Esporte-Protótipos Inesquecíveis – Inaltera LM (1976/1978)

RIO DE JANEIRO – Órfãos da Matra após a retirada da companhia das pistas com direito a um tricampeonato nas 24 Horas de Le Mans entre 1972 e 1974, com o projeto Alpine-Renault ainda mal em confiabilidade e os Ligier em decadência, os franceses não tinham para quem torcer em Sarthe. De fato, a edição de 1975 mostrara uma luta pela vitória entre Gulf-Mirage e Lola, ambos da Grã-Bretanha. Mas já haviam tentativas de projetos independentes.

O ainda piloto Jean Rondeau e Gérard Welter, antigo designer da Peugeot, tinham ideias similares de construção de um novo Esporte Protótipo para a edição de 1976. Ambos queriam competir com um modelo GT Protótipo (GTP), um tipo de carro fechado que o Automobile Club de l’Ouest permitiu no regulamento técnico a partir daquele ano. O motor seria o PRV (Peugeot, Renault e Volvo) V6 de 2,7 litros, mas o sucesso do Gulf-Mirage com motor Ford Cosworth V8 derivado das unidades de Fórmula 1 mostrou que o caminho era outro.

Rondeau atingiu seu objetivo de construção de um Esporte-Protótipo quando fechou um acordo de patrocínio com a Inaltera, uma empresa que produzia papéis de parede para ambientes residenciais e empresariais. No acordo celebrado entre as duas partes, Rondeau cedeu os direitos de uso do nome do protótipo para a Inaltera. O carro foi construído sob o nome de ‘Bureau de Design Ovale’, com chassi de treliça e reforçado com tubos de aço e alumínio moldado. A opção de competir tal qual o Gulf-Mirage com o motor Ford Cosworth não foi bem vista por alguns franceses mais radicais – provavelmente meio ‘esquecidos’ de que os Ligier também tinham motores construídos por Mike Costin e Ken Duckworth em Le Mans.

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Os primeiros Inaltera LM ficaram prontos para a disputa da 44ª edição das 24 Horas de Le Mans, em 1976. E foram inscritos com os numerais #1 e #2. O primeiro carro reunia dois ‘refugiados’ da Matra: o mito Henri Pescarolo e Jean-Pierre Beltoise. No #2, estavam Jean-Pierre Jaussaud, Jean Rondeau e Mademoiselle Christine Beckers. Os dois carros largaram respectivamente em 12º e 17º e não foram páreo contra os protótipos com motor turbo, especialmente o Porsche 936 de Jacky Ickx/Gijs van Lennep, que venceu fácil.

Pescarolo/Beltoise tiveram a honra de completar a prova em 8º lugar, com um total de 306 voltas. E ainda venceram na subclasse GTP, onde além do Inaltera os únicos carros inscritos eram um Lancia Stratos Turbo e, ironicamente, um WM P76, projeto de Gérard Welter com o motor PRV que Rondeau recusara. Já o carro guiado pelo próprio Rondeau, mais Jaussaud e Beckers ficou em 21º lugar na geral, com 264 voltas completadas.

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Em 1977, com a concorrência reforçada por um Aston Martin AM V8 e um Alpine Renault A310, novamente a classe GTP tinha o Inaltera LM, o WM P77 e o Lancia Stratos Turbo. E outra vez, o carro francês venceu entre os modelos inscritos nesta subcategoria, com direito a um belíssimo 4º lugar na geral, graças a Jean Rondeau/Jean Ragnotti, que largaram em 20º e terminaram com 316 voltas, bem atrás dos vencedores Jürgen Barth/Hurley Haywood/Jacky Ickx.

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Mademoiselle Christine Beckers regressou com Lella Lombardi no carro com o número #2 e a dupla feminina terminou a prova em décimo-primeiro lugar. O #1, com Jean-Pierre Beltoise/Al Holbert (foto acima), concluiu na 13ª posição. Estes dois carros competiram na subclasse acima de 2 litros do Grupo 6, terminando em quarto e quinto lugares.

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No fim daquele mesmo ano, a Inaltera foi vendida para novos proprietários, que não tinham o menor interesse em investir em automobilismo e assim a equipe foi dissolvida. Um dos Inaltera LM77 sobreviventes entre os três construídos apareceu nas 24 Horas de Le Mans de 1978, com André Chevalley e François Trisconi. A dupla largou em 19º e chegou em 13º lugar na geral, segundo entre os GTP – atrás de (ora vejam!) Jean Rondeau e seu novo projeto.

Os equipamentos ficaram por muito tempo na Suíça, porque inclusive foram comprados pelo preparador Heini Mader, que repassara os carros a Chevalley. Anos mais tarde, dois dos três Inaltera LM construídos foram felizmente restaurados e são vistos com frequência em eventos de carros históricos na Europa.

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