40 anos do bi, parte IV – GP da Espanha de 1974

Espanha 74
O pôster promocional com a McLaren de Emerson “dobrada” na imagem

RIO DE JANEIRO – Dentro do revezamento proposto para o GP da Espanha entre Barcelona, no circuito urbano do Parc Montjuich e o autódromo de Jarama, coube a este último sediar a corrida em 1974, que seria a quarta etapa do campeonato. Após a etapa sul-africana, a liderança do Mundial cabia a Clay Regazzoni, que somava 10 pontos, contra nove de Denny Hulme, Emerson Fittipaldi e Carlos Reutemann.

Marcada para 28 de abril, a etapa – primeira em território europeu – veria a volta da Shadow após a ausência em Kyalami. O britânico Brian Redman pegou a vaga de Peter Revson e correria no modelo DN3 ao lado de Jean-Pierre Jarier. Rikki Von Opel pegou a vaga de titular na Brabham em lugar de Richard Robarts, que não mostrou muita coisa.

Dois carros novos deram as caras na Espanha: o Trojan T103, projeto de Ron Tauranac, com Tim Schenken a bordo e o Amon AF101, desenhado por Gordon Fowell e alinhado pela equipe caseira do neozelandês Chris Amon. Também estrearia o novo Tyrrell 007, novo projeto de Derek Gardner, aposentando de vez o conceito de suspensão de barras de torção que permeava o chassi 006.

Surtees TS16. J. de Bagration 1974
Jorge de Bagration perdeu um patrocínio de 350 mil pesetas da cadeia de lojas El Corte Inglés e, por conta da irresponsabilidade do presidente da Real Federação Espanhola de Automobilismo, que perdera a reeleição, não pôde ser inscrito no GP da Espanha

Outras novidades – que não foram para a frente – eram o retorno do suíço Silvio Moser a bordo do Brabham BT42 da Scuderia Finotto e a inscrição de um Surtees TS16 da Escuderia Calvo Sotello, com patrocínio da cadeia de lojas El Corte Inglés, para o espanhol Jorge de Bagration – que nunca se concretizou, por um equívoco da Real Federação Espanhola de Automobilismo: o presidente anterior da entidade não se reelegera ao cargo e, ao limpar a mesa com a papelada nela contida, levou consigo a lista de inscritos. Refeita às pressas, a lista apresentada pelos organizadores “esqueceu” Bagration, que ficou a ver navios duplamente, pois a loja El Corte Inglés retirara também o investimento do aluguel do carro, estimado em 350 mil pesetas. Ao todo, 28 carros se apresentaram para brigar por 26 vagas no grid do GP da Espanha.

Nos treinos de classificação, Niki Lauda voltou a exibir a superioridade dos motores 12 cilindros da Ferrari em comparação aos Ford-Cosworth V8. O austríaco conquistou sua segunda pole position com o tempo de 1’18″44, apenas três centésimos mais rápido que Ronnie Peterson, na segunda aparição do Lotus 76. Clay Regazzoni obteve a terceira melhor marca e Emerson Fittipaldi foi o quarto colocado, a oito décimos da pole. José Carlos Pace ficou apenas em 15º, com 1’20″52, enquanto Guy Edwards e Tom Belso não se qualificaram para a largada.

No domingo, dia da corrida, o circuito de Jarama amanheceu molhado e as equipes tiveram que usar pneus de chuva na hora da largada. Mas havia a expectativa do tempo melhorar e a pista secar ao longo das 90 voltas previstas. Se a chuva persistisse por mais tempo que o esperado, a prova seria encerrada no tempo limite de duas horas.

Lauda não largou bem, patinando as rodas traseiras apesar do piso molhado; Peterson largou na frente e ponteou por 20 voltas, até parar

Lauda não fez uma boa largada, apesar das instruções detalhadas do diretor de prova. Quem assumiu a ponta foi o sueco Ronnie Peterson, com o austríaco em segundo ao fim da primeira volta. Emerson caiu para quinto, superado por Jacky Ickx, sempre competitivo debaixo de chuva – aliás, antes do GP da África do Sul, o belga da Lotus vencera a Race of Champions, no circuito britânico de Brands Hatch.

