“I want my MTV…”

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RIO DE JANEIRO – Todo mundo que ouviu um dia a música “Money For Nothing” e prestou atenção no que Sting falava no início da canção, antes do solo de bateria e de guitarra que marca a composição do Dire Straits, aqui no Brasil, lá por 85/86, deve ter se pensado:

“Que diabos é MTV?”

A resposta demorou pra vir. Em 20 de outubro de 1990, estreava com problemas técnicos – porque o áudio do primeiro clip não entrou – mas com grande expectativa, a MTV Brasil, numa iniciativa do Grupo Abril de Radiodifusão. A figura de Astrid Fontenelle invadiu a minha telinha – o canal estreou aqui no Rio em VHF mesmo, TV aberta, no lugar da TV Corcovado, canal #9 – foi anunciada a exibição de “Garota de Ipanema” com Marina Lima e uma história começava.

O áudio só funcionou com um clip totalmente psicodélico, uma doideira dance, com um baixo groovy, um japonês, um gringo e uma ruiva que dançava alucinadamente. Era “Groove is in the heart”. O grupo? Deee-Lite. Paixão à primeira audição, pelo menos pra mim, que tinha à época 19 anos.

A MTV Brasil marcou minha vida e creio que a de muita gente também, por muito tempo. Muitas bandas surgiram graças a ela e foi também a MTV Brasil que nos abriu o caminho para muita coisa boa, como as bandas de Seattle, os programas Acústico MTV que fizeram história, as transmissões de shows e festivais ao vivo. Sem contar que pudemos rever vídeos que nenhuma outra emissora exibia mais, porque simplesmente não havia quase mais nenhum espaço na TV aberta para eles. Era a faixa dos “Clássicos”, a mais consumida por mim enquanto telespectador.

Graças a essa emissora, conhecemos Astrid, Cuca Lazzarotto, Marina Person, as Chris Couto e Nicklas, Edgard Piccoli, Gastão, Luiz Thunderbird, Rodrigo Leão, Otaviano Costa (ele mesmo!), Marcos Mion, Cazé Peçanha, Zeca Camargo, Sabrina Parlatore, Soninha Francine (ela mesma!), Reverendo Fábio Massari e muitos outros apresentadores, uns mais marcantes, outros menos. Prefiro lembrar dos que vi com mais frequência, ou seja: os primeiros, dos anos 90.

Mas como não há bem que sempre dure, a MTV Brasil buscou noutras fórmulas algo chamado reinvenção. Muitos acham que deu certo. Outros têm saudade da velha MTV Brasil – e eu sou um deles. A bem da verdade, parte da decadência musical aqui no país, tanto o produto nacional quanto o internacional, tem nessa “reinvenção” da emissora uma boa parcela de culpa

A emissora fez o que achou que tinha que fazer. E o livro se fechou. A última página da MTV Brasil foi escrita nesta quinta-feira, 26 de setembro de 2013. Foram quase 23 anos e foi muito bom enquanto durou. Como diz a canção, “valeu a pena”.

O canal vai voltar, só como MTV, a partir de 1° de outubro, devolvido aos verdadeiros donos, a empresa estadunidense Viacom. Não será mais a mesma coisa.

Não será mais a minha MTV Brasil.

Comentários

  • Bom, o que acontece é essa “reinvenção” do mundo, que as vezes estraga as coisas. Eu tenho muita saudade do final dos anos 80 e 90…mas fazer o que, bola pra frente.

  • A MTV marcou minha adolescência, assim como a de muita gente. Além de programas que acompanhava diariamente para conferir os clips, ainda tinha aquele desenho politicamente incorreto…o “Beavis & Butt Head”, era um barato…Sinceramente, depois que a MTV simplesmente abandonou a música, abandonou os clips, parei de assistir, e já faz um tempo,
    Agora vem como canal fechado e com outro formato…aquela MTV que conhecemos fica apenas na memória.

  • A verdade é que a MTV se acovardou e não ousou enfrentar o Youtube e investir numa curadoria que selecionasse e fosse a ponta de lança de lançamentos, coisa que a internet não faz , com exceção dos Pitchfork da vida.Ao invés disso diminuiu a música da programação, investindo tanto em promover Vjs que acabou virando canal de comédia.Some se a isso uma pretensa popularização iniciada com a entrada do Zico Góes.Com isso o público da emissora se afastou e o publico desejado, claro volátil como fãs do é o tchan, sandy e Jr, passaram pra Playtv e Mixtv.A MTV continuou no erro por mais de 14 anos e durou até muito dessa forma.A MTV americana vai pelo mesmo caminho:muito reality,bla,bla,bla e quase sem musica.Quem está empregado em outra emissora está tranquilo e até se oferece alegremente pra pôr a pá de cal, mas os mais de 300 profissionais na rua não acham graça.O canal BIS consegue chegar perto do que tem de ser canal de música:documentários nacionais e internacionais, alguns históricos, shows, e nenhum VJ.Ótima pedida!