30 anos do bi, parte IV – GP de San Marino, 1983

1981 Formula One World Championship. Nelson Piquet (BR). Parmalat Racing Team.

RIO DE JANEIRO –  A quarta etapa do Mundial de 1983 aconteceu numa data que anos mais tarde seria fatídica: em 1º de maio, há 30 anos, ironicamente acontecia o Grande Prêmio de San Marino – uma ocasião e tanto para os torcedores da Ferrari encherem o então Autódromo Dino Ferrari para apoiar seus pilotos – Patrick Tambay e René Arnoux, lutando pela liderança do campeonato contra Nelson Piquet, da Brabham BMW.

A lista de inscritos para a corrida contava com 29 inscritos – os mesmos do GP da França – e uma única novidade: a estréia da versão E do Osella FA1 com Pier Carlo Ghinzani, dotada de motor Alfa Romeo V-12 aspirado. Corrado Fabi continuou com o carro de motor Ford Cosworth.

Treinos

001-SAM

A legião de tiffosi festejou, de saída, a pole position da Ferrari com René Arnoux, que teve um início irregular de campeonato. Com o tempo de 1’31″238, o baixinho francês bateu Nelson Piquet na briga pelo melhor tempo. Patrick Tambay ficou com a 3ª posição, trazendo o compatriota Alain Prost em quarto. Riccardo Patrese e Eddie Cheever dividiram a terceira fila, comprovando o domínio Ferrari-Renault-Brabham sobre a concorrência.

A surpresa foi a 7ª posição de Manfred Winkelhock com a ATS BMW, em mais um grid onde o predomínio foi dos carros com motor turbo. O finlandês Keke Rosberg foi o melhor na turma dos “aspirados”, dividindo a sexta fila com Marc Surer. Chico Serra teve bom desempenho com a Arrows e classificou-se na 20ª posição, enquanto Raul Boesel não foi além da penúltima colocação. Eliseo Salazar e Pier Carlo Ghinzani, como de hábito, ficaram de fora e Jean-Louis Schlesser nem apareceu para os treinos, apesar de inscrito.

Corrida

A largada foi um momento de completo anticlímax. Se por um lado, a festa da torcida italiana começou cedo com Arnoux mantendo a ponta e Tambay na segunda posição, para quem acompanhava a corrida no Brasil, momentos de desespero: Nelson Piquet não conseguiu sair do lugar com a Brabham e caiu para último. Sem embreagem, o brasileiro foi empurrado e arrancou para completar a primeira volta.

Na 3ª passagem, quando Piquet já ganhara duas posições, Patrese se imiscuiu entre Arnoux e Prost, colocando sua Brabham em segundo lugar. Ao mesmo tempo, o colombiano Roberto Guerrero batia forte com sua Theodore, abandonando a corrida. Chico Serra era o 17º colocado e Raul Boesel, o vigésimo.

Patrese, correndo “em casa”, estava disposto a estragar a festa da Ferrari e na sexta volta, também passou Arnoux para assumir a liderança. Tambay vinha em terceiro, com Prost num discreto quarto lugar. Andrea de Cesaris vinha em quinto e Keke Rosberg, em mais uma performance extraordinária, na sexta posição.

Na 12ª volta, Piquet já vinha num inacreditável décimo-primeiro lugar, ultrapassando quem estivesse à sua frente. E mais: trocando marchas a seco, de ouvido, só nos giros do motor BMW Turbo. Chico Serra ganhava mais posições e era o décimo-quarto, com Raul Boesel em 19º.

A Ferrari inaugurou o reabastecimento rápido na 20ª volta, quando Arnoux fez sua parada, voltando em quinto lugar, atrás da Alfa Turbo de Andrea de Cesaris. Piquet, em feroz recuperação, passou Mauro Baldi e Elio de Angelis, tirando volta a volta a diferença para Keke Rosberg. De Cesaris reabasteceu na 27ª passagem e foi para sexto. O italiano passou logo o finlandês campeão do mundo e o brasileiro da Brabham pegou carona, assumindo o 6º lugar.

Quando Piquet já vinha em quinto, o líder Patrese foi para os boxes na 33ª volta. Ansioso pela liderança e com pressa de fazer o reabastecimento, o italiano errou tudo o que não devia: passou do ponto de parada e ainda por cima atropelou uma pistola pneumática. Como efeito, Riccardo perdeu 21 segundos e a liderança para Patrick Tambay. Delírio em Imola.