Com cerca de 20 voltas, a pista de Jarama começou a secar e os pneus biscoito foram pouco a pouco perdendo a eficiência. As equipes chamaram os pilotos para as trocas de pneus e os pit stops daqueles tempos duravam uma eternidade, se comparados por exemplo com os dos dias atuais. Peterson, que se manteve na ponta até a 20ª volta, parou para a troca. Foi um pit muito longo e o sueco voltou à pista em 13º lugar. Quando já vinha em sexto, seu carro teve problemas de superaquecimento e ele se viu obrigado a desistir.

Lauda, que superara Peterson antes do pit do sueco, parou também nos boxes e ofertou a ponta a Jacky Ickx. O belga comandou a prova por duas voltas, mas a exemplo de Ronnie enfrentou problemas – só que nos freios. Também acabou fora da corrida.

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Quando a pista secou, Emerson ultrapassou o March de Hans-Joachim Stuck e rumou para o segundo pódio de 1974

Emerson Fittipaldi chegou a cair para a décima-sexta posição após a troca dos pneus biscoito pelos slicks, mas à medida que o carro da McLaren ganhava aderência na pista quase que totalmente seca, o piloto brasileiro se aproximava de novo do pelotão dianteiro. Com 26 voltas, ele era o quinto, atrás de Lauda, Clay Regazzoni, Hans-Joachim Stuck (em excelente corrida a bordo do March) e Arturo Merzario, muito bem com o Iso-Marlboro.

Na altura da 38ª volta, Merzario preparou-se para fazer uma curva com o #20, mas o carro não obedeceu. As rodas bloquearam na frenagem e o italiano bateu com força no guard-rail. O impacto foi tão forte que Merzario passou com seu carro por sobre um grupo de fotógrafos, parando metros adiante após arrebentar várias cercas de proteção. Apesar do acidente, o piloto saiu ileso dos destroços. Com isso, Emerson subia para quarto, à frente de Jody Scheckter e James Hunt. Lutando contra as limitações do Surtees TS16, José Carlos Pace vinha na 9ª posição.

Inteiramente dominado pela Ferrari a partir do momento em que os carros passaram a usar pneus de pista seca, o GP da Espanha teria apenas uma única – e importante – alteração na classificação até o fim da disputa, com o tempo máximo de 2 horas sendo atingido a seis voltas para o total estabelecido para a corrida. Emerson Fittipaldi suplantou Stuck na 60ª volta e rumou para o segundo pódio do ano, resultado que o deixou na 3ª posição do campeonato, com 13 pontos – dois atrás de Niki Lauda e três de desvantagem para Regazzoni.

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A alegria de Luca Di Montezemolo e a de Niki Lauda; ambos erguem os braços na comemoração da primeira vitória da Ferrari na F1 desde 1972

Exultante, Luca Di Montezemolo não se conteve ao ver a Ferrari de Lauda apontando na reta para receber a quadriculada da vitória. O dirigente invadiu a pista ao estilo de Colin Chapman e comemorou a primeira vitória do construtor italiano desde o triunfo de Jacky Ickx no GP da Alemanha de 1972, em Nürburgring. E foi um triunfo em dobradinha, pois Regazzoni chegou em segundo. Stuck foi o 4º colocado, com Jody Scheckter marcando os dois primeiros pontos dele na F-1 com o novo Tyrrell 007. James Hunt perdeu o 6º lugar nas voltas finais para o veterano Denny Hulme, que somou mais um pontinho no campeonato.

