O dia de Nelsinho Piquet

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O choro de Nelsinho Piquet na volta de desaceleração ao fim da corrida da Fórmula E significou uma espécie de peso tirado das costas do piloto brasileiro

RIO DE JANEIRO – A primeira temporada da história da Fórmula E chegou ao fim neste domingo no Battersea Park, em Londres. Com o título carregado de simbolismo por um sobrenome que muito representa para o automobilismo brasileiro e mundial. Um título que é a volta por cima de Nelsinho Piquet no esporte a motor, por tudo o que ele passou desde o episódio do GP de Cingapura em que bateu de propósito no ano de 2008, para favorecer Fernando Alonso.

A conquista de hoje é a libertação de uma tonelada de peso que certamente o piloto carregava em suas costas. O peso de ter sido o único crucificado num episódio em que todos foram culpados e cúmplices ao mesmo tempo. Os fãs de Alonso que me perdoem, mas o espanhol passou impune e está aí, talvez pagando seus pecados na McLaren.

Nelsinho? Não teve perdão, viu as portas da F1 se fecharem e não perdeu tempo. Buscou outras alternativas, como piloto profissional que é, foi ser feliz noutras praias. E tem atingido seu êxito. Acabou como o último piloto anunciado para a nova categoria de carros elétricos e foi o piloto que mais teve resultados positivos na segunda metade do campeonato, culminando com vitórias em Long Beach e Moscou, afora outros três pódios. E o título, é claro.

A briga pelo título teve requintes de crueldade para todos os envolvidos. Nelsinho não tinha uma posição boa no grid por ter se classificado com pista molhada e precisou de uma estratégia diferenciada para ganhar posições num circuito difícil. Sébastien Buemi tinha a seu favor o moral elevado pelo triunfo no sábado, mas logo após a troca de carro acabou rodando. E Lucas Di Grassi, embora com chances matemáticas, nunca foi um fator neste domingo.

Fator mesmo, além da rodada – um ponto decisivo – foi o profissionalismo e o empenho de outro piloto que, por suprema ironia do destino, ajudou um sobrenome tão marcado pela rivalidade entre o tio de um e o pai do outro. Bruno Senna defendeu sua 5ª posição brilhantemente, sustentou a posição à frente de Buemi e ajudou Piquet a se consagrar campeão da Fórmula E.

A ficha – e as lágrimas – só caíram mesmo quando o rádio da equipe confirmou que o 8º posto dera ao piloto da China Racing o título. O vencedor Stéphane Sarrazin, logo depois, foi penalizado e perdeu o primeiro lugar ao piloto da casa, Sam Bird. Mas mesmo com todos os pilotos subindo posição – Buemi foi para quinto e Piquet para 7º – a matemática apontava 144 pontos para o brasileiro, 143 para o helvético.

Um ponto de diferença…

E mais uma coincidência entre duas gerações da família Piquet se fez presente neste ano: a vantagem de Nelsinho sobre Buemi é exatamente a mesma que marcou o primeiro título do pai sobre o argentino Carlos Reutemann, no Mundial de Fórmula 1 de 1981.

Comentários

  • Brilhante texto , Mattar!
    Nunca aceitei essa impunidade de Alonso, o grande favorecido pelo Cingapuragate.
    Não da pra engolir essa de que ele não sabia de nada, por que seria o mesmo que acreditar que ele fosse um completo alienado dentro da equipe!
    Ora, sabemos que estava longe disso.
    Outro fato que se esquece é que até o Gp da Alemanha o Nelsinho tinha resultados melhores que Alonso, inclusive um segundo lugar na Alemanha, o que já estava gerando insatisfação do espanhol , uma vez que seria a segunda vez consecutiva que estaria sendo vencido por um estreante ( vide Hamilton em 2007)
    Me lembro até de uma entrevista de Alonso menosprezando, visivelmente irritado, o podium de Piquet na Alemanha dizendo que havia sido um resultado circunstancial.
    Quanto a Piquet, pagou tudo o que devia, esportiva e moralmente.
    Aqueles que ainda hoje o condenam deviam relembrar que ao contrário de muitos, ele errou e pagou pelo erro.
    E como diz a letra: levantou, sacudiu a poeira e deu a volta por cima!
    Parabéns, é a maior conquista do automobilismo brasileiro desde o tricampeonato de Senna, haja vista ser uma categoria de fato internacional chancelada pela FIA!
    Daqui a 50 anos, quando talvez todos os carros sejam elétricos, vão sempre mencionar esse primeiro título da primeira categoria elétrica do automobilismo mundial!
    Tanto quanto hoje se lembra de Ninno Farina.

  • Parece que esses Piquets gostam de deixar a gente com o coração na mão! Não é mesmo Rodrigo!
    Parabéns Nelsinho! E também ao Velho Piquet!

