Outsiders: o versátil Andrea de Adamich

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RIO DE JANEIRO – Ele guiou de tudo um pouco no automobilismo, nos anos 60 e 70. Versátil, foi um dos muitos que dividiu sua carreira entre Fórmula 1 e Esporte Protótipos. E foi um dos pioneiros a usar óculos de grau por sob a viseira e o capacete. Hoje, o “outsider” da vez é o italiano Andrea Lodovico de Adamich.

Nascido em Trieste, no dia 3 de outubro de 1941, sua família era originária da região de Fiume, onde o patriarca dos de Adamich era um dos comerciantes mais poderosos e mais ricos da região. A trajetória do piloto começou nos anos 60, precisamente nas popularíssimas competições de Subida de Montanha, com um Triumph TR-3. Em 1962, fez sua primeira prova em autódromo: foi 3º colocado da Copa Cappri, disputada em Monza, a bordo de uma Alfa Romeo 1900 TI. Indiretamente, começava assim uma longa ligação entre o piloto e a marca do trevo de quatro folhas.

Nos anos de 1963 e 1964, Andrea passa aos monopostos, correndo primeiro na Fórmula Junior e depois na Fórmula 3. Com a Alfa Romeo, disputa as 24 Horas de Spa-Francorchamps, chegando em 5º lugar. Na F-3, fatura o título italiano, revezando-se na pilotagem entre uma Lola T53 e um Brabham BT15 com motor Ford.

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Em 1966, ao mesmo tempo em que continua nos monopostos em participações esporádicas, o piloto italiano assina com a Alfa Romeo para disputar o Campeonato Europeu de Turismo. Por dois anos, Andrea de Adamich fatura o título na Divisão 2 do certame continental, com uma Giulia Sprint GTA.

Ainda em 1967, enquanto vencia o Europeu de Turismo, de Adamich fez parte da equipe Autodelta no Campeonato Mundial de Marcas, obtendo alguns bons desempenhos na estreia do protótipo T33, ao lado de Nino Vaccarela e Ignazio Giunti. A Ferrari o requisita para uma aparição numa prova extracampeonato de Fórmula 1: o GP de Madri, onde termina em 4º lugar.

Como efeito, Maranello o contrata para o campeonato de 1968 e ele disputa o GP da África do Sul com uma 312/67 em Kyalami, largando em sétimo, com um tempo 0″2 melhor que o de Chris Amon. Mas seu dèbut é prejudicado por um acidente, na 14ª volta. Nova batida, desta vez nos treinos para a Corrida dos Campeões, em Brands Hatch, o tira de combate: com lesões na coluna vertebral e costelas fraturadas, Andrea é obrigado a fazer uma pausa para se recuperar.

Em forma novamente, o italiano volta à carga na Temporada Argentina de Fórmula 2, no fim daquele mesmo ano. A bordo da lendária Dino F2 da Ferrari e dividindo os boxes com Ernesto “Tino” Brambilla, Andrea de Adamich ganha as corridas de Córdoba e San Juan “El Zonda”, além de chegar em 2º no Gran Premio YPF e quinto no Gran Premio Aerolineas Argentinas. Como efeito, leva o título da minitemporada.

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Apesar disto, a Ferrari não renova o contrato com o piloto, que retorna para a Alfa Romeo em 1969, regressando também às competições de Endurance pela Autodelta. E novamente por influência do construtor milanista, Andrea de Adamich volta para a Fórmula 1 no ano seguinte. Numa combinação insólita, ele ganha a oportunidade de regressar a bordo de um McLaren oficial de fábrica, com motor Alfa Romeo V-8.

Contudo, o motor – que era o mesmo do modelo T33/3 do Mundial de Endurance, que estreara em 1969, não era potente e o “casamento” com os chassis construídos por Bruce McLaren – primeiro o M7D e depois o M14D – foi desastroso. Andrea de Adamich só conseguiu largar em quatro oportunidades e o seu melhor resultado foi um 8º lugar no GP da Itália, sete voltas atrás do vencedor Clay Regazzoni.

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Nos protótipos, ele tem melhor sorte: ao lado de Henri Pescarolo, conquista um 2º lugar nos 1000 km de Zeltweg, na Áustria, já com a versão 71 da T33/3, com motor revisado e mais potente. E são os dois que conquistam uma aguardada – e merecida – vitória nos 1000 km BOAC em Brands Hatch, na temporada do World Sportscar Championship de 1971, superando o Porsche 917K e a Ferrari 312PB. O italiano ainda conquista outros ótimos resultados ao longo do ano e outra vitória, desta vez com Ronnie Peterson dividindo a pilotagem, nas 6h de Watkins Glen.

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Andrea volta à Fórmula 1 com os motores Alfa Romeo V-8, agora com 400 HP de potência, desta vez equipando um chassi March 711 da equipe oficial de fábrica – outra combinação desastrosa. O italiano nunca consegue largar além de 18º no grid e seu melhor resultado em sete participações é o 11º lugar em Watkins Glen. Ronnie Peterson chegou a andar com este carro na França, mas por ter andado apenas uma única vez com o March-Alfa, dá para se ter uma medida do quanto o conjunto não era competitivo.

