Discos eternos – New Wave Mamão Com Açúcar (1985)

New Wave Mamão com Açucar (1985)RIO DE JANEIRO – Longe vão os tempos de quem, como eu, já passou dos 40 e nos anos oitenta pôde aproveitar bem a juventude. No início daquela década, o rock explodia no Brasil em bom português e, claro, com os grupos internacionais graças ao Rock in Rio. Mas uma outra vertente fazia barulho e ganhava as pistas, ou melhor, as danceterias – que roubavam a vez das decadentes discothèques.

Era o movimento New Wave, a nova onda da música, uma mistureba de glam, punk, pop, eletro e o que mais desse na telha. Músicas dançantes, pra cima, alegres. E foi com esse conceito que nasceu a coletânea New Wave Mamão Com Açúcar, alusiva à danceteria carioca que por um bom tempo foi concorrente de casas como a Help (quando ainda não tinha se transformado em ponto de encontro de mulheres de vida fácil), a Babilônia, a Zoom, a Mamute, entre outras, frequentadas pela garotadinha com cabelo cheio de glitter, roupas da Company, Cantão ou de qualquer outra grife da época, preferencialmente em tons cítricos, tênis quadriculados ou All-Star e relógios Champion, daqueles de pulseiras multicoloridas.

A seleção de repertório foi caprichada e com a mixagem final, bastava deixar o disco rolar que qualquer festinha estava garantida na animação. Lá em Ramos, onde passei a adolescência, o disco rolava direto. Era impressionante. Bastava tocar a primeira faixa e todo mundo começava a pulação.

Também pudera. O disco abre com “Middle Of The Road”, um dos clássicos dos Pretenders, cheio de solos de guitarras e gaitas da banda de Chrissie Hynde, emendando com a enérgica e até hoje sensacional “Dancin’ With Myself”, com Billy Idol e seu grupo Generation X, apelidado de Gen X na capa.

Não para por aí… a loucura continuava com “Private Idaho”, dos alucinados B-52’s, desaguando em “Let’s Go Crazy”, do baixinho invocado Prince e seu grupo The Revolution e nos criativos rapazes do Devo, que mandavam bem em “Beautiful World”.

O lado B abria com dois petardos. “Wake Me Up Before You Go-Go”, aquela do clipe tremendamente gay do Wham!, grupo em que George Michael catapultou-se para o estrelato. Não menos seguidora dessa vertente, “Just Can’t Get Enough”, dos caras do Depeche Mode, era outro hit arrasa-quarteirão, graças aos teclados de Vince Clarke – que depois iria para o Erasure.

Com riffs de guitarras, Huey Lewis & The News estavam representados com “I Want a New Drug”, seguida pela ótima “Dance Hall Days”, do Wang Chung. Como nem tudo é perfeito, a pior faixa era a última – “Native Love (Step by Step)”, do Divine, grupo do produtor Bobby O onde o vocal principal era de um travesti.

Aliás, não só a última música não é das melhores, como a capa do disco (arte de Jejo Cornelsen e Hildebrando de Castro) é uma mensagem subliminar de dois mamões sendo lambidos como se fossem seios. Não pegou bem.

Faltou muita coisa boa nessa coletânea, provavelmente pela questão da cessão dos fonogramas e principalmente pela falta de espaço de um disco de vinil, no qual couberam cinco músicas em cada lado.

Fica a pergunta: se New Wave Mamão Com Açúcar pudesse ganhar uma reedição em CD, quase 30 anos depois, que grupos e/ou artistas vocês colocariam? E com que músicas?

Cartas para a redação.

Ficha Técnica de New Wave Mamão Com Açúcar
Selo: Som Livre
Seleção musical: DJ Cláudio
Supervisão: Sérgio Mota
Lançado em 1985

Músicas:

1. Middle Of The Road (Pretenders)
2. Dancin’ With Myself (Billy Idol and Generation X)
3. Private Idaho (B-52’s)
4. Let’s Go Crazy (Prince & The Revolution)
5. Beautiful World (Devo)
6. Wake Me Up Before You Go-Go (Wham!)
7. Just Can’t Get Enough (Depeche Mode)
8. I Want a New Drug (Huey Lewis & The News)
9. Dance Hall Days (Wang Chung)
10. Native Love [Step by Step] (Divine)

Comentários

  • Só uma correção, Divine não era um grupo e sim o nome artístico de Harris Glenn Milstead famoso transformista, ator e cantor americano.
    New wave mamão com açúcar marcou época. Como você disse todas as faixas eram ótimas.
    Deixou saudades!

  • Eu não trocaria nada. O disco foi um dos mais perfeitos da década de 80. Eu tinha 19 anos. Tive (tivemos) a sorte de viver uma época musical ímpar.