De costas na imagem, o Rei Juan Carlos cumprimenta o vencedor Lauda, o 2º colocado Regazzoni e o 3º Emerson Fittipaldi
De costas na imagem, o Rei Juan Carlos cumprimenta o vencedor Lauda, o 2º colocado Regazzoni e o 3º Emerson Fittipaldi

No pódio, o Rei Juan Carlos, em pessoa, cumprimentou os três primeiros colocados. Lauda, com a vitória, se colocava como um forte candidato ao título ao lado de Regazzoni. Emerson sabia que eles seriam seus rivais. Mas não os únicos…

O resultado final:

1º Niki Lauda (Ferrari), 84 voltas em 2h00min29seg56, média horária de 142,383 km/h
2º Clay Regazzoni (Ferrari), a 35seg61
3º Emerson Fittipaldi (McLaren), a uma volta
4º Hans-Joachim Stuck (March), a duas voltas
5º Jody Scheckter (Tyrrell), a duas voltas
6º Denny Hulme (McLaren), a duas voltas
7º Brian Redman (Shadow), a três voltas
8º Patrick Depailler (Tyrrell), a três voltas
9º Mike Hailwood (McLaren), a três voltas
10º James Hunt (Hesketh), a três voltas
11º John Watson (Brabham), a quatro voltas
12º Henri Pescarolo (BRM), a quatro voltas
13º José Carlos Pace (Surtees), a seis voltas
14º Tim Schenken (Trojan), a oito voltas (rodada)
15º Jean-Pierre Jarier (Shadow), a onze voltas (não classificado)

Não terminaram:

16º Graham Hill (Embassy-Lola), 43 voltas (motor)
17º Arturo Merzario (Iso-Marlboro), 37 voltas (acidente)
18º Jochen Mass (Surtees), 35 voltas (caixa de câmbio)
19º François Migault (BRM), 27 voltas (motor)
20º Jacky Ickx (Lotus), 26 voltas (vazamento de óleo)
21º Ronnie Peterson (Lotus), 23 voltas (superaquecimento)
22º Chris Amon (Amon), 22 voltas (freios)
23º Rikki Von Opel (Brabham), 14 voltas (vazamento de óleo)
24º Carlos Reutemann (Brabham), 12 voltas (acidente)
25º Jean-Pierre Beltoise (BRM), 2 voltas (motor)
26º Vittorio Brambilla (March), não largou

Comentários

  • Só uma dúvida Rodrigo vc disse q os pit stops naquela época eram uma eternidade se comparar aos de agora.Vc sabe me dizer qual era mais ou menos o tempo gasto pra fizer um pit stop normal naquela época?

  • Enorme a diferença entre os pilotos ao término da prova.
    O terceiro, Emerson, a uma volta do líder.
    Notar também que, de 26 pilotos que largaram, 11 não terminaram.
    Acho que atualmente temos uma Formula 1 mais equilibrada, mas temos uma tendência a achar que tudo no passado era melhor.
    Dentro de alguns anos nos lembraremos dos grandes pilotos que temos no Grid:
    Alonso, Vettel, Hamilton, Ricciardo, Raikkonen, Rosberg, Bottas, e (porque não incluir) Massa.
    Abrax !!

  • Correção: meu xará ainda não era rei (era príncipe) porque o ditador Franco ainda estava vivo.

    Classificação:
    Regazzoni: 16
    Lauda: 15
    Emerson: 13
    Hulme: 10
    Hailwood, Reutemann: 9
    Beltoise: 8
    Stuck: 5
    Ickx, Depailler: 4
    Pace: 3
    Scheckter: 2
    Peterson, Merzario: 1

  • Caro Rodrigo Mattar,

    Uma curiosidade: Esta foi a primeira das 25 vitórias de Niki Lauda na Fórmula 1, e outro fato importante é que tenho essa revista da 4 Rodas falando tudo sobre como foi essa corrida. Emerson foi valente e ainda teve um problema com um dos cilindro de seu Mclaren M-23 e terminando em terceiro.

    • Azul é a cor do império italiano, mas não sei se tem a ver com isso. Certo é que a partir de 1975, Lauda e Rega passaram a usar macacões vermelhos.