O fim de um ciclo

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RIO DE JANEIRO – Um rompimento tão previsível quanto inesperado, principalmente por ser anunciado antes do imaginado: Felipe Massa não é mais piloto da Ferrari na Fórmula 1. As estatísticas não mentem: das 184 corridas de que tomou parte – até agora – o piloto brasileiro fez 132 pela Casa de Maranello. Não é pouco, comparando que muitos em toda a sua carreira não chegaram a este total, rodando por várias escuderias. Número #2 em GPs disputados pela equipe italiana, atrás apenas de Michael Schumacher, Massa confirmou hoje que está fora do time para a próxima temporada, anúncio feito no twitter do próprio piloto e no instagram, em três idiomas diferentes.

No curto comunicado, ele agradece pela amizade, pelas vitórias e os momentos ‘lindos’ que passou pela Ferrari. “A partir de agora, quero achar uma equipe que me dê um carro competitivo para buscar mais vitórias e vencer um campeonato, que é o meu sonho”, concluiu em sua postagem.

Tarefa difícil… muito difícil… os principais cockpits já estão ocupados. A Red Bull, como é do conhecimento geral, terá Daniel Ricciardo ao lado de Sebastian Vettel. Mercedes e McLaren dificilmente rescindirão com seus pilotos a ponto de quererem Felipe Massa. A própria Ferrari dispensou os serviços do piloto brasileiro. Sobra a Lotus, que não é propriamente uma equipe 100% competitiva: se o fosse, Kimi Räikkönen não estaria lutando com todas as forças que tem para migrar justamente de volta para a equipe do cavalinho empinado, não acham?

Vamos combinar uma coisa, caros leitores: a chance de Massa ser campeão passou. Sejamos realistas: o ano de 2008 era ideal para que isso acontecesse. E o bonde da história já deixou o piloto brasileiro para trás. Não adianta chorar o leite derramado. Na época, teci comentários criticando a postura de Felipe em culpar apenas e tão somente o episódio do GP de Cingapura onde Nelsinho Piquet bateu com sua Renault no muro, como a causa mortis da perda de seu título.

Todos nós sabemos que não foi aquilo e só aquilo. Houve uma sucessão de erros. Dele, Felipe Massa e da própria Ferrari. O piloto fez uma corrida medíocre em Silverstone sob chuva e rodou sozinho na Malásia, quando era segundo colocado. Só esse resultado de Sepang já seria capaz de minimizar o prejuízo. Mas houve uma vitória perdida por quebra na Hungria e a história da mangueira de combustível em Cingapura. Culpar isoladamente o ato de Nelsinho Piquet por uma perda de título é e continua sendo demais pra minha cabeça e para a de muita gente.

Somem-se a esses fatos a história da mola na Hungria. Faço minhas as palavras de Nelson Piquet: o piloto nunca mais foi o mesmo após aquele incidente. Nem Piquet conseguiu ser competitivo após o acidente de Imola em 1987 – e ainda assim foi tricampeão do mundo porque era malandro (no bom sentido), inteligente e sobretudo o mais técnico piloto de sua geração. E, claro, o GP da Alemanha de 2010, com a lamentável situação do “Fernando is faster than you”, destruiu Felipe psicologicamente. Daí para diante, não havia como ele reverter a situação a seu favor e nem mesmo as boas relações que construiu dentro da equipe foram capazes de segurá-lo na Ferrari futuramente.

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Acho que chegou a hora de sermos honestos: Felipe não tem mais lugar em nenhuma equipe de ponta na Fórmula 1. A Lotus pode ser um paliativo, mas ninguém tem garantias de que o time chefiado por Eric Boullier seguirá na toada dos últimos anos, quando Räikkönen, de fato, deu uma injeção de moral nos lados de Enstone como poucos pilotos seriam capazes de fazer. Uma hipótese bem plausível, por conta desse seu longo passado como piloto da Ferrari, seria o regresso à sua primeira equipe na categoria máxima, a Sauber.