Em 1972, além da contínua parceria com a Autodelta, de Adamich assina um contrato de piloto fixo de Fórmula 1 com o Team Surtees, levando consigo o apoio financeiro da Ceramica Pagnossin – afora o privilégio de ser um dos primeiros italianos a fechar contrato com a Phillip Morris (leia-se Marlboro). O outro foi ninguém menos que Giacomo Agostini.

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A bordo do modelo TS9B construído pelo antigo campeão mundial de Motovelocidade e F-1, o italiano chega ao 4º lugar no GP da Espanha, em Jarama, somando três pontinhos que o deixaram em 17º no Mundial de Pilotos daquele ano. Em eventos não-oficiais, Andrea consegue um 2º no GP da República Italiana, em Vallelunga e o terceiro posto na Corrida dos Campeões, em Brands Hatch. No Mundial de Marcas, num ano inteiramente dominado pela Ferrari – com exceção às 24h de Le Mans – ele se limita a chegar em 3º na Targa Florio e nos 1000 km de Nürburgring.

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Ausente do GP do Brasil de Fórmula 1, evento extracampeonato que homologou o Autódromo de Interlagos para corridas do calendário oficial, o italiano disputou no fim do ano o Torneio Brasileiro de Fórmula 2. Com um Surtees TS10 de motor Ford BDE/Novamotor, ele chega em 4º na primeira rodada dupla, abandonando as duas etapas subsequentes. Fecha o torneio com apenas três pontinhos.

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Em 1973, sem vaga na Surtees, onde José Carlos Pace e Mike “The Bike” Hailwood são os titulares, Andrea começa a temporada de Fórmula 1 com um velho Surtees TS9B no GP da África do Sul, em Kyalami – terminando em oitavo lugar. Nas quatro etapas seguintes de que participa, já está a bordo de uma Brabham BT37, do ano anterior. Um 4º lugar no GP da Bélgica em Zolder e um sétimo em Mônaco são os melhores resultados dele no ano.

Para o GP da Inglaterra, em Silverstone, o piloto recebe a oportunidade de guiar o novo BT42, já usado por Carlos Reutemann e Wilsinho Fittipaldi. Com o 20º lugar entre vinte e oito participantes, de Adamich parte para a corrida no dia 14 de julho.

No fim da primeira volta, Jody Scheckter causa um dos maiores acidentes de todos os tempos. Ao rodar com sua McLaren, o sul-africano inicia uma confusão que terminou com 11 carros envolvidos e a pista totalmente obstruída pelos carros que viraram sucata.

Todos os pilotos conseguiram sair dos destroços – exceto um: Andrea de Adamich. Notem na foto abaixo, à direita, o carro do italiano destruído após o choque.

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O piloto ficou preso nas ferragens contorcidas da dianteira do Brabham BT42 e, como se saberia depois, com fratura de tornozelo. Levou-se meia hora para retirar o italiano dos destroços e Graham Hill, sempre ele, conseguiu libertar o companheiro de profissão com uma chave de corte – isso depois que o tanque de combustível foi literalmente zerado, eliminando o risco de incêndio.

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Foram oito meses de penosa recuperação para de Adamich, que viu sua carreira na Fórmula 1 encerrada após o episódio de Silverstone. Com 32 anos, o piloto preferiu dar sequência ao contrato com a Autodelta e disputar o World Sportscar Championship em 1974. A bordo da Alfa Romeo T33/TT/12, ele conseguiu três pódios, sendo o melhor resultado um 2º lugar nos 1000 km de Zeltweg na Áustria. O fim da equipe oficial da Alfa no WSC coincidiu com o fim de sua carreira como piloto de competição.

Na Fórmula 1, Andrea de Adamich fechou sua participação com 30 GPs em 39 de que foi inscrito, somando seis pontos. Disputou também nove corridas extra-campeonato, que não contaram pontos para o Mundial. Completou 1.240 voltas e um total de 6.058 km percorridos.

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Os vínculos do italiano com o automobilismo não foram de todo rompidos: após deixar as competições, tornou-se um dos mais respeitados e especializados comentaristas de seu país, inclusive dirigindo o programa Grand Prix, da rede de televisão Italia 1. E também manteve o vínculo com a Alfa Romeo como vice-presidente da N. Technology, que preparava os carros de competição da marca de Milão. Hoje, ele administra o Centro Internazionale Guida Sicura, no circuito Varano de Melegari, batizado com o nome de Riccardo Paletti, compatriota morto em Montreal, 1982.

Comentários

  • Muito bom o relato da carreira e da vida desse piloto que, além de tudo, é um gentleman das antigas, tanto no trato com as pessoas como pelo prazer que tem em guiar. Sempre via o seu programa na Italia 1 e dava para ver que ele realmente curtia os carros que testava, sentando a bota enquanto descrevia calmamente as reações do carro, como se estivesse na poltrona de casa. Grande figura.