Corrida extraordinária

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RIO DE JANEIRO – Na semana que antecedeu ao GP do Bahrein, o escriba aqui cometeu a pachorra de dizer que a pista-sede da corrida #900 da história da Fórmula 1 fazia jus ao momento atual da categoria. Também pudera: as provas iniciais na Austrália e na Malásia tinham sido pouco entusiasmantes e todo mundo só fazia críticas ao barulho dos novos motores V6 Turbo.

Quebrei a cara. Que bom! E dentre as etapas ‘centenárias’ que assisti, a partir de 1984, essa entra no ranking das melhores. O GP 500, de 1990, é o meu favorito, por motivos óbvios e o segundo, claro, é o GP 700, aquele da tromba d’água de Interlagos, em 2003. Duas provas épicas às quais se junta a de hoje.

A corrida, primeira disputada à noite no sultanato do Oriente Médio, foi extraordinária. Esqueçamos por um tempo que o barulho dos motores dos carros não tem graça nenhuma. O que se viu em Sakhir foram disputas excepcionais por posições e talvez uma das maiores atuações de um piloto nos últimos tempos.

Lewis Hamilton venceu sua segunda corrida consecutiva e foi soberbo, absurdo. Teve, na minha opinião, a melhor atuação de toda sua carreira de piloto de Fórmula 1. Correu como um autêntico campeão do mundo e derrotou o alemão Nico Rosberg como tem que ser. Sem ordem de equipe, sem palhaçada de rádio, na pista, no puro talento. Acredito que o companheiro do britânico, após uma disputa épica pela liderança, tenha ‘afinado’ um pouco em busca do segundo lugar que lhe mantém em primeiro do Mundial de Pilotos com 61 pontos.

Aliás, o GP do Bahrein deixa claro mais uma vez que a Mercedes-Benz segue furos acima das outras equipes. E que a Red Bull continua remando contra a maré. O construtor alemão, como sabido, fornece motores para outras três equipes e em determinado momento, seis carros com os propulsores da estrela de três pontas estavam nas seis primeiras posições. Um massacre para deixar Renault e Ferrari coradas de inveja e vergonha…

perezcar

E quem brilhou no best of the rest foi a Force India. Quem diria! O time de Vijay Malliya tem um ótimo início de temporada e Sergio Pérez deu logo em sua terceira prova pela escuderia um tapa com luva de pelica na McLaren. Alcançou o quarto pódio na carreira e o segundo da história da equipe – o primeiro fora em 2009, com Giancarlo Fisichella, no GP da Bélgica. Nico Hülkenberg, de quem sempre se espera os melhores desempenhos do time, andou bem mas teve problemas de pneus e terminou em quinto.

Quem sorri discretamente, em algum lugar do planeta, é Martin Whitmarsh. Nem preciso dizer o porquê, não é mesmo?

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Lembro que um leitor escreveu na área de comentários do post sobre o GP da Malásia que Helmut Marko não terá dificuldade em “domesticar” Daniel Ricciardo na Red Bull. Comentei que tinha minhas dúvidas e que o australiano não é nenhuma mosca morta. E o resultado está aí: quarto lugar para o canguru, à frente de Sebastian Vettel, fragorosamente ultrapassado pelo companheiro de equipe – e sem nenhuma contestação. “Multi 21”? É… dessa vez, isso não aconteceu.

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A Williams novamente pôs seus carros na zona de pontuação e Felipe Massa deu a impressão de que brigaria lá na frente, após uma largada fantástica vindo de sétimo para terceiro. Porém, o Safety Car que foi acionado após uma capotagem do mexicano Estebán Gutiérrez, cortesia do sempre tresloucado Pastor Maldonado, deitou por terra não só as chances do brasileiro como também de Valtteri Bottas. Pelo menos, desta vez, Massa não passou pelo desplante de ter que ouvir ordens do time sugestionando uma inversão de posições e o piloto levou seu carro ao fim, em 7º lugar.

