Bye bye, Playboy

RIO DE JANEIRO – As (poucas) leitoras do blog que me perdoem, mas não há como não me manifestar quando a gente sabe do fim de um ícone de toda uma geração. Após 40 anos, mais de 400 edições nas bancas, a Playboy brasileira sai de cena. Como costumo dizer nas redes sociais, o bloco dos “Filhos de Onan” veste luto de três dias e lamenta a perda, tal como a morte de um ente querido.

Sei que muitos de nós, homens, compramos Playboy com a desculpa das entrevistas – algumas delas, muito boas. Diversas, históricas. Lembro de uma do Tim Maia ao Ruy Castro que me fez rir do começo ao fim com as porralouquices do “Síndico”. Foi graças a uma entrevista para a publicação masculina que Nelson Piquet virou persona non grata na Ferrari. Também pudera: chamou o Comendador Enzo de “velho gagá” – e será que o piloto achou que a entrevista nunca chegaria em terras europeias?Entre outras personagens, algumas relevantes, outras nem tanto, as entrevistas foram uma grande atração por décadas e décadas.

1985-11
A primeira Playboy a gente não esquece. Esquece?

Claro, havia as mulheres. Quem nunca quis folhear uma Playboy, que atire a primeira pedra! Quando se tem menos de 18 anos, então, a busca pelo proibido é mais deliciosa. Eu não me vexei e pedi pra um adulto comprar uma pra mim, quando eu tinha 14 pra 15, se não me engano. A primeira Playboy que vi na vida foi com Márcia Dornelles, capa em novembro de 1985. Essa aqui acima.

Playboy que, registe-se, não começou com este nome. O primeiro título, em 1975, foi Homem. Era a época da ditadura, de forte censura e toda nudez, já dizia Nelson Rodrigues, era castigada. Mulher pelada, só na pornochanchada ou nos cinemas. Mas o pessoal da Editora Abril conseguiu os direitos com o proprietário Hugh Hefner e, não mais que de repente, em 1978 Homem virava Playboy. Para quem achou que ali começava o festival de nudez, ledo engano: era um peitinho aqui, um bumbum acolá e estávamos conversados.

1978-07
Tal como os dinossauros, no início, Playboy era “Homem”. E essa é a capa da edição de julho de 1978, quando, do nada, “Homem” virou Playboy

Nu frontal, nem pensar. Só que a abertura do governo de João Figueiredo trouxe bem mais que a “anistia ampla, geral e irrestrita”. Trouxe mulheres, aos baldes, irresistivelmente nuas e gostosas, a partir de 1980. Um sem fim de musas da minha geração desfilou em capas e edições inenarráveis. Felizmente, mulheres com tudo em cima, naturais, como tinha de ser, sem as falsidades de hoje que incluem litros de silicone, hidrogel, preenchimento labial e outras perfumarias que tornam o sexo feminino cada dia menos atrativo aos olhos dos homens.

A Playboy brasileira, em 40 anos, criou ícones, ditou moda, trouxe a beleza da mulher de mais de 40 e, mesmo num país de tamanha diversidade, ofereceu poucas capas para negras e/ou mulatas. Um acinte. Dá para contar nos dedos quantas revistas tiveram a beleza negra nas bancas. E com a decadência da Editora Abril, a própria Playboy veio decaindo de qualidade – a olhos vistos e de forma assustadora.

1999-10
Em 1999, Ângela Vieira mostrou que a beleza de uma mulher vai além dos quarenta

Até não surpreende que a revista venha a conhecer seu fim, pelo menos até outra editora negociar com o velho Hefner, que aos 89 anos deixou que a própria publicação nos EUA – acreditem, se quiserem – não publique mais fotos com mulheres nuas. Sim, a concorrência com a internet é cada vez mais desleal, mas uma notícia dessas assim, tão de repente, é um claro sinal de que o mercado editorial no Brasil vai de mal a pior.

A última edição é em dezembro, dizem. E se é para a Playboy sair de cena em grande estilo, por que não convidam a Maitê Proença? Afinal, não foi ela que prometeu uma nudez se o Botafogo subisse para a Série A do Campeonato Brasileiro? A hora é agora.

Agora ou nunca mais. Bye bye, Playboy.

Comentários

  • E a Playboy brasileira se vai. Pelo menos, na era Editora Abril, pois sei que a Editora Globo está em negociações adiantadas com os detentores da marca Playboy para continuar a publicação em terras tupiniquins. Mas confesso que não estou triste com essa notícia, pois já não me interesso pela revista há muito tempo. Acho que comprei minha última Playboy há uns 8 anos. Infelizmente, a mulher brasileira “padrão” – pelo menos as que estão em voga na mídia e que saem em publicações masculinas – está siliconada, bombada e tatuada. Não vemos mais mulheres naturais como nos anos 1980 e 1990. Para um chato de galochas e exigente como eu, é difícil essa realidade.

  • Maitê 100%.

    Prometeu… vai ter que cumprir.

    Poderiam até colocar um DVD junto da última edição com as filmagens do processo fotográfico, da escolha das fotos, etc…

    Aí sim seria além de emblemático, histórico.

    Vai Maitê vai ! heheheheeheh