A Fórmula 1 e seus vencedores centenários

RIO DE JANEIRO – Neste domingo, em corrida realizada de forma inédita à noite no circuito de Sakhir, a Fórmula 1 chega ao 900º Grande Prêmio de sua carreira no Bahrein. Costumo dizer que, para o momento atual da categoria, não poderia haver pista mais adequada para que tal marco histórico seja atingido.

Todavia, convido os leitores e leitoras do blog a viajar no tempo para conhecer os vencedores e as corridas centenárias desde a existência da categoria na história do automobilismo. Vamos nessa?

Corrida #100 – GP da Alemanha – Nürburgring, 1961

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O lendário Nordscheleife, o inferno verde de Nürburgring, foi o palco do centésimo Grande Prêmio da história da Fórmula 1. Na ocasião, a corrida valeu também como GP da Europa (a cada ano, uma corrida no continente recebia a distinção). Largaram 27 carros e a pole position foi de Phil Hill, com uma Ferrari. Só que Stirling Moss, a bordo de um Lotus 21 de motor Climax, reinou soberano no Ring debaixo de chuva, como mostra a foto da quadriculada. Liderou da primeira à 15ª e última volta, conquistando aquela que foi também sua vitória derradeira dentre as 16 que conquistou na categoria.

Corrida #200 – GP de Mônaco – Monte-Carlo, 1971

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As ruas do Principado de Mônaco viram o desfile de um dos maiores pilotos de todos os tempos na 200ª corrida da história da Fórmula 1. Com a Tyrrell 003 Cosworth número #11, o Escocês Voador Jackie Stewart passeou em Monte-Carlo e liderou absoluto todas as 80 voltas na ocasião. Pole position com mais de um segundo de avanço sobre Jacky Ickx, Stewart cruzou com 25 segundos de vantagem para o sueco Ronnie Peterson, então na March.

Corrida #300 – GP da África do Sul – Kyalami, 1978

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O 300º GP disputado pela Fórmula 1 foi em Kyalami, no país onde grassava o regime do Apartheid. O público que lotou o circuito sul-africano assistiu uma corrida épica, com cinco líderes diferentes: primeiro o pole position Mario Andretti, da Lotus, comandou até abandonar. Depois, Jody Scheckter fez a alegria dos compatriotas ao comandar a disputa com o Wolf, até ser superado pelo surpreendente Riccardo Patrese, com a Arrows – equipe que disputava apenas sua segunda corrida. O motor do carro do italiano quebrou na 64ª volta e a liderança passou às mãos de Patrick Depailler, da Tyrrell. E quando tudo parecia crer que o francês chegaria ao seu primeiro triunfo, o sueco Ronnie Peterson emergiu na última volta para superar o rival e vencer pela primeira vez em seu retorno à Lotus.

Corrida #400 – GP da Áustria – Zeltweg, 1984

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Num ano em que a McLaren deitou e rolou, com 12 vitórias e 16 corridas, o triunfo de Niki Lauda em casa, no GP da Áustria, foi especial. E com requintes de suspense, pois o pole position Nelson Piquet liderou do início à 39ª volta com sua velocíssima mas pouco confiável Brabham BT53 BMW, quando Lauda o ultrapassou. Minutos depois da manobra, o austríaco chegou a erguer o braço com estardalhaço, anunciando uma falha em seu carro. De fato, Lauda passou a conviver com um câmbio que não funcionava direito. Mas o piloto, cerebral como ele só, administrou o problema e faturou a corrida com 23 segundos de vantagem para Piquet. “Se eu soubesse que o Lauda tinha problema no câmbio, poderia ter pressionado e vencido. Tive vontade de encher de porrada o sujeito que via a corrida pela TV no box da equipe e não fez nada. Só que esse sujeito é o Bernie Ecclestone”, disse Piquet na época.

Corrida #500 – GP da Austrália – Adelaide, 1990

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Piquet não conquistou a vitória no 400º GP em 1984, mas a história seria outra seis anos mais tarde. Era uma corrida absolutamente festiva, com a presença de vários campeões no paddock (Juan Manuel Fangio, Jack Brabham, Denny Hulme e James Hunt, por exemplo) para abrilhantar a corrida nas ruas de Adelaide. Ayrton Senna largou na pole position e liderou até bater. Atrás dele, Nelson Piquet, inspirado como nos velhos tempos, fez uma corrida magistral com a Benetton Ford e no fim da disputa, protagonizou também uma briga épica com Nigel Mansell. O inglês tentou o bote na última volta, mas Piquet é Piquet e, com muita malandragem, o brasileiro recebeu a quadriculada para uma vitória tão histórica quanto significativa, pois o piloto – aos 38 anos – foi 3º colocado no Mundial de Pilotos, atrás apenas de Senna e Prost. Gênio!

Corrida #600 – GP da Argentina – Buenos Aires, 1997

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Em 13 de abril de 1997, a Fórmula 1 atingia sua 600ª corrida noutra pista tradicional do automobilismo mundial: o circuito Oscar Gálvez, em Buenos Aires. Foi um GP da Argentina bem interessante, embora praticamente dominado por Jacques Villeneuve. O piloto da Williams só não comandou a corrida em seis das 72 voltas. Mas não foi um triunfo dos mais sossegados: o filho de Gilles Villeneuve recebeu a bandeirada com apenas 0″979 de vantagem para Eddie Irvine, então na Ferrari.