Parêntese para o chamado “Enigma Tostines”, sobre Pastor Maldonado e o acidente com Estebán Gutiérrez:

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O venezuelano comeu criança quando era merda ou comeu merda quando era criança? O que ele fez com Gutiérrez é inadmissível. E a FIA, que é tão rigorosa com alguns pilotos, dessa vez baixou as calças e deu apenas um stop & go de 10 segundos para o representante da Lotus.

Sei lá… acho que falta coragem a esses comissários. No meu tempo, por muito menos, como dar marcha a ré nos boxes, Nigel Mansell levou bandeira preta de desclassificação. E ainda por cima, a Fórmula 1 inventa um sistema coxinha ao estilo Detran, com “perda de pontos na carteira”. Vamos parar de palhaçada: Maldonado tinha que ser punido com bandeira preta e um tribunal deveria julgá-lo e suspendê-lo por, no barato, uma corrida. Ponto final.

Fecha o parêntese. Voltemos à corrida, que é o que interessa.

E a Ferrari, hein? Levou um ferro abissal no Bahrein. Deu pena de Fernando Alonso e Kimi Räikkönen, que foram ultrapassados várias vezes, em diferentes pontos da pista, das mais variadas formas. Os carros vermelhos, de tão lentos em relação aos adversários, pareciam mais uns Fórmula 3. Estranho foi Alonso ‘comemorar’ um triste 9º lugar. Será porque chegou à frente do Iceman? É bem possível, não se surpreendam.

Pelo visto, Maranello continua com a impressionante vocação de construir carros mal nascidos e não ter como reverter o quadro. Muita gente credita as constantes derrotas da Ferrari ao fato de que Stefano Domenicali não merece estar no posto que ocupa e as más línguas, hoje, resolveram pôr a culpa do fracasso na corrida barenita em Luca di Montezemolo, que estava in loco em Sakhir.

E a McLaren, hein? Bem… seus dois pilotos nem chegaram perto da zona de pontos. Aliás, abandonaram. Notaram também que foram cinco equipes apenas com carros entre os dez primeiros? Pois é.

Mais: Max Chilton, sempre na base do “devagar eu chego lá”, completou em 13º lugar. Com esta, são 22 corridas do britânico recebendo consecutivamente a quadriculada. Abandonos: nenhum.

A realidade é a seguinte: Mercedes na frente e o resto, muito atrás. Querem uma prova? Nos Construtores, a marca lidera com 111 pontos. A Force India, vice-líder, soma 44, quase três vezes menos. A Red Bull, grande dominadora da Fórmula 1 (quem diria…), amarga um quarto lugar com 35 pontos, oito atrás da McLaren. E não há indícios de que as coisas mudem a tempo para o GP da China, no dia 20 de abril.

Pelo visto, se alguém quer esperar por reação de alguém, somente a partir do GP da Espanha. Até lá, é Mercedes na cabeça e o pessoal que corra atrás do prejuízo, que pode ser enorme.

Comentários

  • Obrigado pela lembrança minha quanto ao Marko domesticar o Ricciardo!

    Ainda acho que Ricciardo vai acabar sendo dobrado pelo consultor técnico da Red Bull,que não quer saber de novas brigas no seu quintal,mas por enquanto Ricciardo não está se dobrando a ele.

    Vamos aguardar se continua assim quando Vettel acordar pra vida,mas ainda assim acredito que Ricciardo fará muito mais pela Red Bull do que o canastrão do Webber.

  • Como pode um cara fazer o quê o Maldonado fez?coisa de doido.Mas quê dá emoção isso é inegável.Eu acho quê a mãe dele criou a placenta e jogou ele fora.Pelo menos testou a resistência do chassis.O problema da Ferrari não era o Felipe,muito pelo contrário agora agente vê na prática o quê todos nós chiamos direto aqui sobre o fato do Felipe submeter-se a Ferrari do jeito quê ele fez.Penso há tempos quê falta a Ferrari é alguém com competência para acertar o carro,não defendo Domenicali,Mas é ele quem concebe o carro? A Ferrari não está mal estruturada.O Ricciardo está certo um dia o Vettel,vai entrar em declínio.Boba vai ser a Red Bull se apoiar para sempre o Vettel.O Hamilton é bom mas é só ele ter uma crise existencial para por tudo a perder,é fraco de cabeça se o Rosberg levar o cara na manha ele vai ser campeão,e pensar quê se o Nelsinho tivesse juízo poderia estar no meio dessa turma.

