Discos eternos – Nothing Like The Sun (1987)

Sting

RIO DE JANEIRO – Muita gente torce o nariz para este disco solo do Sting, terceiro trabalho do artista britânico após The Dream of Blue Turtles Bring On The Night, gravados em meados dos anos 80. Mas como gosto é uma coisa pessoal, não posso dizer que este álbum é ruim como muitos querem fazer parecer. Está longe de ter o peso do que ele seus companheiros de Police fizeram – e isso é fato. Mas é um disco movido por dezenas de razões.

Um ano antes do lançamento, em 1986, Sting perdeu sua mãe, o que contribuiu para grande parte do tom “sombrio” de algumas canções e, somando-se a isso, o cantor criara um envolvimento muito forte com o movimento da Anistia Internacional, defendendo com unhas e dentes os direitos civis daqueles que tinham sido vítimas da opressão nos tempos das muitas ditaduras sul-americanas.

A música “They Dance Alone” é o grande exemplo desse envolvimento de Sting com os grupos ativistas. Com forte conteúdo político, foi – logicamente – proibida no Chile de Augusto Pinochet e teve o auxílio luxuoso de Mark Knopfler e Eric Clapton, nas guitarras. A canção também se refere à dança das mães que choravam seus filhos desaparecidos, com fotografias penduradas em suas roupas – a chamada Gueca Solo.

Apesar da vertente sombria, o disco é pontuado pela fusão do pop com o jazz e belos arranjos, como os ouvidos em “Be Still My Beating Heart” e em “Englishman in New York”. “Sister Moon”, belíssima canção que abre o lado B do segundo disco do álbum duplo (quando lançado, foi assim), acabou inspirada por uma frase de um soneto de Shakespeare dita por Sting a um homem embriagado com quem encontrara certa feita e lhe perguntara: “How beautiful is the moon?” (Quão bonita é a lua?). A resposta veio na lata: “My mistress eyes are nothing like the sun”. (Os olhos de minha amante nada são diante do sol), o que também contribuiu para o título do trabalho.

“They Dance Alone” não é a única canção política no disco. “History Will Teach Us Nothing” segue esta linha, assim como o reggae “Rock Steady”. Mas talvez a música que mais tenha criado polêmica, além do canto contra a opressão sul-americana, foi “Little Wing”.

Não é para menos: Sting e seus comparsas revestiram o clássico de Jimi Hendrix com uma doçura que nunca foi mostrada de fato nas outras covers, perpetradas por Derek & The Dominos e Stevie Ray Vaughan, por exemplo. Para o arranjo da música, o cantor e compositor chamou o mago Gil Evans e sua orquestra, tirando todo o peso da canção e imprimindo um arranjo com clarinetas, flugelhorn, oboé e outros instrumentos mais sofisticados de sopro.

Aqui no Brasil, o disco foi lançado com uma música cantada por Sting com um português sofrível. “Frágil” (Fragile), canção que encerrou o lado B do primeiro disco, destoava claramente do restante do trabalho, onde o britânico se esforçava claramente para manter o tom da canção vertida por Liluca para um idioma estranho para o cantor.

Com produção a oito mãos, creditada a Sting, Hugh Padgham, Neil Dorfsman e Bryan Loren, o álbum alcançou boas vendas. Nos EUA, fez 2 milhões de cópias, conferindo a Sting o disco duplo de platina. “We’ll be together”, carro-chefe do disco, chegou em #7 nas paradas estadunidenses, enquanto “Be still my beating heart” e o remix de “Englishman in New York” ficaram em #15 na terra de Tio Sam.

Ficha Técnica de Nothing Like The Sun
Selo: PolyGram/Universal Music
Gravado no Air Studios, em Montserrat, de março a agosto de 1987
Produzido por Sting, Hugh Padgham, Neil Dorfsman e Bryan Loren
Tempo total: 54’45”

Músicas:

1. The Lazarus Heart
2. Be Still My Beating Heart
3. Englishman in New York
4. History Will Teach Us Nothing
5. They Dance Alone (Gueca Solo)
6. Fragile
7. We’ll Be Together
8. Straight To Your Heart
9. Rock Steady
10. Sister Moon
11. Little Wing (Jimi Hendrix)
12. The Secret Marriage

(todas as outras composições de Sting, exceto a #11)

Comentários