Com a palavra, Wolfgang Hatz

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Wolfgang Hatz (ao lado do piloto Romain Dumas) é o responsável pelo envolvimento da Porsche no WEC (Divulgação/Porsche Presse)

RIO DE JANEIRO – Recebi via e-mail, através da assessoria de imprensa da Porsche e seu braço da América Latina, uma interessante entrevista com mr. Wolfgang Hatz, diretor executivo do setor de pesquisa e desenvolvimento da Porsche AG. A marca reaparece em Sarthe no fim de semana de 14/15 de junho com dois protótipos LMP1, o 919 Hybrid, em busca de sua 17ª vitória geral. Em categorias, são 103 no total – duas no ano passado, pelas classes LMGTE-PRO e LMGTE-AM.

Em 2014, além do time de protótipos, a Porsche mantém a parceria com a escuderia de Olaf Manthey na classe principal de Grã-Turismo e ainda oferece suporte a seis carros de três outras equipes – Prospeed Competition, da Bélgica, IMSA Performance Matmut, da França e Proton Competition, da Alemanha. Esta última tem um carro alinhado em conjunto com a Dempsey Racing, dos EUA.

Aqui abaixo, a reprodução da entrevista, na íntegra.

Sr. Hatz, quando e por que a Porsche decidiu retornar à principal categoria do campeonato mundial de endurance (World Endurance Championship, WEC) e Le Mans?

Wolfgang Hatz: “Isso aconteceu em 2011. Tanto naquela época, como agora, estávamos bem posicionados na categoria GT, mas está na hora da marca retornar ao nível de elite. As opções para isso são fáceis de entender. Temos a Fórmula 1 e temos o WEC com Le Mans. Um critério essencial para a decisão era o desejo de dar início ao projeto dentro da própria Porsche, para que assim o conhecimento fosse desenvolvido e permanecesse dentro da empresa. O World Endurance Championship, incluindo Le Mans, atendia melhor a esse objetivo; ele é um verdadeiro esporte de equipe, e isso é especialmente verdadeiro quando se trata de pilotos de equipe. Entretanto, precisávamos criar a infra-estrutura para tanto: novos prédios e uma equipe de 230 pessoas, sendo que todos eles são engenheiros”.

A conexão histórica com Le Mans também influenciou essa decisão?

Wolfgang Hatz: “A Porsche faz parte de Le Mans, e Le Mans faz parte da Porsche; elas se encaixam. Todavia, ninguém faz esse tipo de investimento devido à nostalgia; ele precisa gerar um retorno no futuro. Eu não consigo me lembrar de existir antes normas que davam aos engenheiros tanta liberdade e que exigiam tantas inovações. A obrigação de fabricar um híbrido e a fórmula de eficiência representam desafios revolucionários. Sinto muito orgulho de meus engenheiros por eles terem ido mais longe do que os outros. Em última instância, os clientes da Porsche serão beneficiados com isto”.

Você poderia explicar isto em termos leigos?

Wolfgang Hatz: “Nosso motor de combustão é o motor mais refinado e mais eficiente já desenvolvido pela Porsche. Este motor turbo compacto de dois litros e quatro cilindros, com injeção dieta de combustível e mais de 500 cv de potência, aciona o eixo traseiro. Ele é o menor motor com o menor número de cilindros na categoria principal da corrida. Nossos engenheiros também combinaram um sistema de recuperação de energia dos gases de exaustão fundamentalmente novo com este motor. Ninguém mais conta com isso. Armazenamos a energia recuperada de um fluxo de gases de exaustão que, caso contrário, seria improdutivo, em uma bateria. Armazenamos a energia que geramos durante a frenagem no eixo dianteiro nessa mesma bateria. Quando o piloto busca a energia deste reservatório formado pelas mais células de bateria de última geração, diversos cavalos força acionam o eixo dianteiro. Durante esta fase, o piloto tem uma poderosa tração nas quatro rodas à sua disposição. Nosso carro é o único na disputa que converte energia que, caso contrário, seria simplesmente desperdiçada, e a torna utilizável, não apenas durante a frenagem como também na aceleração. Isso representa um imenso potencial para os carros esportivos de rua do futuro”.

