Esporte-Protótipos Inesquecíveis: Chaparral

RIO DE JANEIRO – O texano Jim Hall, nascido em 1935, completa 80 anos em julho. E nada melhor do que homenageá-lo do que retomar a série dos Esporte-Protótipos inesquecíveis com o projeto que entrou para a história do automobilismo pela quantidade de inovações nos diferentes modelos concebidos na década de 60: o Chaparral.

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1961: nasce uma lenda, o Chaparral 1

Chaparral, para quem não sabe (e eu não sabia, vivendo e aprendendo), é uma ave terrestre, um pássaro cuco capaz de atingir 32 km/h andando. É a inspiração do famoso Roadrunner, o papa-léguas do desenho animado que sempre atazanou o coiote Willie. Em 1961, nasceu o primeiro protótipo, o Chaparral 1, alinhado pela Troutman-Barnes. O próprio Jim Hall conquistou dois pódios com ele no primeiro ano: um 2º lugar na prova do SCCA em Laguna Seca e uma terceira colocação em Riverside.

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Criador e criatura: Jim Hall, além de projetista, foi o piloto de seus protótipos

No ano seguinte, vieram as primeiras vitórias, no circuito Road America, em Elkhart Lake – tanto na June Sprints como numa prova de resistência com 500 km de percurso, em que Hap Sharp dividiu a pilotagem com o piloto-engenheiro. E em 1963, a GM ofereceu não só suporte de engenharia como também de desenvolvimento técnico, incluindo aí o câmbio automático – novidade absoluta na época. As inovações renderam, contudo, poucos resultados: uma pole position em Riverside e um 3º posto em Laguna Seca.

O Chaparral ganhou a sigla 2A para a temporada de 1964, a mais prolífica e frutífera do carro, com vitórias em Pensacola, Laguna Seca, Watkins Glen, Meadowdale, Mid-Ohio, Laguna Seca e Nassau. A pilotagem foi revezada novamente por Jim Hall, Hap Sharp e também por ninguém menos que Roger Penske.

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Com o Chaparral 2A, dotado de motor V8 5,5 litros, Hall e Sharp venceram as 12 Horas de Sebring em 1965

Em 1965, veio uma consagradora vitória nas 12 Horas de Sebring, com Hall e Sharp partindo da pole position. Foi o primeiro grande triunfo do protótipo estadunidense e logo numa das mais importantes competições da Endurance mundial. Vieram, a reboque, outros 14 triunfos, fazendo o Chaparral 2A sair de cena como um dos grandes Esporte-Protótipos de seu tempo.

Para a temporada seguinte, Jim Hall sentiu-se desafiado a experimentar novos caminhos para a construção do novo Chaparral e veio a público o modelo 2D Coupé, totalmente fechado e com carroceria concebida em fiberglass, substituindo o alumínio. Esse carro estreou nas 24 Horas de Daytona, com os experientes Phil Hill e Joakim Bonnier, de sólidas campanhas na Fórmula 1. Hill, inclusive, vencera o Mundial de Pilotos em 1961. Após o 2º lugar no grid, abandonaram com problemas numa das rodas do Chaparral.

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Momento histórico: a vitória nos 1000 km de Nürburgring de 1966 em pleno Nordscheleife, com Joakim Bonnier e Phil Hill no lendário Chaparral 2D

Nas 12 Horas de Sebring, Sharp e Hall voltaram aos cockpits, mas abandonaram: problemas de suspensão traseira tirou os dois da corrida. E um vazamento de óleo também contribuiu para o abandono da dupla Bonnier/Hill. E duas semanas antes das 24 Horas de Le Mans, a glória: a primeira e impactante vitória do Chaparral em domínio europeu, batendo o Ford GT40, os Porsches e os protótipos Ferrari, nada mais nada menos que nos 1000 km de Nürburgring, no lendário Nordscheleife, sempre com Bonnier/Hill.

Em Sarthe, a dupla largou da 10ª colocação, mas uma quebra de bateria por volta de 23h45, hora local, fez o Chaparral 2D abandonar a prova após completar 111 voltas. Não seria a última aparição do protótipo nas pistas, pois em 1967 o carro voltaria nas 24 Horas de Daytona, com Bob Johnson/Bruce Jennings desistindo após um problema de câmbio.

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O sensacional modelo 2E: o primeiro carro de corrida concebido com elementos móveis, no caso um enorme aerofólio traseiro. Phil Hill tentou domar a fera na série Can-Am em 1966

No segundo semestre de 1966, o Chaparral voltou a ser Spyder e ganhou um enorme aerofólio traseiro – mais uma inovação de Jim Hall e uma contribuição tremenda para o automobilismo nos anos seguintes. O modelo 2E fez sua estreia em 18 de setembro daquele ano numa prova em Bridgehampton, terminando em 4º lugar. E ainda vieram duas vitórias, a primeira delas no Grande Prêmio de Monterey em Laguna Seca, prova válida pela série Can-Am. E a segunda em Nassau, nas Bahamas.

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A ideia aperfeiçoada: com o modelo 2F, outra vitória do protótipo ianque na Europa, durante os 1000 km BOAC em Brands Hatch, 1967

Com o uso do aerofólio traseiro como um componente crucial para o desempenho de seus protótipos, Hall aperfeiçoou a ideia no modelo de 1967: o 2F fez seu debute nas 24 Horas de Daytona, com Phil Hill e Mike Spence a bordo. A dupla largou em 2º na prova da Flórida, mas sofreu um acidente e danificou o chassis do carro. O 2F era muito veloz e podia correr com diferentes regulagens de altura da asa traseira, provando sua competitividade com pole positions nos 1000 km de Monza, Spa-Francorchamps e Nürburgring, em mais confrontos com os modelos europeus e com o Ford GT40. Mas faltava confiabilidade e as quebras sempre foram um empecilho para o bom andamento do projeto Chaparral 2F.