O time helvético, que terá o novato russo Sergey Sirotkin em seus quadros, vai precisar de um piloto experiente para ‘tocar’ o projeto de desenvolvimento do novo carro com o motor turbo que a Ferrari vai fornecer para 2014. Nico Hülkenberg, embora muito talentoso, extremamente promissor e visto como uma peça a ser considerada no mercado de pilotos, não é capaz de liderar uma equipe num ano de transição – pelo menos no meu entendimento. Nem ele, e nem o mexicano Estebán Gutierrez, cuja presença na Fórmula 1 contestei com alguma veemência neste ano.

Então é isso: um ciclo se encerra. E tem mais: o futuro do Brasil na Fórmula 1 é preocupante. Os pilotos do país não conseguem mais espaço na categoria máxima, fruto – também – do dinheiro dominante em detrimento do talento e principalmente da ineficácia da CBA em conseguir fazer o esporte a motor seguir decentemente no país.

Sem formação de bons pilotos, não existe renovação.

Sem renovação, não há ídolos.

Sem ídolos, não há interesse.

Comentários

  • é bom por aí mesmo Rodrigo, infelizmente…como vc mesmo costuma dizer…parabéns aos envolvidos…apenas saliento que a Sauber não tem medo algum de tentar uma temporada com 2 novatos, já fez isso antes, e fará de novo se for necessário, por isso acho que não teremos representante brasileiro ano que vem…se eu fosse ele testaria um monte de carros e naquele em que eu me divertisse mais eu competiria…

  • “Sem ídolos, não há interesse.”

    Fechou com chave de ouro!

    Desde a morte do Ayrton, os brasileiros que estiveram na F1 já estavam pelas bandas da Europa (Salvos alguns casos extraordinários). O que acontece é que o Massa é o último de uma geração que começou talvez com o Diniz ou com o Rosset.

    Enfim, o descaso com o automobilismo de base nacional já acontecia, mas parecia estar tudo bem, pois tinhamos a esperança de novos ídolos (já que era costume de brasileiro que, qualquer compatriota nosso na terra do Bernie já seria campeão).

    abs

    • Desculpe-me discordar de você,mas quando o Emerson,Pace,Piquet pai foram para a Europa também não havia um automobilismo de base,só um automobilismo com muitas provas de longa duração que corriam todo tipo de coisa com quatro rodas e um numeral pintado na carroceria e um Interlagos de 7960 com todo os tipos de curvas que formaram os campeões que encheram de orgulho os amantes do automobilismo no país,e depois da destruição do circuito original também não surgiu um piloto digno de ser campeão mundial na principal categoria.Seria maldição dos deuses da velocidade e competitividade

      • Luiz Alberto, podíamos não ter um automobilismo de base, mas tínhamos o material humano. Pilotos que faziam milagres com Carreteras, protótipos de fundo de quintal e GTs de todos os tipos. Foram eles que fomentaram um caminho vitorioso hoje destruído, destroçado e espiaçado por quem deveria cuidar do esporte, que é a CBA.

      • Ayrton Senna nunca correu de carro no Brasil, só de kart e iniciou sua carreira direto na F Ford 1600 inglesa. A ELF francesa apoiu muito os pilotos franceses na década de 70 e só um foi campeão e por 4 vezes, Alain Prost.

      • Kart é base, não?
        O Ayrton saiu como todos sairam, é o caminho natural. Na época do Emerson e do Piquet o automobilismo funcionava de outra maneira. Mas todos foram correr de F3 ou F-Ford na Europa. Hoje nem base temos mais.

  • É lendo um texto como esse que eu vejo porque eu pago pau pro Rodrigo. Essa seu ponto de vista sobre 2008 é tão racional quanto óbvio, e bem por isso ignorado por aqui.

    Concordo também com a perda do bonde. Basta a gente olhar para 2007 e 2008, os primeiros anos sem a mesmice do Schumacher. Foram os anos que forjaram os nomes de agora: Hamilton, Alonso (já campeão, mas ainda jovem e precisando provar), Raikkonen e Vettel (que andava de Toro Rosso em 2008). Das grandes, o único cara que não se firmou, não ganhou título e sumiu, ficando bem atrás dessa turma, foi o Massa.

    Em 2007, ele apanhou do Kimi, mas ainda assim venceu três corridas e fez um campeonato honesto. Em 2008, inexperiente e instável perdeu para outro cara inexperiente e instável sua única chance de título.