As normas de eficiência não seriam prejudiciais à própria corrida?

Wolfgang Hatz: “De maneira nenhuma; as corridas em Silverstone e em Spa-Francorchamps já demonstraram isso. Os protótipos contam com muita potência à disposição, não importa se ela é na forma de um motor de combustão interna ou elétrico. Eles precisam usar toda essa energia em cada volta, caso contrário, é um desperdício; não é possível guardar nada aqui. Estas corridas de endurance são corridas de velocidade máxima percorridas em distâncias inacreditáveis”.

O World Endurance Championship é formado por oito corridas, mas o enfoque é dado a Le Mans. Quando é que o envolvimento da fábrica seria considerado um sucesso?

Wolfgang Hatz: “Seria maravilhoso se a equipe da categoria GT pudesse dar continuidade ao sucesso do ano passado. Entretanto, isso é literalmente mais difícil porque tivemos que acrescentar peso aos carros de acordo com as novas regras. A equipe Porsche Team Manthey, liderada por Hartmut Kristen, conta com experiência abrangente, o que pode fazer uma diferença decisiva em Le Mans. A situação é completamente diferente no caso da equipe da Porsche liderada por Fritz Enzinger na categoria LMP1: não temos nenhuma experiência lá. O ano de 2014 é o ano do aprendizado, e não admitirmos isso significaria calcular mal Le Mans. Em Spa-Francorchamps, o Porsche 919 Hybrid demonstrou de maneira impressionante que a velocidade necessária está lá, ao conquistar a pole position e a volta mais rápida da corrida. Nossos concorrentes sabem que somos uma força que precisa ser reconhecida. Entretanto, o 919 Hybrid ainda não cobriu toda a distância de Le Mans em condições de corrida, e nesse respeito, seria um sucesso se apenas um dos LMP1 terminar o evento. Completarmos a corrida com ambos os carros seria fabuloso”.

Em Silverstone, vimos o senhor aplaudindo com emoção o lugar no pódio na plateia, sob chuva forte. Isso não seria a exigência elevada que a Porsche impõe para si mesma?

Wolfgang Hatz: “Aquele foi um momento de imensa alegria, mas não estou perdendo de vista a realidade em relação a isto. Fomos extremamente bem sucedidos em Silverstone, e também nos beneficiamos com o fato de que nossos concorrentes tiveram problemas. Entretanto, conseguimos concluir a primeira corrida de seis horas neste carro extremamente complexo com uma equipe que nunca antes havia disputado em um circuito. Todos os processos, especialmente em condições climáticas caóticas, funcionaram muito bem quando debutamos, e todos trabalharam muito duro para conseguirmos isso. Os pilotos mostraram tanto sua grande habilidade como também muita disciplina. O pódio foi uma ótima experiência para todos nós, e conquistamos tanto o primeiro como o segundo lugar na categoria GT. O quadro que você viu  na Inglaterra foi maravilhoso”.

De onde o senhor estará assistindo à corrida de 24 horas?

Wolfgang Hatz: “Eu estarei trabalhando e não serei apenas um espectador. É claro que eu passo a maior parte do tempo na área do pit-stop. Eu vou a todas as corridas e estava nas pistas em quase todas as provas. Aliás, na maioria das vezes ao lado de Matthias Müller, Presidente da Diretoria Executiva, que também estará lá nos duas 14 e 15 de junho. Venha o que vier”.

Comentários

  • ” seria um sucesso se apenas um dos LMP1 terminar o evento. Completarmos a corrida com ambos os carros seria fabuloso”.”
    pouca ambição para um projeto tao grande, se bem que eles nao tem experiência alguma.