Em memória de Jules, a melhor do ano

RIO DE JANEIRO – A Fórmula 1 fez uma homenagem a Jules Bianchi antes, durante e depois da corrida deste domingo. O GP da Hungria superou qualquer outro do ano em matéria de imprevisibilidade e ainda sobrou troco. Disparada, a melhor prova de 2015, à altura do que o público e os fãs de automobilismo merecem. Para culminar, foi a primeira corrida nas últimas 29 sem a Mercedes-Benz com qualquer um de seus dois pilotos no pódio. E a primeira em toda a história só com pilotos ligados à Red Bull.

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Vettel e toda a equipe Ferrari dedicaram a vitória no GP da Hungria à memória de Jules Bianchi (Foto: AP/Grande Prêmio)

Pois o vencedor deste surpreendente GP da Hungria foi Sebastian Vettel, com a Ferrari. Vitória que começou a se desenhar numa largada extraordinária não só do alemão como também de Kimi Räikkönen, o que contribuiu para deixar Lewis Hamilton nervoso a ponto de vermos o britânico errando desde a primeira volta, o que lhe fez cair para a 10ª posição.

Verdade seja dita que a corrida só pegou fogo quando Nico Hülkenberg, que fazia uma boa corrida, foi traído pela fragilidade de sua Force India. Num incidente que guardou semelhanças com a estranha quebra de suspensão da Ferrari de Rubens Barrichello na corrida de 2003, o alemão passou por cima do aerofólio dianteiro, que se desprendeu por completo. Hulk bateu forte na pilha de pneus e saiu meio grogue de seu carro. Aí entraram em ação primeiro o Safety Car virtual e depois o Safety Car à vera, pondo fogo na corrida.

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O insólito acidente de Nico Hülkenberg fez a corrida pegar fogo após a entrada do Safety Car (Foto: reprodução Twitter)

Hamilton, já desnorteado pela ausência de domínio de sua Mercedes, jogou sua corrida fora quando não deu espaço a Daniel Ricciardo após a relargada. Partindo do mesmo princípio que deu a Pastor Maldonado a primeira de muitas punições que dão ao venezuelano o direito de pedir música hoje no Fantástico, os comissários mandaram o líder do campeonato cumprir um drive-through. Quase ao mesmo tempo, Verstappen tocou no pneu traseiro da Williams de Valtteri Bottas e tirou o finlandês de esquadro. O holandês da Toro Rosso mais tarde seria punido, mas não por esse acontecimento e sim por ter “acelerado demais” no período de Safety Car.

Com a quebra da Ferrari de Räikkönen, que vinha se queixando de perda de potência, Rosberg vislumbrou uma ótima oportunidade para se aproximar do companheiro de equipe, mas além de errar na escolha dos pneus quando o Safety Car entrou na pista, não tomou a iniciativa de tentar alguma coisa contra Vettel. Foi punido pela falta de ousadia: Ricciardo partiu para dentro do alemão e os dois se tocaram. Nico levou a pior na disputa e nesse episódio os comissários agiram dentro de um nível de bom-senso. O incidente foi analisado e ninguém foi considerado culpado. Normal. Segue o parador.

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A primeira vez não se esquece: Kvyat é o 206º piloto a subir ao pódio pelo menos uma vez, conquistando o melhor resultado de um piloto russo na Fórmula 1 (Foto: AP/Grande Prêmio)

E para culminar uma corrida bem louca, a Red Bull deu um direto de direita na Renault: fez 2º e 3º numa ótima performance não só de Ricciardo, que lutou muito na pista como também do jovem piloto russo Daniil Kvyat. Para os compêndios, ele é o 206º na história a subir a um pódio e o segundo representante de seu pais (o primeiro foi Vitaly Petrov, no GP da Austrália de 2011). De quebra, o melhor resultado de um conterrâneo de Vladimir Putin na Fórmula 1.

Mesmo punido e tendo o bico de seu Toro Rosso quebrado, Max Verstappen também não tem do que se queixar. Conseguiu a 4ª colocação, melhor resultado em sua curta trajetória na categoria, quase alcançando o feito do pai Jos “The Boss”, 3º colocado lá mesmo na Hungria, há 21 anos atrás. Foi o melhor resultado de um piloto da ex-Minardi desde a quarta posição de… Sebastian Vettel, no GP do Brasil de 2008.