    Um fator que acho que mexeu com o Massa, além do acidente, foi a severa mudança de regulamento. Claro que isso é especulação da minha parte, mas a perda de pressão aerodinâmica dos carros e os pneus slicks não caíram bem no estilo dele. Sem testes, ele nunca conseguiu se entender com a nova realidade. Várias vezes, vi comentários dizendo que ele ficava impressionado com a capacidade do Alonso de aproveitar o carro com pneus frios e prolongar o tempo de vida da borracha, mesmo virando rápido – algo que denuncia sua incapacidade de fazer o mesmo.

    Se eu fosse ele, tentava uma vaga na Porsche e ia ganhar corridas no WEC. Não entendo esse tesão da pilotada brasileira em ser coadjuvante na F1.

  • Resumo perfeito.
    Espero mesmo que essa situação de não haver piloto brasileiro na F-1 se configure já em 2014, porque, já que é inevitável, que aconteça logo.
    Talvez assim alguém se mexa para mudar as coisas no nosso automobilismo. Talvez assim a CBA mude de dono e alguém lá dentro resolva trabalhar. Talvez assim haja investimentos no esporte, no automobilismo interno e nas categorias de base.
    E mesmo que isso ocorra, a retomada da formação de novas gerações de pilotos será um processo de longo prazo.
    Os efeitos disso? Provavelmente fim da transmissão por tv aberta e talvez a perda do GP no país.
    Portanto, nos próximos anos, F-1 no Brasil será para quem gosta de automobilismo de verdade, não para quem vê só para torcer pelos pilotos brasileiros. Na esperança que essa tendência seja revertida, com trabalho sério. Ou com o improvável aparecimento de um novo Emerson Fittipaldi, para começar tudo de novo.

  • Concordo com você em quase todo o seu comentário. A única coisa que discordo de você, se permitir, é desde da morte de Senna, nosso último campeão, não tivemos mais ídolos apenas bons pilotos. Rubinho, que elevado a ídolo pela TV para poder vender a F1 e o próprio Massa como você bem disse teve a sua chance, não conseguiu e depois preferiu virar “empregado do mês”.

  • Bom é a Ferrari, como a maioria diz, mas penso que o automobilismo antes de mais nada é diversão e em muitos casos um ganha-pão, é óbvio que todos querem a vitória. Automobilismo de ponta, só poucas equipes. Senna, na Mclaren com a Honda… Vetel na Red bull com Newey
    Raikonen na Lotus com $$$$ da Geni, o que todos tem em comum? O prazer de guiar… Kimi deu as costas pra ferrari até ser demitido, foi andar de rali, beber umas cervejas e com dinheiro pra voltar ofereceu até para comprar parte da Williams (dizem) acabou indo pra Lotus que amargava uma situação sem grandes pilotos. Que o Felipe ache um acento que lhe traga prazer, não somente em vencer mas sobretudo em pilotar. Sem a pressão de uma equipe que é equipe coesa em busca de um mundial de construtores, mas não é equipe quando elege um em detrimento de outro para o título de pilotos. O prazer está na quebra de limites e na competição, basta isso pra sermos felizes….

  • Sei lá, acho que seria legal a Ferrari oferecer um lugar pro Massa no WEC para dividir carro com o Kobayashi. Mais legal que isso só se a Ferrari anunciasse o Kobayashi no lugar do Kimi.

  • Rodrigo. Te acompanho a pouco tempo, (quase um ano) entao nao sei se meus comentarios serao relevante mas vamos la. Achei meio rancoroso o que vc escreveu.Essa sua pontuacao como sejamos realista, a verdade eh, etc. Nao caiu bem no post. Que Massa ja estava com um pe fora, ja era esperado. Que a chance deles.de ser campeao eh praticamente nula. Mas me pareceu que vc ” estaa chutando cachorro morto” se eh que me entende.E vc queria que ele escrevesse o que na msg. Que ele nao eh mais o mesmo ?? Ele tem que vender o seu peixe e tentar uma nova equipe. Abs

    • Claro, ele tem que fazer o dele. E eu dei a minha opinião. Como muitos também o fizeram. Não considero que esteja chutando cachorro morto. Estou sendo realista. O Massa de 2008 ficou no passado. O de 2013 é uma pálida sombra do que ele já foi.

