por este belo trabalho que tão boas recordações nos tras. Lembro ainda, de um outro protótipo que se chamava PUXA EMPURRA, tinha nada mais do que dois motores, dois câmbios, dois aceleradores, duas alavancas de câmbio. tração traseira e tração dianteira. Na frente, um motor DKW três cilindros, com câmbio DKW de três marchas. Atrás, um motor de fusca com câmbio de quatro marchas. Um acelerador para o DKW e outro para o fusca. O mais incrível, é que só um piloto guiava esta TRAPIZONGA. E andava…

    Um grande abraço e parabéns.
    Cláudio Mueller