Piquet fez seu pit stop duas voltas mais tarde e a Brabham, num serviço eficientíssimo, trabalhou em menos de 12 segundos – um recorde absoluto para a época. Voltando em sexto, não havia dúvidas que o líder do campeonato iria “buscar” a Alfa de Andrea de Cesaris, que vinha à sua frente. Mas o motor BMW não aguentou o esforço do pé pesado do brasileiro, explodindo na 42ª volta.

Tambay vinha em primeiro, sob a incessante pressão de Ricardo Patrese, o famoso “estraga-prazer” da festa da Ferrari, que tinha René Arnoux na terceira posição. Na 52ª volta, Patrese partiu decidido para a ultrapassagem sobre o francês líder e, quando conseguiu, levou uma sonora vaia da torcida italiana. Afinal de contas, valia muito mais a pena ver uma Ferrari chegando na frente. Independentemente da nacionalidade de quem a guiava.

83rsm06patresebrabhambtvu4

Foi por isso mesmo que o Autódromo Dino Ferrari explodiu em júbilo quando a Brabham de Patrese saiu da pista na Variante Acqua Minerale, se estatelando numa barreira de pneus. Tambay era o líder de vez, até porque Arnoux, com problemas mecânicos, caía de rendimento, perdendo a segunda posição para Alain Prost, mas com uma diferença mais do que confortável para se garantir no pódio.

Tambay_83_Imola_01

Ao fim de pouco mais de 1h37min de prova, Tambay levou a bandeirada para completa festa da torcida italiana, que promoveu a tradicional invasão de pista em Imola. Prost chegou em segundo, mais de 48 segundos atrás.

Arnoux levou a terceira posição, com Rosberg num ótimo quarto, John Watson em quinto (depois de largar em 24º) e Marc Surer fechando os seis que pontuaram. Chico Serra foi um bom oitavo colocado, logo à frente de Raul Boesel. Dos 26 que largaram, somente dez carros receberam a bandeirada.

O resultado final do GP de San Marino de 1983:

1. Patrick Tambay (Ferrari 126C2 Turbo) – 60 voltas em 1h37min52s460, média de 185,381 km/h
2. Alain Prost (Renault RE40 Turbo) – a 48s781
3. René Arnoux (Ferrari 126C2 Turbo) – a 1 volta
4. Keke Rosberg (Williams FW08C Cosworth) – a 1 volta
5. John Watson (McLaren MP4/1C Cosworth) – a 1 volta
6. Marc Surer (Arrows A6 Cosworth) – a 1 volta
7. Jacques Laffite (Williams FW08C Cosworth) – a 1 volta
8. Chico Serra (Arrows A6 Cosworth) – a 2 voltas
9. Raul Boesel (Ligier JS21 Cosworth) – a 2 voltas
10. Mauro Baldi (Alfa Romeo 183T Turbo) – a 3 voltas (*)
11. Manfred Winkelhock (ATS D6 BMW Turbo) – a 3 voltas
12. Nigel Mansell (Lotus 92 Cosworth) – a 4 voltas (**)
13. Riccardo Patrese (Brabham BT52 BMW Turbo) – a 6 voltas (***)
14. Andrea de Cesaris (Alfa Romeo 183T Turbo) – AB/45 voltas/distribuidor
15. Elio de Angelis (Lotus 93T Renault Turbo) – AB/43 voltas/quebra de roda
16. Nelson Piquet (Brabham BT52 BMW Turbo) – AB/41 voltas/motor
17. Jean-Pierre Jarier (Ligier JS21 Cosworth) – AB/39 voltas/radiador
18. Danny Sullivan (Tyrrell 011 Cosworth) – AB/37 voltas/acidente
19. Derek Warwick (Toleman TG183B Hart Turbo) – AB/27 voltas/acidente
20. Corrado Fabi (Osella FA1D Cosworth) – AB/20 voltas/acidente
21. Bruno Giacomelli (Toleman TG183B Hart Turbo) – AB/20 voltas/suspensão
22. Niki Lauda (McLaren MP4/1C Cosworth) – AB/11 voltas/acidente
23. Johnny Cecotto (Theodore N183 Cosworth) – AB/11 voltas/acidente
24. Michele Alboreto (Tyrrell 011 Cosworth) – AB/10 voltas/acidente
25. Roberto Guerrero (Theodore N183 Cosworth) – AB/3 voltas/acidente
26. Eddie Cheever (Renault RE40 Turbo) – AB/2 voltas/turbo quebrado

(*) parou com o motor quebrado, mas recebeu classificação
(**) abandonou com o aerofólio quebrado, mas recebeu classificação
(***) bateu, mas recebeu classificação

Comentários

  • Wallace lembrou bem: Patrese teve que esperar 7 anos pra devolver a derrota e o GP de San Marino de 1983 foi a última vitória do Tambay na Fórmula 1.