Pequenas maravilhas, especial Le Mans: Mazda 787B (1991)

SAM_1411

RIO DE JANEIRO – Contribuição mais do que valiosa do Fernando Rodrigues Lima para a série especial de miniaturas dos carros que competiram nas 24h de Le Mans. Eis aquele que é considerado o vencedor mais surpreendente dos últimos 30 anos: o protótipo Mazda 787B que ganhou a edição de 1991 em duas versões de miniatura – em 1:64, produzida pela Kyosho e em 1:43, pela Ixo.

A Mazdaspeed inscreveu naquele ano três protótipos 787B com motor Wankel R26B de quatro rotores. Com 2,6 litros de capacidade cúbica, alcançava 700 HP de potência. Projetado por Nigel Stroud, antigo designer da ATS na Fórmula 1, o bólido tinha câmbio Mazda/Porsche de 5 marchas e pneus Dunlop, com peso mínimo de 845 kg. Os japoneses eram conhecidos pelo barulho característico do propulsor, que faz até hoje a delícia dos fãs de automobilismo. O motor Wankel não roncava – simplesmente berrava, lindamente, pelas retas e curvas de Sarthe.

No carro #55, estavam dois pilotos que competiram parcialmente na Fórmula 1 em 1991: o britânico Johnny Herbert (que colaborava com a Lotus) e o franco-belga Bertrand Gachot (que começou o ano pela Jordan, foi preso por agredir um taxista com spray de pimenta e depois de solto, ainda andou de Larrousse), aos quais se juntou Volker Weidler, de passagem apagada pela já extinta Rial, dois anos antes. No carro #18, estava o brasileiro Maurizio Sandro Sala, ao lado do britânico David Kennedy e do sueco Stefan Johansson. E no #56, foram inscritos Pierre Dieudonné/Takashi Yorino/Yojiro Terada.

mazda_787b_lemans_1991_2

O grande obstáculo da performance dos Mazda seria o alto consumo de combustível e naquela época em que o Grupo C vivia os últimos anos de sua época gloriosa, os 787B foram beneficiados por não ter restrição quanto à quantidade de gasolina usada ao longo da disputa. Isso fez com que os japoneses alcançassem uma vitória até hoje inédita, derrotando o Jaguar XJR-12 de Raul Boesel/Davy Jones/Michel Ferté, que corria o risco de sofrer pane seca se atacasse o bólido nipônico no final da prova.

Por força da regra vigente, mesmo com o tempo de 3’43″503 no treino classificatório, melhor que oito carros com motores aspirados de 3,5 litros, o Mazda de Weidler/Gachot/Herbert largou da 19ª colocação de um grid de 38 carros. O #55 esteve entre os dez primeiros a partir da segunda hora e só assumiu a liderança de forma definitiva ao fim da 22ª hora, desbancando o Sauber-Mercedes #1 de Jean-Louis Schlesser/Jochen Mass/Michel Ferté, alijado da disputa por um superaquecimento após completar 319 voltas.

O Mazda campeão fechou a prova de 1991 com 362 voltas percorridas, duas à frente do Jaguar de Boesel e quatro à frente da trinca Teo Fabi/Kenny Acheson/Bob Wollek, noutro XJR-12 alinhado pela equipe chefiada por Tom Walkinshaw.

Comentários

  • Fico imaginando ,se não fosse a proibição ,poderia-se ter evoluído mais na engenharia deste propulsor ,talvez até resolvido o problema de auto consumo e desgaste das palhetas dos rotores , poderia até haver a possibilidade de colocar um turbo (até elétrico ) que provavelmente permitisse amentar o giro e ter ganho de potência e torque .

    Rodrigo ,poderia dizer qual o motivo alegado para a proibição dos motores ciclo Wankel , pois não era um motor ,tipo assim “Imbatível ” pelos motores a pistão .

    • Porque é muito difícil estabelecer uma equivalência de cilindrada entre motores convencionais e o Wankel.

      Imbatível não era, tanto que venceu as 24 Horas de Le Mans porque a Mazda alegou que não era competitiva e pediu uma licença pra correr sem o lastro de 200 quilos. No fim das contas, por pressão, todo mundo aceitou o arrego, o carro ficou mais leve, mais rápido, e com menor consumo. Basicamente tudo que você precisa pra ganhar uma corrida de longa duração.

      Rodrigo, seria legal esclarecer também que esse carro aí correu fora do regulamento. Rola um endeusamento muito grande em cima desse Mazda por causa do motor e do ronco, mas a verdade é que ele não era competitivo e se não fosse a pressão do Ickx, teria competido com o mesmo peso dos adversários e não teria vencido.

      Para quem tem curiosidade, dá uma olhada nas outras etapas do WSC daquele ano, em que o Mazda competiu com as mesmas especificações dos outros carros do Grupo C. Se não me engano, o melhor resultado do 787 foi um quinto lugar…

    • Não foi irregular. Ele se beneficiou de uma brecha no regulamento, que previa um consumo de combustível menos excessivo do motor com pistões rotativos em relação aos seus adversários.