Equipes históricas – Tyrrell, parte XXVI

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Elegante e bem concebido por técnicos de aerodinâmica e engenheiros, o modelo 022 foi o carro da Tyrrell temporada de 1994

RIO DE JANEIRO – O péssimo ano de 1993, o pior da história da equipe até aquela data, fez a Tyrrell repensar tudo para a temporada seguinte do Mundial de Fórmula 1. Sem ter que pagar pelos motores Yamaha V10, a equipe britânica apenas exigiu melhorias mecânicas porque a parte dela, na pista, ela tentaria cumprir com um carro melhor que o antecessor.

A novidade era a volta de Harvey Postlethwaite ao posto de diretor técnico, após a fracassada experiência com George Ryton e Mike Coughlan. Da Ferrari, veio Jean-Claude Migeot para coordenar os trabalhos de pesquisa aerodinâmica. E o jovem engenheiro Mike Gascoyne, então com 31 anos apenas, desenhou o novo carro sob a supervisão de Postlethwaite. Nasceu o modelo 022, para receber a unidade OX10B desenvolvida em Rugby e projetada por John Judd. O carro foi apresentado na cor branca, remontando aos tempos da equipe no início e meados dos anos 80.

Apesar dos maus resultados e da fama de trapalhão, Ukyo Katyama foi mantido para mais uma temporada graças ao fato de ser japonês feito a Yamaha e aos patrocinadores de seu país – um deles, os cigarros Mild Seven, que também estampavam seu nome na cada vez mais forte Benetton. Para o lugar de Andrea De Cesaris, foi chamado Mark Blundell, que fizera um bom trabalho na Ligier em 1993 ao lado de Martin Brundle.

Com o novo regulamento, que apresentava o retorno dos reabastecimentos e o fim do excesso de eletrônica, culminando com a extinção de suspensões ativas e demais perfumarias, a Tyrrell estava bastante otimista quanto às suas possibilidades. O bom desempenho do 022 nos testes de pré-temporada só aumentou as expectativas.

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Ukyo Katayama surpreendeu positivamente no início do campeonato

E elas foram confirmadas logo de cara, na abertura do campeonato com o GP do Brasil em Interlagos. Os dois pilotos largaram em posições bastante razoáveis e embora a corrida de Blundell tenha terminado com apenas 21 voltas, Katayama seguiu firme e rápido. Foi o sétimo piloto mais rápido da corrida e chegou em 5º, para somar seus dois primeiros pontos na carreira e começar de forma promissora o ano para a tradicional escuderia britânica.

No travado circuito de Aida, sede pela primeira vez do GP do Pacífico, Blundell foi levado de roldão no toque entre Ayrton Senna e Mika Häkkinen logo na primeira curva, sobrando também para a Ferrari de Nicola Larini. Katayama vinha em 14º lugar quando o motor de seu carro teve problemas e o japonês foi obrigado a abandonar. O tristíssimo GP de San Marino viu a volta de Ukyo aos pontos após uma excelente atuação que se desenhou – aliás – desde os treinos, quando classificou-se em nono no grid. Blundell recebeu a quadriculada pela primeira vez no ano, completando em 9º lugar.

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Festejando com Schumacher e Hill ao fim do GP da Espanha: o pódio de Blundell seria o último da história da Tyrrell na Fórmula 1

Em Monte-Carlo, o britânico conseguiu classificar-se pela primeira vez à frente do companheiro de equipe num grid de largada. Mas nem Blundell e muito menos Katayama chegaram ao final do GP de Mônaco. Na corrida seguinte, em Barcelona, Mark foi beneficiado pelo problema na McLaren Peugeot do amigo, ex-companheiro de Brabham e Ligier e compatriota Brundle. E conquistou um inesperado 3º lugar, que o tempo encarregaria de consolidar como o 77º e último pódio da história da Tyrrell na categoria. Katayama abandonou após 16 voltas, com problemas mecânicos.

No Canadá, nem a introdução de uma abertura acima do cofre do motor dos carros, para restringir potência e velocidade dos Fórmula 1, medida adotada após as mortes de Senna e Ratzenberger em Imola, afora os assustadores acidentes que permeavam testes e treinos classificatórios – os últimos de Karl Wendlinger e Andrea Montermini – tirou dos Tyrrell 022 o bom desempenho. Katayama foi de novo muito bem nos treinos, mas acabou alijado da disputa por um novo problema mecânico. Blundell vinha em 9º lugar perto do fim, quando despistou-se e desistiu.