  • Épica! Competição pura. Muito boa!

    Sempre fui um crítico do Domenicali, que perdeu duas vezes a chance de ser campeão com Alonso. Uma por incompetência na estratégia (2010) e outra por não gerenciar corretamente seus recursos tecnológicos (2012). Acha que um cara desses deveria continuar no controle? Porém, acredito que esse ano o carro é bem nascido, mas o propulsor está sendo o pé no freio do time.

    Como conhecemos bem Alonso, o cara faz as coisas acontecer dentro e fora da corrida. Aquela comemoração foi para envergonhar a Ferrari, sarcasmo disfarçado. Sim, significando que tanto ele como Kimi fizeram milagre para chegar a zona ne pontuação.

    E o Vettel e aquela história de problema com o carro após o Riccardo deixa-lo a ver navios? O problema é que o Riccardo está acostumado a pilotar um carro lento e tirar o melhor dele, agora o Vettel não… vai ter que se acostumar.

    Na hora da disputa final de Hamilton de Rosberg, o inglês reclamou de falta de potência. Era nítida a luz de economia de combustível piscando em seu carro sendo que a equipe já havia dito que ele não precisava poupar. Será que eles esqueceu de mudar a regulagem do volante após a relargada? kkkkkk… momentos depois do rádio a luz não se ascendeu mais.

    Só acho que a Williams tem muito mais carro do que seus pilotos demonstram.

    Enfim, corrida para ficar marcada na história.

  • O problema da Williams é a asa traseira. Ela vibra muito e só olharem na transmissão com a câmera mostrando a traseira. Parece que o carro não tem “chão” na traseira quando acelera e com os pneus gastos esse problema fica mais nítido.

  • Não foi uma corrida, foi um espetáculo. Foi espetacular do início ao fim. Realmente uma das melhores que a F1 já nos ofereceu. Hamilton venceu na “categoria LMP1” onde se tem apenas 2 carros, e venceu de forma que somente um campeão poderia fazer. Na “categoria GT” onde estão a maioria dos carros, venceu Sergio Pérez.
    Acredito que o Alonso, debochou da ferrari ao “comemorar” um 9º lugar. Ele não é tão humilde a ponto de “comemorar” uma situação dessas.

  • Assisti as ultimas 6 voltas…realmente o Hamilton pilotou muito numa disputa incomum para a fórmula 1 dos tempos atuais.
    Até mesmo o “Chatão”, sempre crítico do piloto, teve de engolir e rasgou elogios para a manobra de defesa. Destaco também Sergio Perez…infeliz na McLaren, feliz na Force India. Tomara que as demais provas sejam assim, e quem sabe eu volte a me interessar pelo campeonato.

  • Rodrigo,

    Acho q o Alonso foi irônico ao comemorar o 9º lugar. Foi a única coisa q me veio a cabeça…
    Qto a corrida, vc disse tudo… Corridaça.

    Qto ao barulho, não parece com as da motoGP ?
    ===
    P/ terminar… Pq o Burti não faz mais parte da transmissão ??? Pergunto pq só assisti as 2 anteriores no VT do SportTV

  • bom, discordando de quase todo o globo terrestre, eu nao achei a corrida espetacular!! ridiculo os carros andando junto em equipes… nao houve competitividade efetivamente. o que teve de duelo foi porque as trocas de pneus nao eram ao mesmo tempo logico, mas se fossem seria a corrida inteira mercedes-mercedes, force-force, rbr-rbr, williams-williams…

  • O Burti é da equipe ainda. Tanto que foi ele quem trabalhou na Malásia. Na verdade há um revezamento entre Burti, Rubens e até o Reginaldo. Geralmente, o rodízio é mais assíduo entre o Burti e o Rubens.