Discos eternos – Fruto Proibido (1975)

ritalee

RIO DE JANEIRO – Rita Lee Jones ainda era uma Mutante em 1970. Tinha 22 anos apenas quando deu seu primeiro “grito” solo, Build Up. Um grito tímido, que muitos não têm como um grande disco, mas serviu para mostrar que ela não era apenas um rostinho bonito no grupo do qual fazia parte. Depois, veio Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida, que soa ainda como um disco d’Os Mutantes – pois, por incrível que pareça, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Dinho Leme fizeram parte dele.

A garota foi defenestrada por Arnaldo Baptista em fins de 1972 e finalmente pôde dar o grito de alforria, para começar a se consagrar como a rainha do rock no Brasil. Mas para que isso acontecesse, ainda demoraria um pouquinho. Ela errou na dose ao formar com a amiga Lucinha Turnbull o duo Cilibrinas do Éden, de brevíssima vida e depois, decepcionou-se com o resultado de Atrás do porto tem uma cidade, trabalho que marcou o fim do seu contrato com a Philips e fê-la afirmar muito tempo depois. “A gravação que Wanderléa fez de ‘Menino Bonito’ deu um pau na minha”.

Nessa época, Rita já tocava com os tutti buona gente da Pompeia que formavam o grupo Tutti-Frutti: Luis Sérgio Carlini (guitarra), Lee Marcucci (baixo) e Emilson Colantônio (bateria). Este último seria substituído por Franklin Paolillo e foi com esta formação que ela e a banda entraram em estúdio para gravar Fruto Proibido, o álbum que definitivamente consagrou a cantora.

Com produção do engenheiro de som Andy Mills, que fizera vários discos de Alice Cooper, e lançado pelo selo Som Livre, ligado às Organizações Globo, Fruto Proibido é uma das maiores obras-primas da história do rock nacional. Com pitadas de blues, hardcore e glam, Rita e os rapazes do Tutti-Frutti, com o auxílio luxuoso de gente como o genial Manito (o mesmo dos Incríveis, do Som Nosso de Cada Dia e dos Mutantes) e do piano de Guilherme Bueno, fazem a delícia do ouvinte da primeira à última faixa.

O disco oferece uma enxurrada de clássicos, começando com “Dançar para não dançar”, passando pela sensacional “Agora só falta você”, parceria de Luis Sergio Carlini com Rita, que pelo teor da letra ficou com um quê de hino feminista. Sem contar que Paulo Coelho, já brigado com Raul Seixas, compôs com a cantora a bem-humorada “Esse tal de roque enrow” – a visão desesperada de uma mãe sobre o gênero musical. A parceria rendeu outras duas canções: “O toque” e “Cartão postal”.

Rita assinaria ainda, sozinha, outras duas músicas que são obrigatórias em sua galeria de ótimas canções. “Luz Del Fuego”, homenagem à bailarina capixaba Dora Vivacqua, que entre os anos 50 e 60, chocou e revolucionou o país com suas ideias libertárias e o naturismo – ela foi a introdutora das praias de nudismo no país – e a maravilhosa “Ovelha negra”, talvez a letra mais bacana que ela escreveu em toda a carreira. E o solo final de Luís Sérgio Carlini é daqueles que ninguém esquece.

Tanto “Agora só falta você” e “Ovelha negra” foram lançadas com protoclipes no Fantástico, já que o disco era da Som Livre e a execução das mesmas num programa de alto ibope país afora ajudou a catapultar as vendas de Fruto Proibido a patamares incríveis. Rita e o Tutti-Frutti ganharam disco duplo de platina, com inteira justiça, pois o disco atingiu deslumbrantes 700 mil cópias vendidas.

Até 1978, quando a parceria com o grupo se desfez, Rita realmente fazia rock and roll de qualidade e Fruto Proibido é uma espécie de “como fazer rock em português”, muito embora Raul Seixas fosse mestre nessa arte e os grupos progressivos como O Terço e o Som Nosso de Cada Dia também tivessem ótímos discos do gênero. Mas a primeira mulher que entrou de cabeça no gênero foi ela: Rita Lee Jones.

Ficha técnica de Fruto Proibido
Selo: Som Livre
Gravado no Estúdio Eldorado, em São Paulo, em abril de 1975
Produção de Andy Mills
Tempo: 37’12”

Músicas:

1. Dançar para não dançar (Rita Lee)
2. Agora só falta você (Luis Sérgio Carlini/Rita Lee)
3. Cartão postal (Paulo Coelho/Rita Lee)
4. Fruto proibido (Rita Lee)
5. Esse tal de roque enrow (Paulo Coelho/Rita Lee)
6. O toque (Paulo Coelho/Rita Lee)
7. Pirataria (Lee Marcucci/Rita Lee)
8. Luz Del Fuego (Rita Lee)
9. Ovelha negra (Rita Lee)

Comentários

  • Grande lembrança, Rodrigo!!!
    Eu vi o show da Rita Lee com o Tutti Frutti no lendário Teresão, o Teatro Teresa Rachel, no Shopping da Siqueira Campos! Inesquecível, muita energia dela, grandes solos de guitarra, velhos tempos, belos dias…