Em Magny-Cours, os dois tiveram o pior desempenho em treinos até ali: 14º para Katayama e 17º para Blundell. Não foi uma boa corrida para nenhum dos dois pilotos. Enquanto o japonês ficou de fora mais uma vez por um problema em seu carro, Blundell ficou entre os últimos desde o início, conseguindo recuperar de 22º para décimo e último entre os que terminaram, com cinco voltas de atraso em relação ao vencedor Michael Schumacher. No GP da Inglaterra, foi o câmbio que traiu o britânico, que tinha pretensão de fazer bonito diante de seus torcedores. Katayama voltou a somar pontos e terminar uma corrida após um jejum de quatro etapas: acabou em 6º, beneficiado pela posterior desclassificação de Schumacher, numa corrida permeada por muita polêmica – entre tantas daquele ano de 1994.

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Já pensaram? Katayama, se não abandonasse, poderia chegar em 2º no GP da Alemanha…

No GP da Alemanha, a Tyrrell voltou a andar bem nos treinos, beneficiada por uma evolução do motor Yamaha V10 que possibilitou a Katayama um espetacular 5º tempo no grid e o sétimo lugar a Blundell. Se a corrida do britânico foi para o ralo na múltipla colisão da primeira curva – culpa de Mika Häkkinen, foi um problema de acelerador (seguido de uma rodada) que deitou por terra a extraordinária performance do japonês, que vinha no início logo atrás de Gerhard Berger e Michael Schumacher, que depois abandonaria.

Não fosse isso, Ukyo, quem sabe, podia ter sido 2º, já que estava à frente de Olivier Panis quando desistiu. Já pensaram?

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Após o pódio na Espanha, Blundell voltou a somar pontos na Hungria e na Bélgica

Vida que segue e no GP da Hungria, largando novamente de 5º, Katayama durou pouco na corrida, pois se envolveu num entrevero com as Jordan de Rubens Barrichello e Eddie Irvine. Blundell foi bem melhor e terminou justamente em quinto, voltando a marcar pontos após o pódio na Espanha. Em Spa, no GP da Bélgica, o britânico foi de novo o 5º colocado após mais uma desclassificação de Michael Schumacher – daquela vez porque o fundo de madeira instalado em sua Benetton apresentava um desgaste maior que o permitido. Katayama abandonou de novo.

Na pista de Monza, os dois pilotos da Tyrrell vinham embolados com o brasileiro Rubens Barrichello na metade final da disputa e bastante próximos. Blundell era sétimo quando desistiu com problemas de freios e Katayama, que vinha em quinto e à frente do piloto da Jordan, também enfrentou o mesmo problema e rodou a oito voltas da quadriculada. Em Portugal, por um problema antes da largada, Katayama perdeu o 6º lugar no grid e teve que largar de último. Acabou abandonando aquela corrida com uma falha no câmbio. Blundell esteve perto da zona de pontos, mas uma falha de motor o fez desistir na 61ª volta.

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Um ano bem razoável: mesmo com altos e baixos, a Tyrrell fechou o ano de 1994 com o 6º lugar no Mundial de Construtores

O GP da Europa, em Jerez de la Frontera, foi o único em que os dois pilotos conseguiram chegar juntos ao fim. Largando da sétima fila, Katayama andou bem e chegou em 7º, perto de mais um pontinho no campeonato. Blundell foi mais discreto e completou em 13º lugar. No Japão, debaixo de forte chuva, Ukyo foi traído pelo aquaplaning e bateu com o compatriota Taki Inoue logo no início. Mark desistiu por problemas de motor. A última corrida foi o GP da Austrália e de novo nenhum dos dois terminou. Katayama vinha em 11º quando teve problemas e Blundell era oitavo até se acidentar em sua última corrida pela equipe.

No fim das contas, até que a temporada de 1994 foi bem razoável, com direito ao 6º lugar no Mundial de Construtores com 13 pontos, igual a Ligier e melhor que a Sauber, que tinha todo o apoio e o dinheiro da Mercedes-Benz, afora a superioridade em relação à Footwork, que começara o ano no mesmo nível da Tyrrell – sem contar Minardi, Larrousse, as estreantes Simtek e Pacific e a outrora pujante Lotus, que vivia seus últimos dias.

Próximo capítulo: o ano de 1995.

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