Corrida #700 – GP do Brasil – Interlagos, 2003

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Seis de abril de 2003. Nunca esqueço esse GP do Brasil. Foi o primeiro que assisti em Interlagos e justo num dia em que a chuva não veio da represa, como diz o filósofo. São Pedro mandou desde as primeiras horas daquele domingo uma água memorável e o circuito alagado foi palco de uma das mais imprevisíveis edições da história da prova. O acúmulo de água na entrada da Reta Oposta provocou um sem-número de acidentes e até Michael Schumacher caiu na armadilha do aquaplaning. Essa é também a famosa corrida em que Rubens Barrichello assumiu a liderança e parou na Descida do Lago por falta de combustível e que não chegou ao final em decorrência de dois acidentes fortíssimos com Mark Webber e Fernando Alonso.

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No pódio, a dúvida: quem venceu? Giancarlo Fisichella ou Kimi Räikkönen? O piloto da Jordan comemorou, mas na época a cronometragem não se entendeu e apontou vitória do finlandês da McLaren. Dias depois, a FIA constatou um erro de interpretação do regulamento. Com a bandeira vermelha deflagrada na volta 56, valeria a classificação da volta 54, duas antes da paralisação. E naquela altura, o líder era justamente Giancarlo Fisichella – que receberia seu troféu numa cerimônia simbólica no GP seguinte, em Imola.

Corrida #800 – GP de Cingapura – Cingapura, 2008

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Caprichoso como sempre, o destino fez com que a 800ª corrida da história da Fórmula 1 jamais fosse esquecida – principalmente por parte dos torcedores brasileiros e por Felipe Massa, mas também pelo mundo do automobilismo. Afinal, foi neste GP em que Nelsinho Piquet rodou e bateu de propósito com sua Renault para provocar a entrada do Safety Car que beneficiou Fernando Alonso. O companheiro de equipe do brasileiro, 15º num grid de 20 pilotos, parou na décima-terceira volta para reabastecer, como parte de um plano maquiavélico engendrado por Flavio Briatore e Pat Symonds, do qual diversos membros da equipe e principalmente os pilotos tinham conhecimento da artimanha. Nelsinho foi para o muro uma volta após o pit do espanhol. No reabastecimento, a Ferrari embananou-se com a mangueira de combustível e Felipe Massa, pole position, caiu para a última posição.

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A estratégia da Renault deu certo: Alonso assumiu o primeiro lugar na 34ª volta e venceu com quase três segundos de vantagem para Nico Rosberg. Massa, 13º colocado na ocasião, chora até hoje o resultado do GP de Cingapura como o principal responsável pela perda do título mundial em 2008 – o que, cá pra nós, não corresponde à verdade. O resto da história, todo mundo sabe: após a demissão do filho em 2009, o tricampeão Nelson Piquet delatou todo mundo à FIA, que julgou e puniu os culpados, num dos maiores escândalos do esporte. Nelsinho ganhou um salvo conduto da entidade, mas teve seu filme incinerado na categoria. Fernando Alonso, o principal beneficiado por tudo aquilo, continua firme na Fórmula 1. É a vida…

Comentários

  • Essa temporada está caminhando para ter uma das piores aceitações da história da categoria. Carros feios. Motores com ronco sem graça. Corridas monótonas.

    Rumo sem volta? Conseguiram frear os orçamentos bilionários de algumas equipes, a coisa até melhorou em anos anteriores, mas falta identidade a F1. Quase toda temporada mudam o regulamento técnico e desportivo, obrigando as equipes a gastarem mais. Para quem acompanha do lado de fora, é preciso se atualizar todos os anos para entender as novas regras. Seria tão ruim congelar os regulamentos por pelo menos 3 temporadas?

    Em 10 anos, os carros estão quase 10 segundos mais lentos por volta. Ganham em tecnologia, perdem em rendimento. E quando os engenheiros invetam algo inovador para aumentar a performance, tratam de proibir no ano seguinte.

    Não sei bem onde querem chegar. Fica nítido que estão incomodados com a situação da categoria.

    Talvez uma categoria concorrente na Europa faria bem a F1. O WEC está crescendo…

    • Tem razão acompanho F1 desde 1970 ,agora inventaram piloto escolher nu. carro e ainda fica pouco visivel nu. no carro não consigo identificar mais ninguem quando vou interlagos .

  • Muito bom esse post! Bom que o Piquet ganhou uma delas. Não sabia. Estava vivo em 3 (97, 03, 08), mas confesso que só lembro realmente da de 2003 e 2008. A 2003 foi uma das mais intensas e loucas corridas de F1 ? ninguém sabia o que estava acontecendo. Era uma corrida normal até que a chuva caiu. Aí pronto gente rodando, quase ou se não, acertando o trator, fiscal de pista fugindo de carro, quem se manteve na pista se deu bem. Webber destruiu o carro e em seguida o Alonso pegou um dos pneus e aí foi outra pancada que determinou o vencedor da corrida só no GP de Ímola. Loucura total.

    O de 2008 eu estava assistindo com meu pai (como sempre), e lembro de que quando o Nelsinho bateu ele soltou: “Ih rapaz o Alonso foi o único que parou! Só falta o safety car entrar e o Alonso ganhar a corrida”. Não deu outra KKKKKKKKKKKKK Depois que todo mundo parou ele fechou: “Isso é que é um jogo de equipe bem feito (rindo)”. Depois que tudo veio a tona ele me falou que nem de brincadeira ele esperava que isso realmente acontecesse. Quanto ao Felipe FuMassa, a verdade é que ele não perdeu o campeonato ali. Não se perde o campeonato em 1 corrida. Você e sua equipe perdem o campeonato em todos os erros durante uma temporada.

    Quem será que ganha o de nº 900 ? Eu vou apostar no Rosberg.