Direto do túnel do tempo (141)

downloadRIO DE JANEIRO – Ao volante desta Tyrrell 007 número #39 está um dos muitos pilotos que fazem parte da legião de “rejects” da Fórmula 1. Trata-se do austríaco Otto Stuppacher, um dos três pilotos de seu país a jamais disputar oficialmente um Grande Prêmio.

Nascido em Viena, no dia 3 de março de 1947, ele começou a correr regularmente no fim dos anos 60, no World Sportscar Championship (WSC), o Campeonato Mundial de Marcas. Passou também sem muito brilho pelas provas do Europeu de Carros Esporte (onde teve como rival – e eventualmente parceiro – Niki Lauda, que também iniciava sua carreira) e de Subida de Montanha, anunciando uma prematura aposentadoria aos 25 anos, em 1972 – com direito a uma participação nas 24 Horas de Le Mans daquele mesmo ano, abandonando após 11 voltas e um acidente com seu Porsche 908/02.

Três anos mais tarde, Stuppacher voltou às pistas: inscrito nos 1000 km de Österreichring (reduzidos para 600 km por força da chuva), em Zeltweg, com um Lola T294 protótipo da equipe de Roger Heavens, ao lado do francês Hervé Le Guellec. Terminaram em 17º lugar com 51 voltas, mas não foram classificados ao fim da disputa. E com um currículo tão pouco emocionante, foi surpreendente que o piloto, aos 29 anos de idade, quisesse ainda disputar uma corrida do Campeonato Mundial de Fórmula 1.

Ele não era o único que tinha planos semelhantes: Karl Oppitzhauser, seis anos mais velho que Stuppacher, também queria fazer sua estreia e conseguiu um March 761 para atingir seu intento. Otto foi inscrito a princípio para o GP da Áustria de 1976 com um Tyrrell 007 antigo, alugado por 20 mil libras, mas nenhum dos dois teve sua inscrição aceita pelos organizadores.

Persistente, Stuppacher voltou à carga e apareceu inscrito para o GP da Itália, em Monza, novamente com uma Tyrrell 007, mas sob a égide do ÖASC Racing Team e um generoso apoio que lhe permitiu ter no carro a frase “Austria is Beautiful” escrita na pintura.

Foi um fracasso.

Lento, Otto foi 14 segundos pior que a pole position de Jacques Laffite na ocasião, marcando o tempo de 1’55″22 – quase oito segundos mais lento que o Wolf-Williams do italiano Arturo Merzario. Os pilotos notaram que poderiam ter problemas com sua presença na pista e exigiram que o austríaco fosse banido das corridas seguintes no Canadá e Watkins Glen.

Só que, antes disso, Stuppacher foi beneficiado pela desclassificação, por irregularidades técnicas, dos dois McLaren de James Hunt e Jochen Mass e do Penske de John Watson. Acabou guindado ao 26º posto do grid, mas não apareceu para correr. No fim das contas, os dois McLaren largaram com a desistência de Otto e de Merzario e a Penske só correu em Monza porque Bubbles Horsley vendeu (isso mesmo) por US$ 13 mil cash a vaga de Guy Edwards, com o Hesketh 308C, no grid.

Em Mosport, Otto ficou a exatos 12″695 de James Hunt e, com a restrição do grid a 26 carros, foi impedido de largar. No circuito de Watkins Glen, a mesma história: ele ficou a mais de vinte e sete segundos da pole position e mais uma vez ficou fora de um grid de largada. O ÖASC achou que já era demais patrocinar um piloto tão lento e tão ruim e Stuppacher se viu forçado a não continuar na Fórmula 1 e no automobilismo.

Em 13 de agosto de 2001, Otto Stuppacher foi encontrado morto em seu apartamento na capital austríaca, Viena. Ele tinha 54 anos de idade.

Há 37 anos, direto do túnel do tempo.

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