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O modelo 2G entrou nas pistas da Can-Am entre 1967 e 1968, oscilando bons e maus resultados

Mas havia ocasiões em que tudo dava certo e Jim Hall emplacou mais um triunfo contra a concorrência intercontinental. Com Mike Spence e Phil Hill a bordo do protótipo branco, o 2F venceu os 1000 km de Brands Hatch, disputados em 30 de julho. E na série Can-Am, o que era o Chaparral 2E virou o modelo 2G, com melhor desenvolvimento e um poderoso motor Chevrolet 427 V8 com 7 litros de capacidade cúbica. O carro conquistou dois segundos lugares em Laguna Seca e Riverside.

Em 1968, as criações de Jim Hall foram vistas apenas nos EUA, ainda na série Can-Am e no United States Road Racing Championship (USRRC). Os resultados de vulto foram um 3º posto em Laguna Seca (partindo da pole position), um 5º em Road America, um segundo posto em Bridgehampton e mais um terceiro lugar em Riverside.

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O Chaparral 2H foi um dos mais chocantes protótipos de seu tempo, com diversos elementos aerodinâmicos e um perfil ultrabaixo, contudo sem conseguir resultados de vulto

Os modelos mais impactantes da série Chaparral ainda estariam por vir: em 1969, o sucessor do 2G ganhou as pistas com a sigla 2H. Este bólido ultrabaixo, concebido para ter o mínimo de arrasto aerodinâmico e com uma espécie de bolha na lateral do cockpit, deixando o corpo do piloto parcialmente exposto aos torcedores, imprensa e fotógrafos, chegou apenas em 5º lugar numa prova da Can-Am em Mid-Ohio, como melhor resultado.

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Em Road Atlanta, Vic Elford comanda o pelotão à frente da lendária McLaren M8 de Denny Hulme: o Chaparral 2J tinha um motor auxiliar a vácuo e inovadoras minissaias. E foi o último projeto de Jim Hall, no ano de 1970

E em 1970, veio o derradeiro protótipo com a marca de Jim Hall, talvez o mais inovador de todos: o modelo 2J, concebido com um motor auxiliar a vácuo que debitava 45 HP e oferecia pressão aerodinâmica na base de 1,5 Gs. Não obstante, o Chaparral contava com uma minissaia de Lexan que aumentava o downforce do carro, oferecendo uma estabilidade abissal em curvas. Como resultado, o 2J era dois segundos mais rápido, por volta, que qualquer outro carro da Série Can-Am naquele ano.

Então bicampeão mundial de Fórmula 1, Jackie Stewart aceitou conduzir o bólido inovador em sua estreia, no circuito de Watkins Glen. O escocês voador fez o 3º tempo no grid, mas enfrentou problemas de freios e teve que desistir. Depois, foi o britânico Vic Elford quem conduziu o 2J em suas últimas aparições, com um 6º lugar em Road Atlanta e um abandono em Riverside.

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Ao mestre, com carinho: Gil de Ferran mandou pintar seu protótipo Acura ARX02b em 2009 de branco, na corrida que marcou a despedida do brasileiro das pistas, em Laguna Seca

A trajetória dos protótipos Chaparral acabou por aí. Mas o nome lendário voltaria às pistas e em grande estilo, ao final dos anos 70. Johnny Rutherford venceu as 500 Milhas de Indianápolis com o Chaparral 2K, projeto que contou com a colaboração de um certo John Barnard. Jim Hall voltou às pistas como dono de equipe e engenheiro, trabalhando inclusive com o brasileiro Gil de Ferran, que o homenageou – de forma justíssima, inclusive – em sua corrida de despedida das pistas no ano de 2009, pintando o Acura ARX02b da equipe De Ferran Motorsports de branco. Gil corria com o numeral #66 em outra homenagem a este gênio do automobilismo, chamado Jim Hall.

Comentários

  • Rodrigo , esse Protótipo Acura guiado pelo grande Gil já esta fora das pistas? Caramba que frente Nervosa desse carro Que projeto lindo, pena não te-lo visto em ação.

    • Há muito tempo, Lucas. Esse carro foi às pistas pela última vez em 2009, quando o regulamento ainda permitia os LMP1 na American Le Mans Series.

  • Rodrigo:

    Belíssima homenagem a um dos maiores gênios do automobilismo! E uma das marcas mais importantes no automobilismo americano na minha opinião.

    Sá achei que ficou faltando mencionar, mesmo que com uma nota minúscula e uma pequena foto, a homenagem feita pela GM US à Chaparral esse ano, através do protótipo do Chaparral 2X, feito para o jogo Gran Turismo 6.

    Abraço.
    ps: solta logo a próxima parte da história da Tyrrel! Essa séria das equipes históricas é fantástica!

  • Entre muitos , tem quatro nomes no automobilismo americano que tenho maior respeito e admiração que são : Jim Hall , Carol Shelby ,Dan Gurney e Phil Hill . Justa e merecida homenagem ao grande criador de “novidades” em carros de competição um dos pouquíssimos que eram pilotos acertadores (talvez só Hall, Mclaren e Brabham, pois eram pilotos dos bons e donos de suas equipes)