40 anos do bi, parte VI – GP de Mônaco de 1974

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Poster promocional do GP de Mônaco em que, ironicamente, a Lotus #1 tem Emerson Fittipaldi a bordo

RIO DE JANEIRO – Duas semanas após o GP da Bélgica, a Fórmula 1 se reuniu para uma das mais emblemáticas corridas da história da categoria. Os carros voltariam a desfilar seu colorido e potência pelas ruas do Principado de Mônaco, em Monte-Carlo. Eram tempos em que a beleza de Grace Kelly ainda era vista na tribuna de honra e a presença de David Niven, um entusiasta do automobilismo e amigo de dezenas de pilotos, era saudada no Paddock monegasco.

A lista de inscritos para a 6ª etapa do campeonato tinha poucas novidades em relação à etapa de Nivelles. A começar pelo retorno do Amon AF101 de Chris Amon, que passara por uma revisão que garantiu sua presença em Monte-Carlo. Mas houve controvérsia: os organizadores vetaram a inscrição do Token RJ02 que estreara na Bélgica por julgarem que Tom Pryce era inexperiente demais. Pois bem: Pryce foi inscrito pela equipe Ippokampos para disputar o GP de Mônaco de F-3 com um March. E venceu a corrida preliminar da F-1.

Líder do campeonato com 22 pontos, Emerson Fittipaldi tinha a missão de manter-se à frente da dupla da Ferrari na classificação do Mundial de Pilotos. Mas havia um problema extrapista que atrapalhava o brasileiro: resfriado e com uma ligeira febre, ele não se encontrava no seu melhor em termos físicos. Além de tudo, o McLaren M23 não estava competitivo nas ruas do Principado, mesmo com a estreia de uma nova seção dianteira, mais afilada.

Na qualificação, Niki Lauda mostrou que era o mais rápido piloto daquela temporada. Fez a terceira pole position dele em seis etapas, com o tempo de 1’26″3 para o circuito de 3,278 km de extensão. A primeira fila foi toda “Rossa”, pois Clay Regazzoni ficou em segundo a três décimos de Lauda. Em terceiro, Ronnie Peterson, na volta do Lotus 72E às pistas. Insatisfeito com o mau desempenho do modelo 76 nas três corridas anteriores, Colin Chapman usou como paliativo o velho cavalo de batalha para tirar a Lotus da pasmaceira no campeonato e das últimas posições no Mundial de Construtores.

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Gripado e febril, Emerson não foi além da 13ª posição do grid em Monte-Carlo

Patrick Depailler surpreendeu com o Tyrrell 007 e foi o quarto na qualificação, superando Jody Scheckter e o igualmente surpreendente Shadow DN3 de Jean-Pierre Jarier. Emerson, diante da gripe e da febre, pouco pôde fazer. Ficou em 13º lugar, com o mesmo tempo do companheiro de time Denny Hulme e dois décimos mais lento que Mike Hailwood. José Carlos Pace ficou apenas em 18º entre 27 pilotos autorizados a largar. Rikki Von Opel ficou de fora.

Na hora da corrida, o grid tinha 25 carros – dois a menos que o autorizado. Chris Amon enfrentou sérios problemas técnicos com seu Amon AF101 e Jochen Mass, com o semi-eixo quebrado no warm-up, não pôde largar. Dada a largada, num radioso dia de sol em Mônaco, Clay Regazzoni chegou à curva Ste. Dévote na liderança, com Lauda em segundo e Jarier em terceiro. E logo na subida do Cassino, uma colisão entre a BRM de Jean-Pierre Beltoise e o McLaren de Denny Hulme tirou vários pilotos de combate.

Além do Urso, Tim Schenken, José Carlos Pace, Brian Redman e Arturo Merzario sequer completaram a primeira volta. Vittorio Brambilla e Beltoise se arrastaram aos boxes, mas com danos insolúveis, abandonaram a disputa. Patrick Depailler também teve problemas – o motor não pegou para a volta de aquecimento – pois largou do fim do pelotão e passou em 15º lugar. Depois, perderia algumas voltas nos boxes.

Reduzido a 18 carros, o pelotão foi se dizimando mais e mais: na terceira volta, Hans-Joachim Stuck eliminou da disputa o outro March 741. Na passagem seguinte, François Migault danificou sua BRM e Vern Schuppan desistiu com problemas de freios em seu Ensign. Carlos Reutemann saiu na quinta volta e havia, assim, catorze competidores na prova.

Antes disto, Peterson chegara a ocupar o 3º lugar, ultrapassando Jarier. Mas o sueco cometeu um erro e caiu para sexto. Com 10 voltas, Rega e Lauda faziam a dobradinha vermelha, seguidos por Jarier, Jody Scheckter, Mike Hailwood e Peterson. Emerson, debilitado, vinha em oitavo – que virou 7º quando a McLaren de “Mike The Bike” estampou um guard-rail e o britânico deixou o brasileiro como o único piloto McLaren na disputa.