  • rodrigo se não conseguiria por no seu blog o video das 2 corridas inteiras da formula e de londres,última rodada, com a bela narração de felipe motta e comentarios de thiago alves e flavio gomes se trabalha no fox se conseguiria por no seu blog o video das 2 últimas corridas da transmissão do fox sports?procurei no you tube as 2 corridas e só tem em narração inglesa, snif

    • Mattar, também não consegui ver a corrida ao vivo e tive que ficar acompanhando por twitter. Tentei verificar a programação da Fox para saber das reprises e não há, mandei um twett para a @foxsports_br e nada. Saberia me dizer se terá reprise da corrida e quando? Obrigado

      • renato tem no you tube as corridas inteiras de londres, as 2, mas infelizmente é em narração inglesa é, triste é o fox sports não disponibilizar no you tube a corrida final da formula e inteira, com a bela narração do felipe motta, uma pena isso, paciência

  • Rodrigo,

    Bom dia.

    Faz tempo que procuro entrar em contato contigo. Porém, não tenho rede social nenhuma por opção. Gostaria de ter teu email já que ajudo a organizar a Copa Classic aqui no RS e fui um dos organizadores de 2011 a 2014, alé de ser o piloto e preparador do único Ford Galaxie de corrida aqui no Brasil.

    Gosto da tua maneira de pensar sobre automobilismo e de como expor isso quando algum “Europeu” pergunta se a NASCAR não deveria usar cubo rápido em vez de 5 porcas nas rodas… heheheheh

    Bom, a respeito de alguns comentários sobre a Nascar em Sonoma, gostaria de dizer que me espantei com o conhecimento de alguns caras que responderam sobre a perda do eixo do dferencial.

    Tchê, na boa, os caras nunca andaram nem de Chevette e não conhecem o mínimo de mecânica. Eu conheço.

    A única maneira do eixo do diferencial sair montado com roda e sistema de freio, seja a disco ou tambor, é tendo uma falha no anél de retenção que fica no entalhado ou spline, ou nos dentes do eixo. este anél, de seção cilíndrica, tipo um arame redondo, fica pressionado em um rasgo no eixo ou no entalhado do eixo e segura o eixo contra uma das planetárias.

    Bom, só isso… Não tem nada de rolamento de roda que falha e puxa o eixo pra fora ou flange que ajusta cambágem e tal. A Nascar usa diferencial ou eixo traseiro como um Chevette, um Opala, um Maverick, um Dodge ou o meu Galaxie, que era usado a NASCAR em 1965, vermelho e branco, número #41 do Curtis Turner e por vários outros…

    OK?

    Se puder me passar teu email, agradeço… gostaria de participar das transmissões via email.

    Um grande abraço !

  • O título de Piquet foi ainda mais especial porque após a primeira corrida do sábado, muitos o descartaram e cravaram Buemi como campeão. Outro ponto muito positivo da categoria foram as cerimônias de pódio, com a participação do público e o clima de uma grande festa entre todos, destoando do ar carrancudo da F1…aliás, pelo jeito a categoria dos carros que não fazem barulho na verdade está “berrando” e incomodando muita gente, sobretudo aqueles que a ignoraram simplesmente por ser atração de outro canal mas agora tem de noticiar, de forma meio engasgada, o título mundial de mais um piloto com sobrenome Piquet.
    Para finalizar, mais uma vez parabenizo a equipe do Fox Sports, com a excelente narração do Felipe Mota e comentários do Flavio Gomes e Thiago Alves…transmissão com informação, focada na corrida e ao mesmo tempo descontraída, mas sem que a coisa vire uma esculhambação…no mesmo horário do início da transmissão, tínhamos a Copa Mercedes em um canal e ao final a Stock Car no “canal campeão”…ignorei as duas e assisti a FE.

  • Bom dia!
    Muito boa essa primeira temporada, óbvio que não foi perfeita (algumas pistas com corridas meio chatas), mas é uma categoria com todos os ingredientes para se tornar muito grande. Parabéns ao Nelsinho, ao Fox Sports e a Organização da F-E. Sensacional!!

  • Eu confesso que, quando vi o grid de domingo, desanimei. Resolvi assistir a corrida por puro desencargo de consciência. Rapaz, e que corrida dramática. Parabéns ao Nelsinho, por reconhecer seu erro, levantar a cabeça, e ter a humildade de começar de novo, praticamente do zero. Reconstruiu sua carreira, começou quietinho na categoria, foi crescendo quando precisou e se sagrou, merecidamente, campeão da temporada!

  • Cara, quase tive um treco esse FDS até a ultima volta da corrida, mas valeu pelo titulo do Muleke; A transmissão bem descontraída foi demais, com as presepadas do Flavio Gomes melhor ainda ………… rsrsrsrs.

  • Grande conquista!