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Excelente: Fernando Alonso carregou sua McLaren Honda ao 5º lugar. “Foi um prêmio”, disse o piloto (Foto: AP/Grande Prêmio)

E a corrida do Alonso? Rapaz… o espanhol fez milagre com a McLaren Honda neste domingo. Vindo de 15º após não marcar tempo no Q2 em decorrência de um problema mecânico, o asturiano conseguiu um comemoradíssimo quinto posto, o melhor resultado dele e da equipe em 2015.

“Foi um presente para nós, nunca esperamos ficar na quinta colocação. Mas a corrida foi errática em algumas partes e algumas pequenas oportunidades chegaram a nós, que soubemos maximizar bem. Pegamos tudo que estava disponível e fizemos um bom resultado indo para o recesso de verão. Sabemos que o carro está melhorando, estamos nos tornando mais competitivos, mas é sempre bom subir e colocar alguns pontos na tabela”, disse em entrevista à rede de TV inglesa Sky.

Mais encorajador para a equipe de Ron Dennis e para os japoneses é que os dois carros terminaram juntos na zona de pontos também pela primeira vez no ano, já que Jenson Button chegou na 9ª posição. Foi ou não foi um GP da Hungria interessante?

Para os brasileiros, uma prova para esquecer, embora Felipe Nasr tenha chegado perto dos pontos, com o 11º lugar. Massa foi punido, teve problemas e não fez uma boa corrida, terminando logo atrás do compatriota, na décima-segunda posição, numa pista desfavorável ao chassi do Williams FW37.

Mais alguns fatos do GP da Hungria: Vettel alcançou sua 41ª vitória na carreira, igualando o total de Ayrton Senna. O que faz do piloto da Ferrari o 3º maior vencedor da categoria e o maior vencedor em atividade (já o era desde 2013, inclusive), superando Lewis Hamilton em três triunfos. Outra: Vettel e Alonso agora estão rigorosamente empatados como os maiores pontuadores da história. Ambos somam 1778 pontos na carreira, mas a média de Vettel é melhor porque o alemão tem menos corridas no currículo que o espanhol.

A Alessandra Alves, querida colega que comenta – e muito bem – as transmissões da BandNews FM é que tem toda razão. Pista velha é que faz corrida boa. Quando vejo o calendário e noto que as próximas são Spa-Francorchamps e Monza, esfrego as mãos de ansiedade.

A Fórmula 1, quando quer, mostra porque é a categoria top do automobilismo mundial. Pena que aí vem as pistas de Cingapura, Sochi e Abu Dhabi na reta final da temporada…

Comentários

  • (Permita-me um acréscimo)
    Faltou apenas citar na sua narrativa que o último nos pontos foi justamente Marcus Ericsson, o limitadíssimo sueco companheiro de Nasr na Sauber. . .prova de que o brasileiro, incensado por muitos como a “nova promessa”, ainda precisa “comer muito feijão-com-arroz” para pensar em pleitear uma vaga entre os bons, coisa que parte da imprensa brazuca, ufanista como sempre, já tem feito, inclusive jornalista especializado que mais parece ser acessor de imprensa da figura. . .falaséééério!

    PS: pela quantidade de erros em sequência que Hamilton vem cometendo, parece até principiante, sonha injusto o mesmo estar à caminho do tri. . .
    PS2: sorte dele que Nico consegue ser pior. . .poderia ter vencido mas. . .

  • Se o Massa largar como ontem na próxima corrida vão falar que ele só estava largando bem por auxilio do sistema de largada, vão esquecer que o cara quase sempre larga bem! Parece que com a morte de Bianchi, Massa se abalou a ponto de até posicionar o carro de forma errada no grid! Já o Nars, continuar na Sauber deve tê-lo abalado a ponto de tomar pau do Ericsson!

  • Bela corrida. O australiano mostra mais uma vez que é um excelente piloto, o único dos atuais talentosos que não tem medo de gastar borracha.

    A F1 se tornou tão conservadora com a falta de emoção que até confundiu o narrador ao julgar excessiva as belas manobras de Riccardo. Sorte pois ali do seu lado havia um piloto para relembra-lo que o automobilismo não anda sobre trilhos e a agressividade dentro do bom senso é o ingrediente principal da emoção.

    Que zica do Raikkonen =(

    • Concordo excelente a manobra de Riccardo, automobilismo é isso.. capitão Amilton tb mostrou isso diferente do seu companheiro de equipe que parece esta em um carrinho de autorama, quanto a Massa nada a declarar