  • Aconteceu!!! Pronto….
    Agora é ver o que vai acontecer daqui pra frente…
    Queiram ou não, todos temos que agradecer ao piloto pelas duas brilhantes vitórias em Interlagos….A maioria dos que hj leem ou escrevem aqui não sabia o que é uma vitória do piloto da casa…
    O que estragou a carreira do Massa não foi a mola não.. Foi a Ferrari,
    Eu no lugar dele saia de lá hj mesmo.. Ou quebrava o carro em todas as corridas e classificações até o fim do ano….

    • Olha Marcão, acho que não quebraria o carro não, mas ficar na Ferrari muito tempo ,principalmente com a patente incompetencia do Domenicalli, renovando e participando com a Globo da farsa de que não haveria segundo piloto com Alonso lá, mesmo depois do episódio da ultrapassagem na entrada dos boxes e do ¨Faster than You¨, derubou um piloto que era só esforçado.Com a mola na cabeça o que era ruim piorou, e talvez as mudanças no regulamento tenham realmente lhe prejudicado.Quando Rubinho chegou na Ferrari, Schumacher havia alguns anos sem titulo na Ferrari.Parece o caso de Alonso e Raykonem agora.Rubinho cometeu o mesmo erro permanecendo numa equipe que não o favorecia enquanto novos nomes iam aparecendo e pegando boas vagas, ou seja , perdeu o bonde, assim como bons pilotos brasileiros que preferiram entra pela porta dos fundos da f1.

  • Rodrigo ferrari é mais equipe que a lotus sim mas todos nós sabemos por que o kimi não ficou la $$$$ salários atrasados e com certeza ele queria um aumento haha. Com relação a vaga na mercedes acho Rosberg forte nos treinos mas nas corridas é fraco se comparar com Lewis. Não vejo motivos pra mercedes renovar com ele.

  • O Massa deixou de produzir o que se esperava dele depois do acidente. Teve duas chances de brigar pelo título (2007 e 2008) e não aproveitou. Teve ótimos momentos na carreira, mas depois do acidente aquele piloto que vencia corridas morreu. Que continue a vida em outra equipe ou em outra categoria como fez o Weber. Quem sabe se ele for para a Lotus ele recupere o brilho antigo? Nunca se sabe…

  • depois de sofrer um acidente na DTM, Tom Kristensen disse certa vez que so se recuperou 100% do acidente 2 anos depois. talvez um acidente possa realmente fazer toda essa diferenca.
    e outra coisa de q adianta revelar pilotos se o q mais importa é o dinheiro ?

  • Um dia iria acontecer…o que o Massa precisa agora é se reencontrar como piloto “com sede de vitórias”, como era até 2008. Que seja em outra categoria, se for o caso (stock car não…ai é avacalhar demais).
    Em minha opinião, deveria agora começar a “desobedecer” as ordens da equipe, pois já está fora dela mesmo…vejamos o exemplo de Ryan Newman na NASCAR…fazendo excelentes corridas, disputando o título até mesmo em resposta à equipe, que já o demitiu para a próxima temporada.

  • A carreira do Felipe não chega ao fim na F1. Por dizer com todas as letras que só continua se for para guiar um carro competitivo é que devemos considerar uma vaga na Mclaren – pouco provável, por falta de evidências até o momento.
    Guiar pela Sauber é esperar alguns bons resultados pontuais dependendo da pista, assim como a equipe fez no último GP de Monza, largando da terceira posição. Tipo aquela fase do Rubens na Stewart, lembram?
    Agora pensar em Lotus não parece algo muito lógico. Gastaram uma boa grana nos últimos dois anos para entregar o melhor carro ao Kimi e pagar seu salário e parece que isso deixou as contas da equipe em situação complicada. Um piloto jovem, talentoso e que traga um bom dinheiro deve ser o pensamento do time para o próximo ano e o Felipe não se encaixa no quesito “jovem” e “que traga um bom dinheiro”. Posso estar errado, mas é o que vejo no cenário atual.

    Vamos aguardar.