A partir daí, a grande estrela do GP de Mônaco tornou-se o carro #1 com as cores da John Player Special. Possuído, Ronnie Peterson deu seu show pessoal e rapidamente apanhou a Tyrrell de Scheckter, ganhando-lhe a quinta colocação. O líder Regazzoni também deu sua contribuição pessoal para a ascensão do nórdico na classificação da prova: rodou sozinho na vigésima-primeira volta nos Esses da Piscina e caiu para a quinta colocação.

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Para Ronnie Peterson, zebra sempre foi pista. Clay Regazzoni deve ter ficado impressionado com o sueco

Peterson alcançou logo o Shadow de Jarier e no duelo dos dois bólidos de cor escura, Ronnie levou vantagem sobre o francês, assumindo o 2º lugar e partindo à caça de Niki Lauda, o líder. Na 27ª volta, Scheckter tomou o terceiro posto de Jarier e Hunt, que vinha em sexto, desistiu com a transmissão quebrada, o que elevou Emerson à zona de pontuação.

O sueco da Lotus não precisou de muito esforço para assumir o primeiro lugar: na volta 33, o motor da Ferrari de Lauda teve uma pane, deixando o austríaco a pé. A partir daí, Peterson abriu confortável vantagem sobre Scheckter e Regazzoni, em contrapartida, jamais teve chance de superar Jarier e impedir o primeiro pódio do francês na Fórmula 1.

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Fittipaldi conquistou dois importantes pontos para o Mundial de Pilotos, mesmo com o carro não muito bom em Mônaco

Para Emerson, a corrida foi um tormento. Além do carro pouco competitivo e da debilidade em razão do resfriado, o brasileiro precisou se manter firme à frente de John Watson, que fez excepcional apresentação com um Brabham BT42 particular da equipe John Goldie Hexagon. Mesmo com uma volta de deficit em relação aos primeiros, Fittipaldi conquistou dois suados e importantes pontinhos no campeonato, como se verá mais adiante – aumentando seu total para 24 e mantendo com muito esforço a liderança do Mundial de Pilotos.

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Diante dos olhares de Grace Kelly (de chapéu), do Príncipe Ranier e da esposa Barbro Edwärdsson, Ronnie Peterson ergue o troféu da vitória no GP de Mônaco de 1974

Para Regazzoni, novo vice-líder com 22, restou o gosto amargo de uma derrota em decorrência de um erro infantil. E Peterson redimiu a Lotus, com uma atuação de gala, para conquistar a 5ª vitória dele na Fórmula 1 e provar que o velho Lotus 72E, construído em 1970, ainda tinha muita lenha por queimar na categoria.

O resultado final:

1º Ronnie Peterson (Lotus), 78 voltas em 1h58min03seg7, média de 129,941 km/h
2º Jody Scheckter (Tyrrell), a 28seg8
3º Jean-Pierre Jarier (Shadow), a 48seg9
4º Clay Regazzoni (Ferrari), a 1min03seg1
5º Emerson Fittipaldi (McLaren), a uma volta
6º John Watson (Brabham), a uma volta
7º Graham Hill (Embassy-Lola), a duas voltas
8º Guy Edwards (Embassy-Lola), a três voltas
9º Patrick Depailler (Tyrrell), a três voltas

Não completaram:

10º Henri Pescarolo (BRM), 62 voltas (caixa de marchas)
11º Jacky Ickx (Lotus), 34 voltas (motor)
12º Niki Lauda (Ferrari), 32 voltas (ignição)
13º James Hunt (Hesketh), 27 voltas (transmissão)
14º Mike Hailwood (McLaren), 11 voltas (acidente)
15º Carlos Reutemann (Brabham), 5 voltas (acidente)
16º François Migault (BRM), 4 voltas (freios)
17º Vern Schuppan (Ensign), 4 voltas (acidente)
18º Hans-Joachim Stuck (March), 3 voltas (acidente)
19º Jean-Pierre Beltoise (BRM), 1 volta (acidente)
20º Vittorio Brambilla (March), 1 volta (acidente)
21º Tim Schenken (Trojan), não completou a primeira volta (acidente)
22º José Carlos Pace (Surtees), não completou a primeira volta (acidente)
23º Brian Redman (Shadow), não completou a primeira volta (acidente)
24º Arturo Merzario (Iso-Marlboro), não completou a primeira volta (acidente)
25º Denny Hulme (McLaren), não completou a primeira volta (acidente)

Volta mais rápida: Ronnie Peterson, na 57ª – 1’27″9, média de 134,253 km/h

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