    Ainda bem que temos em você uma das poucas vozes que lembram que Alonso certamente estava metido no rolo e, como bem explanado, quem sabe pagando seus pecados agora na McLaren.

    Quanto a corrida. A pista era muito ruim! Muita ondulação e muito estreita. Uma pena…
    Mas, mesmo com aquela pista podre, a corrida foi legal. O duelo B. Senna X Buemi na última volta mesmo. sensacional!!! Parecia que corriam com tanques de guerra, tamanha a quantidade de pancada que se deram, hehe.

    Alias, uma prova de que o grande problema da F1 hoje são esses carros com muita aerodinâmica, quando precisariam se apoiar mais na estabilidade mecânica e com isso permitir andar mais juntos e com mais disputas.

    Abraço!

  • Mattar, vc é o jornalista que melhor descreve os acontecimentos da F-E, sempre discorre bem sobre o assunto, ao contrário de muitos que apenas citam a categoria e fim. Eu como fã da nova F-E, peço que você seja o portador das informações mais relevantes da categoria, uma vez que vc faz tão bem o mesmo com outras.

    Parabéns!

    Abraço!

  • Quando o assunto é automobilismo torna-se impossível discordar de você. Você é uma sumidade no assunto. Sempre expondo a sua opinião embasada no seu amplo conhecimento e numa clareza impressionante..
    Parabéns!

    • Quem quiser, Alexandre, pode discordar. Desde que com justeza de argumentos. Com ofensas, não é argumentação, é agressão. Cansei de ser ofendido e mal interpretado.

  • Merecido título, pode não ser um piloto pra ganhar titulo de F-1 mas tem talento e valor.
    Nelsinho não me desperta nenhuma simpatia (certamente não sou o único). Não tanto pelos acontecimentos de Cingapura, mas pelas declarações infelizes e gratuitas – a exemplo do pai, Nelsão. Me lembro de uma vez, acho que foi quando Nelsinho ganhou uma prova da Nationwide Series em Elkhart Lake que, do nada, saiu disparando contra Emerson Fittilpaldi, dizendo que este viva se autopromovendo, que gostava de aparecer e não sei o que mais. Quer dizer: completamente estúpido e gratuito.
    Talvez não seja, por acaso, que não seja muito bem quisto entre seus colegas de profissão, como indica a desavença com Di Grassi.
    Mas voltando para dentro da pista que é o que mais importa no momento, a verdade é que fez um ótimo trabalho, mostrou, mais uma vez, talento.

  • O Nelsinho para mim é o melhor dos que não conseguiram carreira na F1,o problema foi que ele entrou na F1 na equipe certa mas no momento errado,o Alonso para voltar s decadente Renaut pediu todos os privilégios e foi atendido deixando poco espaço para o brasileiro fazer seu trabalho e sendo pressionado pelo Briatore e com o desejo de uma certa independência em relação ao seu pai que até então dirigiu sua carreira acabou se sujeitando ao jogo sujo,lembro que o Moreno também sofreu com o Briatore que nunca vacilou em acabar com a carreira de quem não caia na sua graça,a Nascar é uma grande opção profissional mas não favorecem kartistas como o Nelsinho,a F E permitiu que reabrissem portas que estavam fechadas.Quanto ao campeonato que o Boemi e sua poderosa equipe eram favoritos e o Di Grassi teve a vantagem de estar ligado desde a criação da categoria,o Nelsinho e sua equipe foram os mais constantes e inteligentes ficando fora dos problemas que custaram pontos importantes dos seus rivais passando de coadjuvantes para lideres durante o campeonato e foram os justos campeões

  • Caro Rodrigo, parabéns pelo texto. Muito enfático e claro na exposição de seus argumentos. (…) Como vimos nesses anos, onda de choque oriunda do “Cingapuragate” só atingiu com força mesmo Piquet. Mas, agora, inegavelmente Nelsinho deu a volta por cima. Gostando dele ou não, é bom ver quando alguém se supera e contrária todas as perspectivas, por mais negativas que elas sejam. Certamente, muitos deram como finalizada a carreira de Piquet, que na época tinha de 22 para 23 anos. O que vimos ontem, foi o resultado de alguém que soube recuperar seu valor, diante da pressão. Mas, não só isso. Também, alguém que aceitou as consequências de seus erros. E utilizou isso para cresce, em todos os sentidos. Quanto ao seu comentário sobre Alonso, não mudo uma vírgula. Definição das mais sensatas e justas.
    Mas está aí, e agora é fato indelével. Nelsinho escreveu seus nome na história. Se outrora por aquele ato desprezível, hoje por consequência de seu talento e trabalho.

  • Bom demais ver o Nelsinho dar a volta por cima dessa maneira. Não fosse a politicagem e as sacanagens de bastidor quem sabe ele não teria conseguido ter sucesso na F1.