Direto do túnel do tempo (181)

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RIO DE JANEIRO – Vinte e seis de março de 1989. Há exatas duas décadas e meia, os motores da Fórmula 1 rugiam pela última vez no Autódromo de Jacarepaguá, para a disputa do Grande Prêmio do Brasil. Era a primeira corrida da categoria após o banimento dos motores turbo e por isso mesmo, cercada de muita expectativa. Principalmente porque Ayrton Senna defendia o título conquistado em 1988 e tinha o número #1 em sua McLaren.

Era uma nova Fórmula 1, com quase 40 carros inscritos, muitas equipes novas e a pré-qualificação, disputada às 8h da manhã da sexta-feira dos primeiros treinos livres e classificatórios, reuniu nada menos que 12 pilotos, dos quais quatro avançaram para os treinos oficiais. Trinta pilotos brigando pelas 26 vagas oferecidas a cada corrida.

De saída, ficamos desfalcados de Roberto Pupo Moreno, eliminado do grid com o último tempo na qualificação. Mas tínhamos Senna na pole position, com o extraordinário tempo de 1’25″302 – apenas alguns décimos de segundo abaixo do antigo recorde da pista, registrado também por ele em 1986, quando ele tinha uma Lotus com motor Renault Turbo de 1.200 HP alegados em qualificação; o tricampeão Nelson Piquet largando em nono com a Lotus Judd e Maurício Gugelmin, com a March Leyton House 881 Judd, em décimo-segundo.

Arquibancadas lotadas, sol, calor e torcida ensandecida. Cenário perfeito para a primeira vitória de Senna no GP do Brasil, certo? Errado. Riccardo Patrese, que dividia a linha de frente com Ayrton, largou melhor e o brasileiro partiu para o tudo ou nada na curva 1 com Gerhard Berger, que fazia a primeira corrida da Ferrari 640, projeto de John Barnard com câmbio semi-automático. E deu nada: os dois amigos se enroscaram e rodaram. Com a frente da McLaren MP4/5 Honda destruída, Senna deu uma volta inteira sem o bico, caiu para 24º e ainda perdeu várias voltas em relação a Riccardo Patrese. O sonho da primeira vitória em seu país estava adiado…

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Patrese assumiu a liderança e Nigel Mansell, que largara em 6º em sua estreia na Ferrari, vinha ensandecido. O inglês superou o italiano na 16ª volta e a partir daí tornou-se o grande protagonista do GP do Brasil. Numa de suas paradas, a equipe inclusive trocou o volante do carro. Pelo ineditismo do sistema de câmbio semi-automático, o risco de quebra era iminente. Precavidos, os italianos optaram por uma inédita mudança e deu certo. Mansell assumiu a liderança na 28ª volta e até a quadriculada só perdeu o primeiro lugar nas passagens 45 e 46, quando precisou fazer uma segunda troca de pneus.

Alain Prost, companheiro e rival de Senna na McLaren, jamais pôde lutar pela vitória. Desde a primeira parada de boxes, tinha ficado sem embreagem. E Riccardo Patrese, após uma desastrosa troca de pneus, queria o pódio, mas o motor Renault de sua Williams quebrou. Foi o que Maurício Gugelmin precisava para alcançar um pódio tão esperado pelo piloto da March Leyton House.

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Tendo largado em 12º, Gugelmin despontou entre os seis primeiros colocados na décima-quinta volta. Com o segundo pit de Patrese, na 45ª volta, herdou a terceira colocação e, do jeito que o italiano vinha, seria difícil segurá-lo. Mas, como dito no parágrafo acima, o motor Renault V-10 – que marcava a reestreia da Régie na Fórmula 1 – deixou o rival a pé, ao contrário do Judd V-8, com sua fama de quebrador.

Incentivado pela torcida, Gugelmin ensaiou uma pressão sobre a McLaren de um Prost satisfeitíssimo com o pódio, mas a temperatura do motor começou a subir a níveis estratosféricos e a equipe mandou o brasileiro abrandar o ritmo. O pódio já era bom demais para quem tinha marcado cinco pontos apenas em 1988.

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Mansell venceu após quase 1h39min de prova, com 7″809 de vantagem para Prost e Gugelmin completou a um segundo e meio do francês. Johnny Herbert estreou com um promissor quarto lugar a bordo da Benetton B188, seguido por Derek Warwick da Arrows e por Alessandro Nannini, na outra Benetton. Ayrton Senna descontou uma das três voltas que levou dos líderes e chegou em 11º lugar. Piquet deu só 10 voltas: a bomba de combustível da Lotus quebrou.

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O pódio proporcionaria outra cena clássica ao estilo Nigel Mansell: o inglês conseguiu a façanha de cortar um dedo da mão esquerda com a base do troféu. Fez as costumeiras caretas de dor, mas ergueu taça e comemorou com a champanhe no dia mais feliz da carreira de Maurício Gugelmin na Fórmula 1. O dia em que o piloto nascido em Joinville e radicado em Curitiba deixou de ser coadjuvante para ser protagonista.

Ao fim do ano, o prefeito Marcello Alencar comunicava a Bernie Ecclestone que o GP do Brasil deixaria de ser realizado no Rio de Janeiro. O inglês rapidamente acionou Piero Gancia, presidente da CBA na época, afirmou peremptoriamente que o país perderia a corrida e aí todo mundo sabe o que aconteceu depois.

Há 25 anos, direto do túnel do tempo.

http://youtu.be/VUDj0JGHJZs

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